Rio - Para se reinventar, aumentar as margens de lucro e também para ter um canal de distribuição que destaque seus produtos, a indústria cada vez mais aposta em um braço próprio de varejo. E, nessa trilha, o caminho de muitos fabricantes passa pelo franchising. Grandes corporações, multinacionais e também empresas regionais com faturamento acima de R$ 100 milhões estão atentas a este mercado que, mesmo em tempos de crise, mantém previsões de crescimento. Marcas como Tip Top, Brahma e agora a Unilever, que inicia a formatação da marca Ben & Jerry´s, de sorveterias, comprada pela multinacional em 2000.
Juarez Leão, sócio da Leão Business Upgrade e também diretor da Associação Brasileira de Franchising (ABF), explica que em muitos casos, sobretudo no segmento de vestuário, a ida da indústria para o franchising, além da busca pela renovação da marca, é impulsionada pela falta de qualidade das lojas multimarcas no Brasil.
“O Brasil trabalha pouco o conceito ‘store in store’ e isso, dentro de uma unidade multimarcas, tira a visibilidade dos produtos. E faz com que a decisão da indústria de ir para o varejo tenha mais um bom argumento. Criando um canal de vendas com sua identidade, o fabricante vende mais que um produto, vende uma marca. E o domínio da marca é importante para o desenvolvimento da capacidade produtiva”, diz ele. “Foi assim que a Hering, por exemplo, deixou de ser uma commodity de camiseta branca para se tornar uma marca que vende lifestyle. E hoje, com mais de 500 unidades Hering Store, além de filhotes como a PUC, de roupas infantis, do retorno da Dzarm, também por franquias”, detalha o especialista, que ajudou na formatação das franquias da Hering.
No caso da Ben & Jerry’s, marca que tem por trás a multinacional Unilever, ele explica que o caminho é um pouco mais tortuoso na hora da formatação de uma rede de franquias. Mas nem por isso é impossível de acontecer.
“A Francap, que trabalha no desenvolvimento de franquias, foi responsável pelos primeiros passos da rede Nosso Bar e Chopp Brahma, para a AmBev, que hoje anda com as próprias pernas. A Ben & Jerry´s também está nas mãos da Francap nesse momento. Normalmente quem produz tem dificuldades de entender o caminho do ‘varejar’ e do ‘franquear’. E uma ajuda profissional acaba sendo o melhor caminho para o sucesso. Sem dúvida, a Ben & Jerry´s vai seguir o mesmo caminho”, afirma ele.
Para Claudia Bittencourt, diretora geral do Grupo Bittencourt, consultoria especializada em franquias, o franchising já é visto hoje por muitas das indústrias como um canal mais eficaz e seguro para atender diretamente o consumidor final, público alvo de seus produtos ou serviços, da forma e com os critérios definidos por ela.
“É um movimento que acontece em todos os países que atuam com franquias, uns mais desenvolvidos e outros menos, porém no Brasil as indústrias têm despertado para o franchising e, com isso, vem mudando a velocidade e a forma como tem expandidos seus negócios e ocupado mercado. Com um canal direto, a indústria elimina os intermediários e isso traz ganhos e condições para oferecer produtos com melhores margens para os franqueados”, acrescenta Claudia.
Ela concorda com Juarez em relação ao uso da franquia como forma de perpetuação da marca. “Hoje eu considero que em alguns casos ingressar no franchising é também meio de sobrevivência da indústria. Muitas sumiram, outras renasceram”, diz ela.
Com 63 anos de existência, a Tip Top é outro exemplo de fabricante que entrou no franchising e conseguiu criar uma marca forte no varejo. Sua rede de franquias, com 100 lojas em 2014, faturou R$ 94 milhões e os planos para 2015 são de abrir mais 20 unidades. A empresa também continua com operações em lojas multimarcas.
“O fato de a Tip Top atuar também como indústria permite mais agilidade nos processos de produção e, assim, facilita o gerenciamento do canal multimarca e monomarca. Por essa razão, planejamos crescer com os dois modelos de negócio”, diz Ricardo Marcondes, gerente de expansão da Tip Top.
Para Juarez Leão, a indústria de vestuário e calçados será a que mais crescerá no franchising nos próximos anos. Empresas regionais do Sul do Brasil, cujos nomes foram mantidos em segredo por ele, já estão preparando estudos de viabilidade para a abertura de franquias pelo Brasil.