Dentro de uma estratégia de ampliar as exportações brasileiras de máquinas e equipamentos para a África, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) conversa com instituições financeiras africanas de fomento para viabilizar linhas de financiamento para bens de capital. Um dos segmentos com maior potencial de expansão no continente — segundo análise do banco — é o de máquinas e implementos agrícolas. Entre 2013 e 2014, as vendas desses produtos para países africanos aumentaram 10,2%, totalizando US$ 157,8 milhões no ano passado.
“Estamos numa fase de mapeamento, de identificar parceiros financeiros e montar estruturas de financiamento”, diz Henrique Ávila, chefe da Área de Comércio Exterior do BNDES. Na semana passada, uma equipe do banco participou da reunião anual do Africa Development Bank, instituição pan-africana voltada para o financiamento de projetos de infraestrutura. Na última semana de abril, representantes do African Eximbank, banco focado na promoção do comércio no continente, estiveram no país para participar da feira de tecnologia agrícola Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). A programação — costurada com a ajuda do BNDES — incluiu reuniões com dezenas de fabricantes de máquinas e equipamentos para lavoura. “Identificamos nos últimos dois anos um interesse crescente das empresas brasileiras pelo mercado africano”, conta Ávila.
Em 2012, as exportações brasileiras de máquinas e aparelhos agrícolas, inclusive tratores, somaram US$ 135,9 milhões (preço FOB, para retirada na fábrica ou no local de armazenamento), de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). No ano seguinte, o total cresceu para US$ 143,1 milhões, um aumento de 5,3% na comparação anual. Além das negociações com instituições pan-africanas, o BNDES busca estreitar o contato com parceiros regionais e locais.
“As exportações têm crescido principalmente por conta do Programa Mais Alimentos Internacional”, diz Gustavo Lorena Pinto, economista do Departamento de Suporte a Operações na África, do BNDES. Criado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, o programa tem o objetivo de estimular as vendas externas desse tipo de bem de capital. “Não é só uma questão de gerar mercado, mas de preservar o que já existe”, afirma o engenheiro Ítalo Belmonte, autor de um estudo sobre o potencial de exportações de máquinas e implementos agrícolas para a África, em conjunto com Gustavo e Cláudio de Alencar Pádua.
Realizada a partir de entrevistas com 83 empresas do setor instaladas no país, a pesquisa indica que a principal concorrente dos produtos brasileiros nesse segmento é a China, que tem o preço baixo como maior atrativo de suas máquinas e implementos agrícolas. Dentro desse contexto, as condições de financiamento, por influenciarem o preço, tendem a “desempenhar papel relevante na concretização de novos negócios na África”, concluem os autores. Além do setor agrícola, Gustavo Lorena Pinto identifica oportunidades para o Brasil no mercado africano nas áreas de geração hidrelétrica; equipamentos para produção de açúcar e álcool e para construção civil e pesada; mineração; e máquinas para mineração.
Para Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas, da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as exportações podem amenizar os efeitos da queda de 20% nas vendas projetada este ano para o mercado interno. No ano passado, as empresas que integram a câmara setorial registraram vendas de R$ 9,5 bilhões. Segundo Bastos, o volume de operações já executadas dentro do Mais Alimentos Internacional alcançou R$ 1,2 bilhão em 2014. Desse total, 30% (R$ 360 milhões) ficaram com empresas que fazem parte da câmara setorial. “Isso dá cerca de 3,5%. Não é um número expressivo mas ajuda a cobrir a queda nas vendas”, argumenta Bastos, acrescentando que a África ainda é um mercado incipiente. “Temos muito interesse na continuidade do Programa Mais Alimentos Internacional. Qualquer valor que a gente consiga exportar já é um alívio.”
A atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em alguns países africanos e as condições similares de solo, clima e vegetação, principalmente na região subsaariana, são apontadas por Henrique Ávila, do BNDES, como fatores favoráveis aos exportadores de máquinas agrícolas. Apesar do potencial, a penetração no mercado africano esbarra na falta de recursos dos agricultores locais: entre 1980 e 2003, o uso de tratores por mil hectares de terras aráveis na África subsaariana caiu de dois para 1,3.