Por monica.lima

Rio - A sequência de captações anunciada neste segundo trimestre e a redução das margens com a venda de combustíveis importados devem reverter a melhora no índice de alavancagem apresentado pela Petrobras no início do ano. Para analistas, embora a emissão de US$ 2,5 bilhões em bônus de 100 anos tenha sido positiva para a empresa, os novos empréstimos jogam dúvidas sobre a meta de melhoria de sua estrutura financeira até o próximo ano. Somando todas as operações anunciadas, a Petrobras já captou US$ 18,5 bilhões este ano, que se somam aos US$ 125 bilhões de dívida registrados no dia 31 de março.

“A performance financeira de curto prazo vai piorar, antes de começar a melhorar gradativamente nos próximos dois anos, à medida em que o preço do petróleo inicie uma tendência sólida de recuperação”, avalia a agência de classificação de risco Moody’s, em comunicado no qual atribuiu o rating Ba2 aos títulos emitidos pela estatal ontem. Ao final do primeiro trimestre, mesmo com a explosão da dívida em dólar, a companhia apresentava um índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda), de 3,86x — ainda acima da meta de 2,5x mas já abaixo do pico de 5x registrado no terceiro trimestre de 2014.

A melhora no indicador foi provocada pelo Ebitda de R$ 21,5 bilhões, resultado das melhores margens de comercialização dos combustíveis. “O balanço do segundo trimestre vai ter um aumento do endividamento, com certeza”, comenta o analista Flavio Conde, do site WhatsCall?, lembrando que o bom desempenho do Ebitda não se repetirá, diante da alta do dólar e dos preços internacionais do petróleo e dos derivados. Para ele, a emissão tem efeito positivo de curto prazo sobre a companhia, ao comprovar que há oportunidades para buscar recursos para sustentar o seu plano de investimentos.

“Mas é um otimismo de tiro curto. Mais como um alívio, indicando que a Petrobras não vai ter problema para obter capital”, pondera. “Para as ações da Petrobras, a notícia é positiva. Primeiro, porque traz um respiro de curto prazo às suas contas e alongamento do perfil da dívida. Segundo, porque o mercado esperava uma captação menor (em torno de US$ 1 bilhão) e mais cara (em torno de 8,85% de juros)”, acrescenta o analista da Empiricus Roberto Altenhofen, em sua newsletter diária. “Agora, na essência, é pagar dívida com mais dívida. Está muito longe de resolver qualquer problema”, completa.

Os novos cronogramas de redução das taxas de alavancagem a níveis considerados ideais por agências de classificação de risco serão apresentados com o novo plano estratégico da companhia, previsto para o início de junho — mas com possibilidades de adiamento, segundo percepção do mercado. No primeiro trimestre, o índice de dívida líquida sobre patrimônio líquido saltou para 52%, refletindo o aumento do endividamento provocado pela desvalorização do real. O limite considerado ideal pela companhia, e pelas agências de classificação de risco, é de 35%.

De fato, as ações da companhia reagiram bem na Bolsa de Valores de São Paulo, fechando o pregão de ontem em alta de 4,53% (as ordinárias) e 3,80% (as preferenciais). “A Petrobras está tentando desesperadamente se reabilitar, e a venda de títulos em dólares é parte fundamental desse processo”, disse Nicholas Spiro, diretor-geral da Spiro Sovereign Strategy em Londres, por e-mail. “É uma jogada corajosa, considerando o dano à reputação que a empresa teve”. Segundo fontes, um dos objetivos da emissão foi justamente testar a receptividade do mercado à empresa após o escândalo provocado pela Operação Lava Jato, que levou ao adiamento da divulgação de balanços financeiros do terceiro e do quarto trimestre de 2014.

No entanto, as notas foram emitidas com um yield 2,87 pontos percentuais maior que os bônus de 100 anos denominados em dólares emitidos pelo México. O país vendeu bonds com vencimento em 100 anos no mercado externo em cinco ocasiões desde 2010, em três moedas diferentes. A Standard Poor’s classifica o México dois níveis acima da Petrobras; a Moody’s o coloca cinco degraus acima. Com Bloomberg

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