Por bruno.dutra

Barcelona - Em fase final de conclusão de seu programa de reestruturação global, a empresa espanhola de concessões Abertis diz que sua prioridade no Brasil é cumprir os compromissos de investimento assumidos em suas concessões de rodovias no país, que passaram por atrasos quando eram controladas pela conterrânea OHL. A companhia segue avaliando oportunidades de crescimento, mas acredita que precisa passar uma mensagem de “boas intenções” ao governo brasileiro. “É certo quem se surgirem oportunidades, vamos avaliar, mas nosso esforço é para cumprir as obrigações”, diz o diretor de relações com investidores da Abertis, Steven Fernandez.

A empresa lançou este mês seu plano estratégico 2015-2017, no qual prevê economia de 450 milhões de euros com eficiência das operações e um trabalho para renovar concessões ao redor do mundo, além da separação definitiva entre as atividades de rodovias e gestão de infraestrutura de comunicações, que devem ter ações lançadas em bolsa de valores no ano que vem. Nos últimos três anos, dedicou-se a vender ativos em áreas que deixaram de ser foco, como estacionamentos, logística e aeroportos, arrecadando um total de 4,4 bilhões de euros.

A mudança de foco se deu em 2011, quando a direção da companhia percebeu que não teria recursos suficientes para tocar todas as operações sem comprometer os indicadores financeiros. Com a venda de ativos em outras áreas, obteve recursos para entrar no mercado brasileiro, com a compra da Arteris (ex-OHL Brasil), paga parte em dinheiro e parte em ações. Com a aquisição, passou a controlar nove concessões rodoviárias no país. Algumas delas, concessões federais licitadas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, com atrasos no cronograma de obras.

“Estamos comprometidos com os investimentos sem pedir alta de tarifas além da inflação prevista em contrato”, afirma Fernandez, acrescentando que o orçamento para as concessões brasileiras soma R$ 6,2 bilhões até o fim dos contratos de concessão. A política de boas relações — a OHL chegou a pedir revisão das tarifas antes de ser adquirida — contribui para uma das metas da companhia em seu plano estratégico, que é trabalhar pela renovação de concessões que estão em sua carteira.

A empresa chegou a analisar o último pacote de concessões rodoviárias licitado pelo governo no ano passado, mas avalia que as tarifas oferecidas não garantiam o retorno adequado. A companhia avalia que a Ponte Rio-Niterói, provavelmente a próxima concessão a ser licitada pelo governo, é um bom ativo, mas só deve ser avaliado depois que as condições forem divulgadas.

O Brasil representa hoje 16% do Ebitda da Abertis, que está presente em 12 países. Para a empresa, o momento econômico não é um impeditivo para novos negócios. “Confiamos no Brasil. O que estamos vendo hoje é conjuntural e não temos dúvidas de que vai mudar no longo prazo”, comenta o diretor de relações com investidores da companhia. Seu foco atualmente está em quatro países: Espanha, França, Brasil e Chile, por ordem de importância na receita global.

No negócio de operação de infraestrutura de telecomunicações, tocado por meio da subsidiária Abertis Torres de Telecomunicações, Fernandez vê dificuldades em entrar no mercado brasileiro, dada a presença agressiva de companhias americanas. A empresa já gere torres da Telefônica na Espanha e da TIM na Itália, além de outros países, e acredita que as duas empresas oferecerão oportunidades também no Brasil, mas a forte competição prejudica as margens de lucro no segmento.

“As últimas operações que analisamos não cumpriam nossos requisitos de lucros”, contou Fernandez. O lançamento de uma participação minoritária da ATT em bolsa de valores tem por objetivo levantar capital para a expansão neste segmento sem prejudicar as operações de concessões rodoviárias, setor em que a empresa trabalha para expandir também para os Estados Unidos e a Austrália. Com uma receita global prevista para este ano de 5 bilhões de euros, a empresa atua ainda no segmento de satélites, por meio da Hispasat.

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