São Paulo - A separação entre o eBay e seu braço de pagamento eletrônico, o Paypal, que deve se concretizar no ano que vem, não vai alterar a operação das duas companhias na América Latina. A estrutura única do grupo na região explica esse cenário. O PayPal foi o primeiro a desembarcar no mercado latino-americano, com operações no México, em 2009, e no Brasil, em 2011. Já o eBay deu seus primeiros passos no mercado brasileiro apenas em 2013, com um aplicativo local de moda. Em maio desse ano, a companhia lançou oficialmente a versão em português de sua plataforma. “Diferentemente de outros mercados, as operações na América Latina já são, na prática, independentes. Não teremos o impacto de separação de ativos como em outros países”, diz Mário Mello, diretor-geral do PayPal na América Latina.
Apesar de destacar que as sinergias com o PayPal na região continuarão no escopo, Sylvie De Wever, diretora de expansão geográfica e líder do eBay para a América Latina ressalta que a nova estrutura põe fim a limitações até então existentes. “Essa abordagem nos dá mais liberdade para explorar novas parcerias e oferecer mais alternativas de pagamentos para nos adaptarmos aos costumes dos nossos consumidores no Brasil e na região”, afirma a executiva.
Como exemplo dessa abordagem, Sylvie cita um acordo na Rússia. No início do mês, o eBay fechou uma parceria para integrar os serviços de pagamento da QIWI à sua plataforma no país. Complementar aos serviços do PayPal, a nova solução trabalha com canais como cartões de crédito e débito, e dispositivos móveis.
Uma pesquisa global do PayPal em parceria com a Ipsos ajuda a explicar o interesse da companhia e do eBay pela região, mais especificamente pelo mercado brasileiro. Segundo o estudo, que contou com a participação de 800 consumidores locais, o e-commerce vai movimentar R$ 92,9 bilhões em 2016, ante R$ 69,6 bilhões nesse ano no Brasil. Do montante previsto em dois anos, R$ 15,1 bilhões serão gerados por compras via dispositivos móveis. Ao mesmo tempo, o levantamento mostra que 50% dos internautas brasileiros já fazem compras em sites no exterior. “Comparado a outros mercados emergentes, o usuário brasileiro tem hábitos de compra cada vez mais sofisticados”, diz Sylvie.
Nesse cenário, a executiva destaca os esforços do eBay para ampliar sua oferta no país. Hoje, a plataforma já tem 400 milhões de itens estrangeiros disponíveis para entrega no Brasil. Ao mesmo tempo, o marketplace vem investindo em informações apuradas a esses varejistas internacionais no que diz respeito às datas com alto volume de vendas no comércio local.
Em outro plano, o eBay avalia a abertura de sua plataforma para os varejistas brasileiros.
Embora não revele um prazo específico para essa iniciativa, Sylvie afirma que essa decisão deve seguir o mesmo caminho adotado na Rússia, mercado que foi um dos focos iniciais da expansão do eBay nas economias emergentes. Após consolidar passo a passo sua presença no país europeu —trilha que está sendo replicada no Brasil —, o grupo incorporou as vendas domésticas ao seu marketplace no início desse mês.
A melhoria da experiência móvel dos usuários é mais um foco. Nas próximas semanas, o eBay vai lançar seu novo aplicativo para o iPad, que contará com uma versão para o mercado brasileiro.
Com 3 milhões de usuários ativos no Brasil — contra 1 milhão do eBay —, o PayPal também enxerga nos dispositivos móveis uma das principais vias de crescimento no Brasil. Segundo Mário Mello, umas das prioridades é ampliar a atuação para além do comércio eletrônico. Sob esse conceito, a ideia é explorar serviços que têm como ponto de convergência os smartphones. “Hoje, o celular é o controle remoto do consumidor para o mundo.
É possível tirar fotos, checar a câmera de segurança na sua casa e usar uma série de recursos. A experiência do pagamento precisa estar inserida em todas essas aplicações”, diz. Como exemplo dessa visão, ele cita uma parceria recente do PayPal com o aplicativo 99Taxis, que permite ao usuário pagar a corrida por meio do seu celular.