Rio - Com o fim do impedimento para a venda de produtos de conveniência nas farmácias e drogarias do país, o varejo farmacêutico está se preparando para mudanças que vão do mix de produtos ao atendimento a clientes, passando pela metragem das lojas, que, afirma o presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto, irá transformar os estabelecimentos brasileiros em verdadeiras drugstores. Barreto destaca o dia 26 de agosto último como o marco para a mudança deste mercado, com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que considerou constitucional todas as leis estaduais complementares à lei 5991, de 1973, que permitiam a venda de produtos além de medicamentos e cosméticos, mas que vinha sendo contestada por órgãos como a Anvisa.
“Houve uma interpretação errônea da lei 5991, que é muito antiga. Os estados foram criando suas leis para que a venda de produtos de conveniência fossem liberados mas isso deu início a uma verdadeira disputa judicial, agora encerrada. O nosso setor sempre conviveu com embates ideológicos. Agora, teremos uma nova postura do setor no país”, diz ele.
Com o aumento do mix de produtos, as lojas ficarão maiores, explica Barreto, e poderão também oferecer serviços complementares aos consumidores.
“Isso é comum e normal em países como os Estados Unidos. Enquanto as farmácias aqui têm formatos em torno de 250 metros quadrados, lá, podem passar de mil metros quadrados. Elas são uma conveniência e também um centro de saúde para o paciente”, destaca o presidente da Abrafarma.
Para que esse movimento possa acontecer no Brasil, é preciso discutir a regulamentação, tanto da venda de produtos, quanto da maior capacitação de farmacêuticos para a prestação de serviços e atendimento aos consumidores.
“Vai ser preciso qualificar os profissionais farmacêuticos, que se adaptaram à situação restritiva. Mas eles podem ser importantes agentes de saúde para a população. As lojas também vão aumentar de tamanho de acordo com critérios que as redes vão estabelecer. Mesmo com o aluguel caro, a margem de lucratividade das empresas cresce com mais produtos e com serviços. Quando uma delas implantar este modelo de negócio, as outras naturalmente vão atrás”, acredita Barreto.
Comparando o modelo de negócio das farmácias brasileiras com o norte-americano, Barreto diz que ainda vai ser preciso discutir e muito a possibilidade de que elas possam ter também consultórios médicos como parte do atendimento.
“Somente nos Estados Unidos existem oito mil consultórios funcionando em farmácias. Para um país como o nosso, esse modelo seria importante para a solução de problemas que impediriam as pessoas ir a uma clínica ou posto de saúde para atendimento clínico. A iniciativa é mais bem sucedida no México, onde existem 15 mil consultórios funcionando dentro de farmácias”, explica ele.
Barreto não acredita que vá haver uma consolidação deste mercado no país, mas uma concentração, com as grandes redes dominando o segmento e uma parte atuando ainda de forma individual.
“Temos hoje 68 mil farmácias no país, com 12 mil delas parte de redes. Elas são responsáveis por 55% do mercado. Os outros 45% do setor se pulverizam nas 56 mil farmácias restantes. Hoje, fora a CVS, tudo mais é boato. Mas pode haver alguma mudança quando for aprovada a regulamentação para a conveniência em farmácias”, avalia o executivo.
Com relação à logística reversa no setor de farmácias, Barreto disse que as redes não aderiram à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
“Nós do varejo entendemos que a responsabilidade é do fabricante. E que nosso papel é de educação institucional do consumidor, além do apoio, como ponto de coleta. Mas não investindo nesse segmento.”