Por monica.lima

Rio - Sob pressão das sanções econômicas americanas e europeias, por conta do envolvimento do Kremlin na crise ucraniana, a Rússia tenta contornar o embargo às suas exportações de armamentos com uma guinada em direção à América Latina, mercado tradicionalmente atendido pelos Estados Unidos. Com 55,5% das suas vendas concentradas em países da região da Ásia e do Pacífico, o conglomerado estatal Rostec quer ampliar o faturamento no Brasil e em outros países da região, responsável atualmente por 15% das receitas. A corporação vai instalar um centro de manutenção de aeronaves no país nos mesmos moldes do projeto-piloto iniciado no Peru e de outra unidade em operação na Índia.

A Rostec estima que existam na América Latina 420 aeronaves, entre helicópteros e aviões, fabricados na Rússia, mas apenas 35% dessa frota está em condições de operar. Até 2020, a expectativa é de que o mercado pós-venda na região movimente US$ 130 milhões por ano. “Ainda para 2020, prevemos que a receita (global) da Rostec crescerá mais que o dobro e chegará a 2,1 trilhões de rublos (US$ 41,9 bilhões, em valores atuais)”, projeta Sergey Goreslavski, diretor-adjunto da Rosoboronexport, única exportadora de produtos militares da Rússia e uma das 700 companhias que compõem a Rostec.

Em linha com o posicionamento do governo russo, Goreslavski miniza os efeitos das sanções econômicas sobre o país. “As sanções têm estimulado a expansão do programa de substituição de importações no interior da Rússia e aceleram de forma contínua o processo de desenvolvimento e implementação de novas tecnologias nacionais. Para resolver essa questão, tanto nós como nossos parceiros disponibilizamos todos os recursos intelectuais e financeiros”, argumenta o executivo.

Com forte presença nos mercados da China e da Índia, a Rostec se volta agora para outro Bric, o Brasil, onde a empresa tem hoje apenas presença comercial. Como parte dessa estratégia de expansão, o presidente russo Vladimir Putin incluiu o diretor-geral da Rostec, Serguey Chemezov, como representante do país no Conselho Empresarial dos Brics para o período 2013-2015. Para atrair clientes públicos e privados no Brasil, a Rostec acena com a bandeira da transferência de tecnologia, como parte de projetos desenvolvidos conjuntamente, dentro da chamada “diplomacia industrial”. A Rostec propõe inclusive a exportação dos projetos desenvolvidos bilateralmente entre Brasil-Rússia para países terceiros.“O Brasil possui a intenção de investir mais de US$ 100 bilhões durante os próximos 20 anos no setor de defesa. Este montante é mais de 40% do previsto para ser investido por toda a América Latina”, informa Goreslavski. Apesar de trabalhar com perspectivas favoráveis, a Rostec ainda não divulga o cronograma de instalação nem a localização do centro de manutenção de aeronaves no Brasil.

Uma das oportunidades na mira da Rostec é a venda do sistema de defesa antiaérea Pantsir-S1 ao Brasil para reforçar a segurança dos Jogos Olímpicos de 2016. Faltando menos de 500 dias para as Olimpíadas, a assinatura do contrato ainda depende de questões orçamentárias, reconheceu o ministro da Defesa, Jaques Wagner, na última quarta-feira. Além de fornecer proteção contra mísseis, o Pantsir pode ser integrado a sistemas de controle de tráfego de veículos e aviões, o que abriria para a Rostec as portas do mercado de produtos para uso civil. “Outros projetos de infraestrutura também estão na pauta de negociações com representantes do Brasil, dando continuidade à proposta anunciada na última reunião entre os líderes dos Brics, ocorrida em dezembro de 2014 na cidade de Fortaleza”, acrescenta o diretor-adjunto.

A origem da corporação é estatal. Em 2009, o governo russo reuniu 437 empresas estatais, muitas delas à beira da falência, debaixo da marca Rostec (Tecnologias Russas). Sob um mesmo guarda-chuva estavam marcas conhecidas dos brasileiros, como a da montadora de veículos Lada e a da lendária fabricante de fuzis Kalashnikov, além de indústrias que produzem de incubadoras a lentes de telescópio. Na época da formação do conglomerado, o prejuízo das empresas somava bilhões de rublos. Já em 2013, as receitas atingiram 1,04 trilhão de rublos (US$ 22,5 bilhões) e o lucro, 40 bilhões de rublos (US$ 900 milhões). O primeiro contrato de venda de armas para o país, antes mesmo da consolidação sob a marca Rostec, data de 1994.

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