São Paulo - Após um 2014 conturbado para a indústria automotiva no Brasil, os indicadores deste início de ano não apontam para uma perspectiva de melhora em curto prazo. Mas mesmo sob um cenário de queda nas vendas, paralisações na produção e de demissões no setor, o grupo sueco Volvo projeta um viés otimista para sua operação no país, seu principal mercado na América Latina. Sob novo comando na região, a companhia vai reforçar sua estratégia local de crescimento por meio de ganho de participação em suas categorias de atuação.
“Realmente, o pacote de boas vindas não foi o que eu esperava”, brincou Claes Nilsson, durante o evento em que foi apresentado oficialmente como novo presidente da Volvo América Latina. No cargo desde o início do ano, o executivo ocupava anteriormente os postos de presidente da Volvo Trucks e de líder de vendas da área central norte da Europa. Sua nomeação fez parte de uma reestruturação global implantada pela Volvo em outubro de 2014, por meio da qual a América Latina passou a se reportar diretamente para a matriz na Suécia.
“Esse é um dos papéis mais importantes no grupo e estou muito motivado. Nós acreditamos que essa desaceleração é temporária e vamos continuar a investir no Brasil em longo prazo. Certamente temos desafios, mas estamos nos adaptando”, afirmou. Em 2014, o grupo anunciou um plano de investimentos de US$ 320 milhões no país para os próximos anos.
Em meio aos cortes de pessoal no setor — a própria Volvo anunciou a demissão de 206 operários em sua fábrica de Curitiba no fim de 2014 —, Nilsson disse que, em curto prazo, a empresa não tem nenhum plano de novas reduções da equipe local. “Mas obviamente, temos que monitorar constantemente a evolução do mercado”, observou.
Entre os fatores que fundamentam a expectativa positiva para o ano, a Volvo ressaltou questões como a recente definição das novas regras de financiamento do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). “Os números fracos do início do ano refletem essa falta de definição. Sob o ponto de vista comercial, o ano está começando agora. Já estamos vendo um crescimento nas cotações e em novos negócios”, afirmou Bernardo Fedalto, diretor de vendas de caminhões da Volvo na América Latina. “Às vezes, olhar somente os dados de emplacamento nos leva a ver a situação pior do que ela realmente está. Vamos começar a ver uma melhora a partir do fim de março”, disse.
No segmento de caminhões – no qual a Volvo registrou um ganho 1,3 ponto percentual de participação em 2014 —, Fedalto destacou que a demanda pela renovação da frota será puxada por setores como o agronegócios, especialmente na categoria de pesados, acima de 16 toneladas, em função das perspectivas de safra recorde de grãos.
Com um crescimento de 2,7% nas vendas e um ganho de participação de 1,2 ponto percentual em 2014 — em meio a uma retração do mercado total de 16,3% —, o mercado de ônibus também apresenta sinais de melhora para a Volvo. Essa visão é fortalecida por questões como o reajuste das tarifas de ônibus em diversas cidades. “Isso deve dar um certo alívio para os operadores começarem a pensar em projetos de renovação de frota”, disse Luis Carlos Pimenta, presidente da Volvo Bus para a América Latina.
A oferta de sistemas inteligentes de transporte e os programas de mobilidade urbana são outra vertente no radar da Volvo. Uma das iniciativas em curso é um acordo com a prefeitura de Curitiba para o desenvolvimento de novos modelos do BRT (Bus Rapid Transit). Segundo Pimenta, o plano do piloto é entregar até 170 unidades de elétricos híbridos — articulados e biarticulados — até 2016.
Como parte da estratégia de ganho de participação, o plano é aprimorar a oferta por meio de pilares como serviços, distribuição, novas tecnologias e pós-venda. Nessa trilha, a expansão e modernização da rede de concessionárias — próprias e de terceiros — é uma das prioridades. “A projeção é encerrar o ano com 101 pontos de atendimento e 1,8 mil mecânicos até o fim de 2015”, disse Nilsson.
Essa estrutura servirá de suporte para escalar, por exemplo, contratos de manutenção. Nesse segmento, Fedalto destacou a evolução da participação dos contratos “gold” — cobertura completa — na carteira, que saltou de 7% dos clientes em 2011, para 24% em 2014. “Estamos desenvolvendo espaços de atendimento prioritários na nossa rede”, afirmou.
As iniciativas para facilitar as aquisições dos clientes também compõem a estratégia. Em 2014, o grupo injetou R$ 132 milhões para impulsionar a oferta de crédito da divisão de serviços financeiros no país, que registrou um crescimento de 34% no volume de transações no ano, para R$ 2,88 bilhões. “Uma das iniciativas previstas para esse ano na área é reforçar os consórcios, criando grupos com mais participantes e parcelas mais reduzidas”, disse Valter Viapiana, diretor comercial para caminhões e ônibus da divisão na América Latina.