Por monica.lima

Rio - Este será um ano atípico para a indústria brasileira de higiene pessoal, cosméticos e perfumaria. Em vez das taxas de crescimento na casa dos dois dígitos que caracterizaram o setor nos últimos 20 anos, o faturamento deve — na melhor das hipóteses — permanecer estável em 2015, adverte João Carlos Basílio, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Pressionados por fatores como o encolhimento da renda das classes D e E, os efeitos do ajuste fiscal e até a crise hídrica, os fabricantes tentar minimizar a retração no mercado interno com exportações: as vendas externas devem aumentar 10% no ano, totalizando US$ 1,1 bilhão.

Nos três primeiros meses de 2015, a queda no faturamento (em termos nominais) chega a 5%, estima Basílio. “A expectativa para o ano é muito ruim”, afirma o executivo, também presidente da Rastro. Além do cenário macroeconômico adverso, com juros ascendentes e desemprego em expansão, a escassez de água no Sudeste e o aumento da carga tributária sobre cosméticos também contribuíram para a diminuição da demanda. Pesquisas indicam que, em alguns mercados, as brasileiras já estão aplicando menos xampu — não apenas para economizar água mas, também, energia. “O banho, com chuveiro elétrico, custa caro”, argumenta o presidente da Abihpec, numa referência à escalada das tarifas de energia.

No ano passado, os segmentos representados pela Abihpec apresentaram crescimento nominal de 11%, mas em 2015 a tendência é de expansão apenas para os fabricantes de artigos de higiene pessoal (3% a 4%, acredita Basílio). Como esses produtos representam entre 60% e 65% do faturamento total, é possível — embora improvável — que o resultado positivo compense a estabilidade no ramo de perfumaria e a queda esperada para o negócio de cosméticos. Penalizados com um aumento dos impostos este ano, por conta do ajuste fiscal em curso, os cosméticos respondem por 25% a 30% do faturamento do setor. O restante fica com o segmento de perfumaria.

Em meio a um ambiente desafiador, o setor enxerga a desvalorização do real frente ao dólar como o melhor estímulo dos últimos anos às exportações. “As exportações estão reagindo à desvalorização ocorrida a partir de julho, agosto do ano passado. Desde 2008 não ficávamos tão otimistas com relação às vendas externas”, diz Basílio. Acostumadas desde o início dos anos 90 a direcionarem a produção para o mercado interno, que desde então se expandiu num ritmo acelerado, as indústrias ainda exportam relativamente pouco. Afinal, o Brasil se consolidou como o terceiro maior mercado consumidor do mundo para produtos de higiene, perfumaria e cosméticos. No ano passado, as vendas externas desses fabricantes totalizaram US$ 1 bilhão, de acordo com a Abihpec. Para 2015, embora ainda seja difícil ter uma estimativa precisa, a expectativa do setor é de que a receita com exportações alcance US$ 1,1 bilhão, conta Basílio.

Apesar do real mais barato frente ao dólar, o avanço rumo a outros mercados está longe de ser um processo simples e imediato. “Somos um setor regulado e vendemos marcas. Antes de entrar num novo mercado estrangeiro, precisamos registrar o produto junto à autoridade sanitária local, adaptá-lo às exigências locais, registrar a marca...”, lista o executivo.

Mesmo com o prognóstico pessimista para este ano, o consumo de produtos de higiene, perfumaria e cosméticos deve voltar a aumentar nos próximos anos. Levantamento da empresa global de pesquisa Mintel indica que o consumo de artigos de beleza e cuidados pessoais terá incremento de 63% em termos nominais até 2019, o maior percentual entre as categorias pesquisadas. Em segundo lugar no ranking, aparecem os itens para casa, com 56% de expansão. Embora não iguale as taxas de crescimento registradas entre 2009 e 2014, o segmento de beleza e cuidados pessoais continuará a experimentar um ritmo de avanço acelerado.

No mercado interno, a variável mais importante — ainda em aberto — é a extensão e a eficácia do ajuste fiscal. “O mais importante é que o ajuste termine logo, que as regras fiquem claras. Já se discutem novas alterações no PIS e na Cofins”, conclui o presidente da Abihpec.

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