Por diana.dantas

A entrada do empresário Abilio Diniz (ex-Grupo Pão de Açúcar) no Carrefour, em dezembro do ano passado, por meio de sua empresa, a Península Participações, garantiu ao grupo francês parte dos recursos que precisará para investimentos este ano, deixando de lado, pelo menos por enquanto, a realização de um IPO no Brasil. O empresário adquiriu 10% do Carrefour Brasil por R$ 1,8 bilhão e tem o direito de aumentar sua participação para 16% em cinco anos. Além disso, Diniz tem 2,54% do Grupo Carrefour global. Pierre-Jean Sivignon, CFO do Grupo Carrefour, afirmou ontem a jornalistas na França que a empresa segue aguardando as melhores condições de mercado para um possível IPO no Brasil. A prioridade é atingir as metas administrativas este ano, necessárias para que todos os investimentos possam ser feitos. Sivignon, juntamente com Jérôme Bedier, secretário geral do Grupo Carrefour, comanda a empresa enquanto o CEO, George Plassat, se recupera de uma cirurgia.

"Sempre queremos ficar perto dos mercados onde operamos. E uma das maneiras era ter a filial cotada localmente, com um IPO. No caso da China, por exemplo, temos joint ventures. Para isso, é preciso vincular também o nosso compromisso de estarmos prontos administrativamente em 2015. E estaremos prontos. Os recursos vindos de um IPO iriam para investimento e desenvolvimento da rede localmente. Hoje, não precisamos do IPO para captar recursos. Volto a dizer que o IPO é um mero fortalecimento local, um meio para alcançar uma meta, parcialmente obtida com a entrada de Abilio Diniz no grupo", diz Sigvinon.

Segundo Charles Desmartis, CEO do Carrefour Brasil, Diniz já participou da primeira reunião do conselho de administração no país, como um administrador. E, na ocasião, levou algumas ideias que Desmartis não comentou quais seriam. Para Sivignon, ter Ablilo Diniz como um parceiro é importante para o grupo por ele ser um profundo conhecedor do varejo brasileiro.

"Abilio é um industrial e um varejista que conhece bem o país. Mas, nesta reunião, ele foi ouvido como os outros participantes. Com a diferença de que conhece bem o varejo local. Charles vai acompanhar isso de perto", comentou.

O executivo voltou a dizer que, depois da França, o Brasil é o segundo mercado mais importante para a empresa ­- o Grupo está presente ainda na Espanha, na Itália e na China. Com relação aos hipermercados, Sivignon comentou que a melhora do Grupo neste tipo de operação, na França e no Brasil, assim como nos demais países onde atua, se deve ao trabalho de reinventar o modelo de negócio que representa hoje 56% do faturamento global do grupo.

"Mas não estamos obcecados nos hipermercados. O plano de virada do grupo abrange todos os formatos. Em todos os países, estamos desenvolvendo plataformas multiformatos", assinalou.

Jérôme Bedier destacou que o formato de proximidade está sendo agora testado na China e, na Romênia, onde atua por meio de franquia, foi aberta uma unidade Supeco.

"Nos próximos três anos (2015 encerra o triênio de projetos de desenvolvimento do Grupo, lançado por Plassat), vamos manter a continuidade do plano em andamento. O Carrefour resgatou sua política de expansão, abrindo novas lojas em diferentes formatos. Vamos investir no multicanal e na excelência operacional com a melhoria da área de produtos frescos", diz Bédier.

Segundo os executivos, no caso do Brasil, o resultado de crescimento dos hiper e supermercados e do Atacadão, que puxou o desempenho positivo no país e nos números globais da companhia, serão ainda melhores quando forem concluídas as metas lançadas por Plassat e em andamento no mercado brasileiro, nas áreas de informática e logística.

"Implantamos o sistema de informática dos supermercados nos hipermercados e, quando tudo estiver concluído, será ainda mais simples a operação. Já em logística, o enfoque é de gerenciamento. Para ter bom desempenho em multiformatos, é preciso compartilhar os meios logísticos, como fazemos na França. Aqui (na França), em dois anos, teremos nossos caminhões abastecidos com biocombustível dos resíduos de nossos supermercados. O trabalho realizado na França, há três anos, foi iniciado, há alguns meses, no Brasil. No Brasil, faltava liderança e gerenciamento. Temos recursos internos e buscamos os recursos externos em logística e TI. Vamos aproveitar a experiência do grupo para isso no Brasil", diz Charles Desmartis, que diz ser histórica a carência de um sistema logístico para o Carrefour no Brasil.

E-commerce com conceito de unidade integrada

Quanto ao e-commerce, detalhes sobre a operação brasileira ainda permanecem sem detalhamento. Os executivos avaliam que o comércio eletrônico em cada país tem a sua característica e que não se consideram atrasados em relação a outros players do setor.

"No Brasil, tivemos a experiência do e-commerce entre 2010 e 2012 e testamos o que deveria e não deveria ser feito, de acordo com as próprias características. Temos trunfos agora que são os diferentes formatos de loja, os centros de distribuição no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte e o cartão Carrefour, que tem uma presença antiga no Brasil e uma boa base de dados e de situações de consumo. Nosso enfoque no e-commerce será de unidade integrada entre a loja, a logística e o cartão. Estamos contratando pessoas, gente jovem para cuidar do varejo eletrônico e entender melhor o que será preciso fazer ", acrescentou Charles Desmartis, que espera o lançamento da plataforma de e-commerce no início do quarto trimestre deste ano.

Em relação aos serviços que unem as lojas físicas e o digital já existentes na França e outros países, Desmartis afirma que, do ponto de visto tecnológico, tudo pode ser adaptável. Porém, o que está em testes hoje é o serviço Drive, no qual o cliente compra os produtos pela internet e pode retirá-lo em uma das lojas hipermercados ou supermercados em até duas horas. Desmartis contou que uma loja em Pinheiros (SP) está em teste desse serviço.

Em contrapartida, um modelo brasileiro está sendo “exportado” pelo Grupo para outros países: o Atacadão, que inspirou a criação da bandeira Supeco, na Espanha, chegou à Argentina com a marca Maxxi e ao Marrocos, com o nome Atacadão, que na grafia local, significa “ir fazer compras”.

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