Por douglas.nunes

A entrada de pequenas e médias torrefadoras e varejistas fez a oferta de café em cápsulas disparar no mercado brasileiro. O número de empresas que comercializam o produto cresceu pelo menos sete vezes e meia num período de um ano, passando de apenas oito para mais de 60, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). Atraídas por um mercado que deve crescer 166,3% entre 2014 e 2019, alcançando vendas de R$ 1,39 bilhão, marcas como Suplicy Cafés Especiais, Baggio Cafés e Café do Centro recorrem à terceirização para produzir suas próprias cápsulas. Dessa forma, além de agregar valor ao produto, conseguem testar a aceitação de pequenos lotes de 100kg, volume que não justificaria a compra de uma máquina para manufatura de cápsulas, orçada em cerca de R$ 2 milhões.

Instalada em Ribeirão Preto (SP), a portuguesa Kaffa Cafés fabrica cápsulas para cerca de 50 marcas diferentes. Desde que chegou ao Brasil, em julho do ano passado, tem identificado o aumento na demanda de empresas de médio porte pelo produto. As empresas trazem o café torrado, sejam elas torrefadoras ou não, e a Kaffa faz testes de blend até que o produto final entre em produção. A carteira da Kaffa no Brasil hoje é de cerca de 50 clientes, torrefadoras e varejistas com sedes em Minas Gerais e São Paulo. Por enquanto, a empresa produz somente cápsulas compatíveis com máquinas Nespresso ou com sistema semelhante.

“Basicamente, todos começam com o mínimo de 30 quilos de café, para que sejam feitos testes de blend. O volume mínimo para produção em cápsulas gira em torno de 100 quilos. Mas cada empresa escolhe a quantidade desejada, de acordo com o seu projeto de vendas. Em geral, 100 quilos equivalem a 17 mil cápsulas, que são entregues em cartuchos de dez unidades. Esse volume abastece três lojas por mês, em média, que tenham uma boa procura por parte de consumidores. Mas há clientes nossos que solicitam o encapsulamento de 400 quilos de café ou mais”, diz Alexx Moga, diretor Comercial e de Marketing da Kaffa no Brasil.

Diante da maior procura no mercado de cápsulas, a Kaffa teve que trocar o galpão de 300 metros quadrados onde ficava sua sede, para um maior, de mil metros quadrados, no mesmo local. A expectativa é fechar o ano com uma produção de 21 milhões de cápsulas no Brasil. Em Portugal, a produção da Kaffa é de, em média, 100 milhões de cápsulas.

“Foi necessário ter uma área de estocagem maior e também um espaço para expedição do produto acabado que pudesse ser feita com mais rapidez. Temos recebido muito café para processamento. O que mostra que está havendo demanda no Brasil pelas cápsulas. O produto está se popularizando”, acrescenta o executivo.
Dono da Suplicy Cafés Especiais, que tem sua própria torrefadora e também 11 cafeterias em todo o Brasil, Marco Suplicy embarcou há pouco mais de dois meses no segmento de cafés especiais. A produção está em torno de 20 mil cápsulas mensais.

“Quando caiu a patente das cápsulas da Nespresso, vislumbramos um grande mercado para quem tem as máquinas em casa. Vendemos nossas cápsulas nas nossas lojas e também na rede de supermercados St. Marche, em São Paulo, para o consumidor final. Não há venda de café em cápsula para consumo nas lojas. Ainda este ano vamos ter mais novidades neste mercado de café em cápsulas”, diz ele, que deverá chegar a 20 unidades de sua cafeteria esse ano e vende o kit com dez cápsulas de seu café por R$ 18,90.

Liana Baggio, fundadora da Baggio Café, espera para este ano uma produção de 600 mil cápsulas. Volume superior ao identificado entre maio a dezembro do ano passado, que foi de 150 mil cápsulas, quando a empresa começou a identificar oportunidades neste mercado. A empresa trabalha com dois tipos de produção: a própria, com cápsulas em latas artesanais, chamada de linha gourmet Baggio Caps, e a produção terceirizada, para as cápsulas do Caffe.com Premium, à venda em embalagem box, recém lançadas.

Segundo ela, foi um período de introdução e ajustes, até o cliente reconhecer as cápsulas da marca como uma alternativa para uso nas máquinas Nespresso e a empresa ir além da produção interna para pensar em aumento da produção por meio de uma empresa especializada no Brasil. Os produtos da Baggio são vendidos em delicatessens e empórios.

“Começamos em maio de 2014 aos poucos, para conhecer melhor este mercado e fazer as melhorias e correções necessárias, mas de lá pra cá as vendas aumentaram bastante. O brasileiro ainda está se acostumando às cápsulas,é um mercado com enorme potencial. Até o final deste mês vamos lançar o café chocolate trufado em cápsulas, que serão produzidas por nós ”, diz ela.

No último dia 1º de abril, o mercado de máquinas e cápsulas recebeu um impulso extra, a partir da publicação pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) de uma resolução que zerou as alíquotas de importação para cápsulas de café torrado e moído (antes em 10%) e das máquinas de uso doméstico utilizadas para prepará-las (alíquota de 20%, anteriormente). A medida tem o objetivo de expandir mercado e atrair investimentos de fabricantes desses produtos. Em abril, as importações de café torrado e não descafeinado totalizaram US$ 3,92 milhões, volume 33,6% superior ao registrado no mesmo período de 2014, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Embora não estejam disponíveis dados específicos sobre a importação de cápsulas, o diretor executivo da Abic, Nathan Herszkowicz, reconhece que “muito provavelmente” a maior parte do café importado chega ao país na forma de cápsulas. “Esse valor sempre foi inexpressivo, mas cresceu — principalmente nos últimos três anos — para um nível relevante”, diz Herszkowicz.

A importação de máquinas para preparo de café em cápsulas somou US$ 35,3 milhões entre janeiro e abril de 2015, um incremento de 31% frente ao primeiro quadrimestre do ano passado, segundo informações da Secex. Curiosamente, em abril, quando as alíquotas foram zeradas, o volume de importação de máquinas caiu, provavelmente influenciado pela desaceleração econômica no país. “A Abic é favorável à importação das máquinas, mas não entende como correta a isenção de impostos para as cápsulas, já que existe similar nacional”, argumenta o diretor executivo da entidade.

No Brasil, a marca Nespresso era líder no mercado de cápsulas em 2014, com 73,6% de market share, seguida por Nescafé Dolce Gusto (13,1%) e Pilão Senseo (1,8%), de acordo com dados da empresa de pesquisa de mercado Euromonitor International. A consultoria britânica projeta vendas de R$ 1,39 bilhão em cápsulas para 2019 — quase três vezes o total registrado no ano passado (R$ 523,6 milhões). Já o mercado de máquinas deve crescer 91,4% no período, alcançando um patamar de R$ 528,3 milhões. Nada mal para um eletrodoméstico cujas vendas se expandiram 661% entre 2009 e 2014. Apesar do ritmo de avanço acelerado, ainda há muito espaço no mercado, conforme mostram dados de uma pesquisa encomendada pela Abic à Nielsen: no fim do ano passado, as cápsulas para preparo de café estavam presentes em menos de 2% dos lares brasileiros. “Na França, já são 35% do mercado”, compara Herszkowicz, da Abic, para que o café em cápsulas está longe de ser um modismo. “Elas vieram para modificar o mercado de café, no longo prazo”, acredita.

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