Rio - Apesar da entrada em cena de uma nova oferta pelos ativos da PT Portugal, a francesa Altice resiste a ampliar sua proposta de 7,025 bilhões de euros, apresentada em 3 de novembro. Em fato relevante divulgado ontem, a Oi informou que recebeu na última terça-feira oferta conjunta dos grupos de private equity Apax Partners e Bain Capital, no valor de 7,075 bilhões de euros (excluindo dívida e caixa) pela subsidiária da Oi, que detém os ativos da Portugal Telecom.
“Eles (Apax e Bain) demoraram mais de uma semana para apresentar uma proposta que é só 50 milhões de euros mais alta, mas está sujeita a um série de condições”, argumentou uma fonte familiarizada com as negociações. Conforme esclarece o fato relevante da Oi, a proposta final está sujeita à aprovação pelos comitês de investimentos do Apax e do Bain Capital, além de depender da conclusão pelos dois grupos de “alguns pontos de diligência legal”. Em nota divulgada por sua assessoria da imprensa, a Altice — capitaneada pelo bilionário Patrick Drahi — argumentou que sua oferta é “totalmente financiada, incondicional e um projeto industrial de longo prazo e de investimentos para a Portugal Telecom”. Com relação ao financiamento da operação, o jornal português “Diário Económico” informou em seu site que o grupo francês já tem um sindicato bancário que inclui instituições como Morgan Stanley, Goldman Sachs, Credit Suisse, JP Morgan e Deutsche Bank.
A estratégia da Altice, que manteve conversações com representantes do governo português antes de apresentar sua proposta, é caracterizar Apax e Bain Capital como investidores financeiros interessados em projetos de curto prazo. “São duas ofertas diferentes, mas também dois projetos distintos”, frisou a fonte que acompanha as negociações. “O projeto da Altice é de longo prazo, comprometido com um gerenciamento local da companhia e com a inovação”. Em média, o período que os fundos mantém seu investimento, o chamado holding period, varia entre cinco e sete anos, de acordo com uma fonte da European Private Equity & Venture Capital Association (EVCA) ouvida pelo “Diário Económico”.
No fato relevante de ontem, a Oi esclareceu ainda que a nova oferta não contempla os investimentos da PT Portugal na África. Em setembro, a Oi já havia confirmado que tinha intenção de se desfazer da participação de 75% que detém na Africatel, holding na qual estão concentrados os ativos da companhia na África. Também ficam de fora da proposta o endividamento da PT Portugal e os investimentos na Rio Forte, holding não financeira que deixou de honrar 897 milhões de euros em títulos (commercial papers).
A oferta do Apax e do Bain Capital inclui o pagamento de duas parcelas (pagamentos diferidos) no valor de 400 milhões de euros, cada um, sujeitos à geração futura de receitas e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “Ambas as propostas são interessantes para a companhia”, acredita o analista Felipe Silveira, da corretora Coinvalores.
Na visão dele e de Daniel Liberato, outro analista da Coinvalores, os ativos da Oi em Portugal se mostraram bem mais atraentes, aos olhos do mercado, do que os da Africatel — estes últimos não receberam ainda qualquer proposta de aquisição.
Silveira destaca ainda o fato de, seis meses após a fusão das operações da Oi e da Portugal Telecom, a companhia brasileira estar envolvida na venda de ativos da operadora portuguesa. “Na época, a captação de recursos (para a operação) foi prejudicial para os minoritários. A principal justificativa para a fusão foi a criação de sinergias operacionais e financeiras. Seis meses depois, já tem uma companhia sendo vendida.”