Por bruno.dutra
São Paulo - Há quatro anos, o mercado brasileiro começou a vivenciar um boom de investimentos em start-ups com produtos e serviços de internet e voltados aos consumidores finais. Passada a euforia inicial, esse ecossistema continua a atrair grande parte dos aportes de fundos locais e estrangeiros. Criado no fim de 2013, o Fundo de Inovação Paulista (FIP) é um contraponto a essa corrente digital. Com um total captado de R$ 105 milhões e um prazo de oito anos para investir esse montante, o fundo está priorizando um outro mundo ainda à parte do ambiente de empreendedorismo no país: as inovações produzidas em centros de pesquisa no estado de São Paulo e as tecnologias criadas para o agronegócios, a saúde, os novos materiais e os projetos de tecnologia na nuvem, direcionados ao mercado B2B.
“Nós escolhemos navegar num estágio no qual ainda existe mais ineficiência na oferta de recursos. Hoje, quando se olha para o venture capital no Brasil, muitos fundos estão focados em replicar os modelos de negócios de internet do Vale do Silício, mais voltados aos consumidores. Estamos buscando inovações fora desse rótulo”, diz Francisco Jardim, sócio-fundador da SPVentures, gestora do FIP, que reúne investimentos do Sebrae-SP, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Agência de Desenvolvimento Paulista e da Caixa Andina de Fomento (CAF), além de investidores privados.
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Maior foco do FIP — a ideia é destinar mais da metade dos recursos ao setor —, o segmento de agronegócios é um bom exemplo da proposta do fundo. Segundo Jardim, entidades como a Fapesp e a Finep tem direcionado um volume de recursos considerável aos projetos de pesquisadores nessa área. Em um estágio semelhante à abordagem dos investimentos-anjo, esses aportes — mesmo que a fundo perdido — já possuem premissas como a exigência de uma estrutura de negócios e o estabelecimento de uma operação empresarial. No entanto, diz ele, há uma lacuna gigante de capital disponível para que esses projetos possam dar o próximo passo e ganhar tração no mercado.
Fatores como um perfil de empreendedor acostumado a conviver com riscos como as incertezas climáticas e a volatilidade do câmbio e das commodities ajudam a explicar o interesse do FIP pelos agronegócios. “O setor é o mais desprotegido em termos de subsídios e esse cenário obriga o produtor local a competir internacionalmente, o que eleva o nível”, diz Jardim. “Ao mesmo tempo, temos um mercado doméstico economicamente robusto e centros de pesquisa de excelência nessa área”.
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Empresa de biotecnologia com origem na Escola Superior de Agricultura (ESALQ) da USP, em Piracicaba, a Promip foi a primeira start-up a receber, em agosto, um aporte do FIP. A novata tem uma biofábrica que produz ácaros predadores, que aumentam a produtividade agrícola ao complementar o uso de agroquímicos no controle de pragas e doenças. Ainda no agronegócios, o fundo acaba de investir em uma outra companhia de biotecnologia — de nome ainda não revelado —, que criou uma tecnologia para a área de produtividade e fertilização in vitro de gado bovino.
Nas outras áreas foco, o fundo investiu recentemente em uma empresa de conciliação de pagamentos que conecta e integra — via nuvem — todas as transações realizadas por meio de cartões de crédito, máquinas de ponto de venda e internet. A companhia projeta ainda finalizar mais dois aportes até o início de 2015. O primeiro deles envolve um projeto dentro do conceito de internet das coisas, com o uso de sensores e chips para monitorar ativos em centros de dados.
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Segunda prioridade do FIP, o setor de saúde está no centro do segundo projeto em vias de receber um aporte. A iniciativa envolve a área de telemedicina, com uma empresa que desenvolveu uma solução completa de hardware, software e serviços para laudos de cardiologia. O pacote permite realizar exames em locais distantes e enviá-los por meio da nuvem aos laboratórios. “Hoje, a solução permite entregar um laudo em 24 horas. Mas a empresa já está desenvolvendo recursos para realizar processos de emergência em 15 minutos”, diz Jardim. “Estamos buscando projetos que resolvam problemas do Brasil, como a demanda pulverizada por serviços médicos, mas que possam ter aderência com mercados emergentes no exterior”, observa.
Segundo Jardim, o plano do FIP é investir 80% do montante em empresas que faturam menos de R$ 3,6 milhões. Os 20% restantes serão destinados às novatas com receita bruta de até R$ 18 milhões. O valor dos aportes vai até R$ 15 milhões, com a aquisição de participações minoritárias, mas grande parte dos investimentos estará na faixa de R$ 2 milhões a R$ 6 milhões. O executivo estima um prazo médio de cinco a sete anos para que os projetos amadureçam e tenham um cenário favorável para a venda da operação. A meta é encerrar 2015 com 12 empresas no portfólio. “Queremos completar todos os investimentos até o fim de 2016. Assim, teremos cinco anos para focar em criar valor nas operações, atrair mais investidores e criar ativos para serem vendidos até 2021”, diz.
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