Proteger e atacar. Mais do que nunca, o mantra adotado há cerca de seis anos pela Lenovo é a tradução do momento vivido pela companhia. Ontem, a fabricante chinesa superou as estimativas de analistas ao apurar uma receita de US$ 46,3 bilhões no ano fiscal encerrado em 31 de março, alta de 20% sobre o exercício anterior. O resultado foi impulsionado em grande parte pelas vendas recordes de 60 milhões de unidades na categoria de PCs e também em apostas mais recentes, como os smartphones, que atingiram a marca de 76 milhões em vendas, na trilha da aquisição da Motorola. Sob esse cenário, a empresa planeja agora refinar sua estratégia para ganhar tração em novas frentes de negócios e, ao mesmo tempo, manter a liderança em suas bases mais tradicionais: os PCs e o mercado chinês.
“Tivemos um forte desempenho e ganhamos participação de mercado em todos os nossos segmentos de negócios, liderado pela área de PCs, que registrou crescimento pelo oitavo trimestre consecutivo. Ao mesmo tempo, expandimos em cinco vezes as vendas de smartphones fora da China”, destacou Yang Yuanqing,executivo-chefe da Lenovo, em teleconferência com analistas. “Estamos prontos para nos transformar de uma fabricante de hardware para uma combinação de hardware, software e serviços. Essa abordagem vai impulsionar uma nova onda de crescimento da Lenovo nos próximos anos”, afirmou.
Como resultado de iniciativas recentes como as aquisições da Motorola e da unidade de servidores de baixo custo da IBM, o executivo destacou o fato de que o portfólio diversificado da Lenovo já começa a gerar, na prática, uma composição de receita mais equilibrada. No ano fiscal, a divisão de PCs representou 64% da receita, contra 82% no exercício anterior. Os negócios ligados aos dispositivos móveis responderam por uma fatia de 25%, enquanto a área de ofertas corporativas — que inclui frentes como servidores, armazenamento, software e serviços —, teve uma participação de 9% no período.
A escalada da marca no mercado de PCs — que culminou na tomada da liderança da Hewlett-Packard (HP), no fim de 2013 — esconde, em contrapartida, um risco comumente ressaltado por analistas, que destacam o fato de que apenas a categoria — em desaceleração — não é capaz de manter o crescimento da companhia sustentável em médio e longo prazo.
Nessa divisão, especificamente, Yuanqing destacou que a Lenovo irá reforçar o investimento em fatores como escala e eficiência para reduzir custos, ganhar participação e manter a liderança na categoria. Segundo o Gartner, a Lenovo encerrou o primeiro trimestre com 18,9% de participação no segmento — contra 17%, um ano antes. Entre janeiro e março, a marca contabilizou 13,5 milhões de unidades vendidas, alta de 5,7% na comparação anual.
Ao mesmo tempo, a Lenovo planeja fortalecer as sinergias dos negócios de PCs com a área de ofertas corporativas, especialmente em fatores como logística, manufatura, pesquisa e desenvolvimento, base de clientes e estrutura de canais e parceiros. A companhia reiterou a meta de atingir uma receita de US$ 5 bilhões no prazo de um ano na divisão empresarial, que fechou 2014 com uma receita de US$ 2,63 bilhões.
Já no grupo de negócios móveis — que inclui smartphones, tablets e smart TVs —, o plano envolve a estratégia de trabalhar com as marcas Lenovo e Motorola, em diferentes abordagens. “A marca Lenovo é muito forte em mercados emergentes, como Índia, sudoeste asiático e países da Europa Oriental, enquanto a Motorola tem uma base poderosa nos Estados Unidos e na América Latina”, disse o executivo. No mercado chinês, no qual a Lenovo vem sendo ameaçada pela conterrânea Xiaomi, Yuanqing afirmou que o foco é construir um modelo de vendas à parte das tradicionais vendas subsidiadas pelas operadoras. Nesse cenário, uma das prioridades são as vendas online, um dos fatores que explicam o sucesso da rival Xiaomi.
A Lenovo também vai investir na integração dos negócios de mobilidade com as ofertas relacionadas a Internet das Coisas e, especialmente, aos serviços de computação em nuvem. “Queremos investir na transição de um formato de compra ‘one-stop’ para um modelo de múltiplos pontos de contato com os consumidores”, afirmou o executivo.