Depois de três anos de resultados históricos, a montadora espera fechar 2015 com uma demanda acima da sua capacidade de produção. A previsão é de Terry Hill, presidente da Jaguar Land Rover para América Latina e Caribe
Por monica.lima
Rio - Subsidiária da indiana Tata Motors, a Jaguar Land Rover se prepara para mais um ano de vendas recordes, conforme já aconteceu nos últimos três anos. Presidente da JLR para a América Latina e Caribe, Terry Hill tem razões de sobra para alimentar expectativas positivas: em 2015, a demanda pelos carros de luxo da montadora deve ficar acima da capacidade de produção. Nem mesmo a desaceleração da economia brasileira é capaz de arranhar o otimismo do executivo. “Continuamos prevendo um total de cinco milhões de carros para 2020 ou 2021. E o segmento de luxo vai continuar a crescer”, justifica Hill. A fábrica da montadora em Resende (RJ) está prevista para entrar em operação em 2016.
No ano passado, o volume de carros vendidos no mundo atingiu um patamar histórico. No caso da Jaguar Land Rover, podemos esperar um recorde de vendas em 2015?
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Se você olhar para os últimos quatro, cinco anos a Jaguar Land Rover vem quebrando recordes. Nossa base vem crescendo globalmente e o ano passado foi outro ano recorde para a companhia. E nós já estamos antecipando que 2015 será outro ano recorde para a Jaguar Land Rover e este movimento é todo impulsionado pelos produtos. O maior desafio para nós internacionalmente tem sido que nossas unidades de manufatura estão lutando efetivamente para atender a demanda global. Estamos tendo que equilibrar nosso desempenho de vendas regional de acordo com a capacidade de abastecimento a partir das nossas fábricas. Nossas fábricas estão operando a plena capacidade. É por isso que estamos vendo a Jaguar Land Rover introduzindo progressivamente sua estratégia de manufatura ao redor do mundo. Primeiro foi a China. Nossa segunda fábrica [fora do Reino Unido] foi aqui, no Brasil. A nossa capacidade de crescer agora requer que tenhamos uma base de fabricação mais extensa, ao redor do globo.
E a expectativa para o Brasil? O ano passado foi de retração nas vendas para as montadoras...
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Um mercado como o brasileiro é muito interessante para a Jaguar Land Rover. O segmento de carros de luxo continua relativamente pequeno, em relação à toda a indústria. A indústria [automobilística no Brasil] ficou um pouco acima de 3,3 milhões de carros no ano passado. E nós continuamos prevendo um total de 5 milhões de carros para 2020 ou 2021. E o segmento de luxo vai continuar a crescer. Nossa capacidade de acessar esse segmento, nesse intervalo de médio prazo, requer realmente que façamos um investimento no futuro. É por isso que estamos instalando nossa fábrica aqui. Não estamos instalando a fábrica para 2016, mas para garantir que possamos atender totalmente a demanda do consumidor brasileiro, à medida que o mercado de luxo continue a crescer no Brasil, nos próximos cinco anos e não só nos próximos um ou dois anos.
A fase atual de desaceleração da economia brasileira não preocupa a companhia?
Nossa fábrica estará operacional no início de 2016. As perspectivas econômicas para o país no médio prazo continuam sólidas. Ainda estamos confiantes de que tomamos a decisão certa com relação à fábrica no Brasil. O desempenho que temos no segmento de SUVs (utilitários esportivos de grande porte) neste mercado é algo que nos deixa muito orgulhosos e que vamos proteger no longo prazo.
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Há planos de exportar os veículos que serão produzidos na fábrica de Itatiaia?
Baseado no potencial de mercado, vejo a fábrica focada principalmente no mercado brasileiro. O Brasil vai continuar a ser força motriz da América Latina em termos de volume. Nosso maior mercado mais próximo, fora o Brasil, é o México. Acho que para nós faz mais sentido atender a demanda do mercado mexicano a partir do Reino Unido. É realmente um plano que foi desenvolvido aqui para atender a demanda do mercado e do consumidor brasileiros.
Analistas do mercado automotivo costumam dizer que tamanho é tudo, numa referência à necessidade dos fabricantes de ter escala mundial. O fato de a Jaguar Land Rover ser parte da Tata Motors ajuda de alguma forma em termos de escala?
