Por monica.lima

O câmbio já começa a ajudar as empresas exportadoras, mas a retração nas importações brasileiras levou a companhia de navegação norueguesa Maersk Line a decidir pela redução de sua capacidade de atendimento ao país. No balanço de suas operações no terceiro trimestre, a empresa reviu suas projeções de crescimento do comércio exterior do país em 2014 para 3%, contra uma expectativa anterior entre 5% e 6%. Desde o início do ano, já vem tomando medidas para otimizar o uso da capacidade de transporte nas rotas que chegam ao Brasil, hoje na casa dos 85%.

“A capacidade que disponibilizamos ao Brasil é muito relacionada às importações, que vêm caindo”, diz o diretor comercial da empresa no país, Mario Veraldo. Segundo dados da companhia, as importações de carga em contêineres tiveram queda de 7% no terceiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano anterior, reflexo da atividade econômica fraca. Já as exportações cresceram 4% no período. “O câmbio tem ajudado a melhorar a competitividade dos produtos brasileiros”, comenta o executivo.

Ele não quis detalhar as medidas em estudo para reduzir a capacidade, mas diz que a empresa já vem adotando estratégias para ampliar o uso da capacidade em seus navios, como o aumento do tempo de espera em portos chineses, enquanto aguarda a chegada de novos contêineres. “Com preço do frete atual, precisamos usar a capacidade total dos navios para gerar lucro com as rotas para o Brasil”, explica Veraldo. Além disso, negocia contratos de compartilhamento de navios.

A AP Molle -Maersk, controladora da empresa, divulgou na quarta-feira seu balanço global, no qual apura lucro de US$ 1,5 bilhão no terceiro trimestre. Além de operações em navegação, o grupo atua em terminais logísticos, produção de petróleo e prestação de serviços para a indústria petrolífera. O grupo tem um plano de investimentos de US$ 4 bilhões no Brasil.

Não há abertura dos números com relação às operações brasileiras. Mas o Relatório de Comércio sobre o Brasil divulgado ontem indica a situação da corrente de comércio do país, na visão de uma das maiores transportadoras do mundo. Houve grande aumento nas vendas de algodão, café, açúcar, produtos têxteis, químicos, alimentos e bebidas e máquinas e equipamentos - este último, com impressionante taxa de crescimento de 5.400% com relação ao mesmo trimestre do ano anterior.

Segundo o diretor da Maersk, a taxa se explica pela base de comparação baixa e pelo efeito do câmbio sobre a competitividade dos produtos brasileiros. “O grande crescimento se deu na região Norte”, diz ele, referindo-se a produtos fabricados na Zona Franca de Manaus. Na região, o comércio exterior teve alta de 35,5% no terceiro trimestre, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Como destinos principais, estiveram a Ásia, o Oeste da África e o Oriente Médio, que tiveram grande participação no salto de 21% das vendas de produtos não refrigerados.

Já no caso das importações, houve queda em quase todos os grupos de produtos, excluindo automóveis e transportes; resíduos da indústria alimentícia; frutas, vegetais e plantas; e têxteis e couro. A mudança na corrente de comércio leva a empresa a destacar a necessidade por investimentos em infraestrutura, que melhorem a competitividade da indústria nacional frente a concorrentes no exterior.

A queda nas importações leva a companhia a apostar em um “Natal sombrio” no país este ano. “Normalmente, vemos um aumento nos pedidos de agosto e começo de setembro, antes do Natal, mas isto não aconteceu este ano”, diz Veraldo. “Desta vez, o desempenho em agosto foi negativo, preparando o palco para um Natal sombrio. A última vez que vimos um aumento significativo no terceiro trimestre foi em 2010”, conclui o diretor comercial da companhia.

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