Por monica.lima

São Paulo - Em meio a uma série de movimentações rumo à consolidação, o mercado brasileiro de telecomunicações está em compasso de espera. Principal evento do setor, a Futurecom — que acontece nesta semana em São Paulo — é a tradução desse momento. Entre a ausência de executivos como José Formoso, presidente da Embratel, e a negativa de outros CEOs em falar com a imprensa, as entrelinhas apontam para os acordos que estão sendo costurados nos bastidores. 

Oi diz que está ativa no 4G e que foco é investir com inteligência

Uma das principais personagens nesse enredo, a fusão da Oi com a Portugal Telecom foi um dos temas destacados. “Eu via com bons olhos a fusão, sob o ponto de vista de ganhos de escala e de capacidade de gestão. Mas aí veio o incidente do empréstimo, que trouxe um desfalque e prejudicou o processo”, disse o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, referindo-se ao empréstimo de € 897 milhões feito pela Portugal Telecom à Rioforte, do Grupo Espírito Santo, uma de suas principais acionistas. “Talvez, como consequência, isso impediu a participação da Oi no leilão de 700 MHz, o que é extremamente negativo”, completou.

Em sua primeira aparição oficial, Bayard Gontijo — que assumiu a presidência da Oi após o desligamento de Zeinal Bava na última semana — não comentou as declarações do ministro a respeito da fusão, mas falou sobre a decisão da tele de não participar do leilão. “A companhia entendeu que tinha um melhor uso para o capital em curto prazo”, afirmou. “A Oi está ativa no 4G. Temos espectro e vamos continuar prestando o serviço”, disse, mencionando o acordo de compartilhamento de rede estabelecido com a TIM, que dará à empresa 3,7 mil estações base em 4G até o fim de 2014.

Gontijo não entrou em detalhes sobre as possibilidades de acordo para a compra, venda ou fusão das operações da Oi com a TIM, mas destacou que a consolidação é uma das alternativas para que o setor consiga equacionar questões como o aumento da demanda por dados móveis e a necessidade das teles encontrarem um modelo de investimentos sustentável para acompanhar esse processo. “A Oi é e será protagonista desse processo de consolidação no Brasil. E essa não é uma bandeira só nossa. Todos os rivais estão se mobilizando nessa direção”, afirmou.

O executivo falou ainda sobre o nível de endividamento da companhia, que encerrou o segundo trimestre com uma dívida de R$ 46,2 bilhões. “Vamos atacar essa alavancagem com uma reestruturação operacional. Sabemos que nosso recurso é limitado e que deve ser bem usado, sem desperdício. Vamos investir com inteligência”, disse, citando ainda a venda de ativos como um dos componentes dessa estratégia.

Diante de cenário de consolidação, presidente da Telefônica destaca que o foco é concluir a aquisição da GVT

Protagonista do principal movimento recente de consolidação no mercado brasileiro de telecomunicações com a aquisição da GVT, por cerca de R$ 22 bilhões, a Telefônica tem sido constantemente citada como uma das participantes de um possível fatiamento das operações da TIM. Os rumores tiveram início em agosto, quando a Oi contratou o BTG Pactual para auxiliar na construção de uma oferta de aquisição que envolveria ainda a Telefônica e a Claro. Segundo Antônio Carlos Valente, presidente da Telefônica, no entanto, a tele não foi procurada pelo banco para uma conversa nessa direção. “Não estamos tratando desse assunto. Nosso foco é a GVT. Essa é a nossa prioridade no Brasil”, afirmou o executivo.

Segundo Valente, a expectativa da Telefônica é concluir a aquisição da GVT até meados de 2015. Durante o painel de abertura da Futurecom, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, sinalizou que a operação será aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

O presidente da Telefônica destacou ainda o baixo nível de endividamento da operadora e ressaltou o modelo que a companhia encontrou para levar à frente o acordo com a GVT. “A operação que estamos realizando é fortemente lastreada em ativos não monetários e monetários que são objetivo de aumento de capital”, observou.

Apesar de não entrar em detalhes sobre um possível interesse em participar de uma nova operação para a aquisição de ativos da TIM, Valente afirmou que a tendência de consolidação não é um movimento restrito ao Brasil, mas sim algo que está se repetindo em diversos outros mercados no mundo, como por exemplo, a Europa. Esse cenário, disse ele, tem como pano de fundo uma série de razões, como o crescimento explosivo do tráfego de dados e, por consequência, a necessidade cada vez maior de investimentos para atender a essa demanda exponencial. “Esse processo vai ser ainda mais acelerado nos próximos anos, com a chegada de novos conceitos, como a internet das coisas”, pontuou. “Nesse contexto, existem empresas que por conta de sua dimensão ou por dificuldades de gestão certamente vão procurar se associar a outras teles para enfrentar esse desafio”, acrescentou.

Sem citar nomes, Valente também afirmou que algumas operadoras pecam pela falta de racionalidade em determinadas estratégias de mercado e construção de ofertas. “Muitas vezes colocamos a responsabilidade nos reguladores, mas as próprias operadoras precisam ser um pouco mais prudentes em suas iniciativas, que precisam ser boas no curto prazo, mas também sustentáveis no médio e no longo prazos”, frisou. “Acredito que a consolidação é uma maneira do mercado ser mais racional, independentemente do número de competidores”.

O presidente da Telefônica destacou ainda que o mercado como um todo vive um momento extremamente desafiador do ponto de vista de gestão, em meio a questões como a redução das taxas de interconexão, as ações regulatórias e o fato de ser um dos únicos setores da economia brasileira a não reajustar os preços com base na alta da inflação. 


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