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Ser parte da Tata nos dá o melhor dos mundos. Somos parte de uma corporação muito grande, já que a Tata é um conglomerado. E, dentro desse conglomerado, a Tata Motors é uma unidade de negócios muito forte e a economia indiana está começando a se recuperar agora. Para nós, se você olhar para o crescimento ao longo dos últimos anos, vai ver que a Jaguar Land Rover praticamente dobrou de tamanho num período relativamente curto de tempo. Este negócio tem tudo a ver com os produtos. A força de uma companhia no longo prazo tem tudo a ver com a capacidade de investir em novos produtos. E, como você pode ler em todas as matérias na imprensa, estamos investindo pesadamente em novos produtos. Acho que o nosso sucesso no longo prazo está assegurado porque temos um plano futuro de investimentos muito agressivo.
Mas como competir com os gigantes mundiais do setor? O segmento de luxo também está na mira dessas companhias...
Não precisamos vender seis milhões de carros por ano para ser uma companhia bem-sucedida. Somos uma companhia muito, mas muito bem-sucedida hoje vendendo 450 mil carros por ano. E vamos continuar a crescer. Nossa capacidade de obter sucesso como o que tivemos até agora é toda baseada na nossa estratégia global e no nosso produto.
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Qual a importância do mercado chinês para a Jaguar Land Rover?
Nossa organização é dividida em cinco regiões. A China é tratada como uma região. O Reino Unido, como outra. A Europa é outra região. América Latina, África, Oriente Médio e a região da Ásia-Pacífico formam outra. E, naturalmente, temos os Estados Unidos. Elas estão todas muito equilibradas. Temos equipes focadas em atender as necessidades dessas cinco regiões, em saber o que fazer para termos acesso aos mercados dessas regiões nos próximos anos, como podemos crescer. Porque é muito perigoso, ou imprudente, focar em só um mercado. Nosso negócio é hoje muito equilibrado em relação ao foco que damos a essas cinco regiões. Focamos nelas igualmente em termos de estratégia global e em termos de expectativas de crescimento.
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Se a demanda pelos produtos é superior à capacidade de produção da companhia, porque então manter uma estratégia tão cautelosa de expansão das fábricas fora do Reino Unido?
É preciso equilibrar oferta e demanda. Se você tiver excesso de oferta, isso pode criar um modelo de negócios muito difícil. O que nós temos de assegurar é a maximização da nossa capacidade disponível no Reino Unido. Nosso planejamento é muito focado em assegurar que a nossa estrutura de custos esteja equilibrada com a nossa capacidade de crescer.
Quais os planos para a marca Jaguar no Brasil?
Progressivamente, a Jaguar vai brilhar. Apresentamos o XE no Salão do Automóvel de São Paulo. Agora, revelamos que o Jaguar terá um crossover, conhecido como F-Pace. As oportunidades de longo prazo para nós, neste mercado, são muito boas. E o investimento numa fábrica local está realmente protegendo a nossa capacidade de ter acesso a esse segmento crescente de carros de luxo ao longo dos próximos anos.
Alguma característica específica do consumidor brasileiro lhe chama a atenção?
É muito difícil fazer generalizações sobre porque as pessoas compram carros de luxo. O que eu diria é que o brasileiro tem uma conexão real com a aventura, provavelmente mais forte que a de consumidores em outros países ao redor do mundo. Por exemplo, consumidores chineses adoram produtos de luxo. Os carros da Jaguar Land Rover são um produto muito desejado por esses consumidores mas eu acho que a razão pela qual a Jaguar Land Rover foi tão bem-sucedida no país é por causa do senso de aventura, sua conexão com a capacidade de ir a qualquer lugar, fazer qualquer coisa. O produto conecta o consumidor com o passeio até as dunas, até a cachoeira ou à viagem de fim de semana até a praia.
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O primeiro modelo com a marca Land Rover a ser produzido no Brasil será o Discovery Sport. O preço previsto é de R$ 179,9 mil. Num momento de baixo crescimento econômico, não seria mais seguro começar com um carro mais barato?
O mercado se adaptou à situação econômica na qual estamos. Realmente não vejo um risco com o posicionamento de preços que adotamos para o veículo. Tudo tem a ver com o valor do produto para o consumidor. O “pacote”, a versatilidade e a capacidade de eles fazerem as coisas que quiserem. É claro que nós analisamos as vendas de veículos por segmento de preço e por tipo de produto. Sabemos que neste patamar de preço há muita oportunidade para crescermos nos próximos anos. Vemos um ponto ideal para o Discovery Sport porque trata-se de um carro que atende a muitos requisitos do consumidor em termos de espaço, versatilidade e tem a capacidade de fazer o que um SUV faz, mas pode ser configurado para sete lugares se for necessário. Essa é uma proposta interessante para o consumidor brasileiro, porque ele quer espaço para carregar coisas no carro quando vai para o interior ou para a praia. E quer conforto quando está trafegando pelo centro da cidade.