Rio - A americana Alcoa informou ontem o fechamento permanente de sua unidade de produção de alumínio primário em Poços de Caldas (MG). A fundição estava com suas atividades suspensas desde maio do ano passado. Como as condições de mercado não melhoraram, a companhia optou por encerrar ontem em definitivo as operações da unidade.
“O fechamento da fábrica de Poços retira permanentemente uma unidade de alumínio primário de alto custo do sistema da Alcoa e é mais um passo na criação de uma atividade de metais primários mais lucrativa”, comentou o presidente de Produtos Primários Globais da Alcoa, Bob Wilt, em nota divulgada pela companhia. Com o fim da fabricação de alumínio primário em Poços de Caldas, a Alcoa reduzirá sua capacidade global de fundição em 96 mil toneladas, para um patamar de 3,4 milhões de toneladas. A mina, a refinaria, a fábrica de alumínio em pó e a unidade de armazenamento continuarão a operar normalmente, informou a companhia no comunicado.
Em março, a Alcoa já havia anunciado a suspensão das atividades de sua usina de alumínio em São Luís, no Maranhão, com corte de 74 mil toneladas remanescentes de capacidade da Alumar. Na época, a empresa justificou a decisão como parte de um plano para otimizar seu portfólio. Por conta do fechamento da fundição de alumínio primário em Minas Gerais, a Alcoa projeta despesas relacionadas à reestruturação no segundo trimestre de 2015 entre US$ 100 milhões e US$ 110 milhões incluídos os impostos. O montante equivale a despesas de US$ 0,08 a US$ 0,09 por ação, sendo que 60% desse valor é não-monetário.
Primeira unidade da companhia no país, a fábrica de Poços de Caldas foi fundada em 1965. O encerramento das atividades da fundição da Alcoa engrossa uma longa lista de plantas produtoras de alumínio primário fechadas nos últimos três anos, recorda Bruno Rezende, especialista em commodities metálicas da Tendências Consultoria. “O setor perdeu competitividade devido ao custo de produção elevado”, diz o analista. O processo de transformação da alumina, matéria-prima gerada a partir da bauxita, em alumínio primário é eletrointensivo, uma característica que — num cenário de tarifas elétricas em alta — tem penalizado os fabricantes do metal. Desde o pico registrado em 2008, a produção de alumínio primário vem caindo ano após ano no país. Mesmo depois de uma retração de 26,4% registrada no ano passado, a estimativa da Tendências Consultoria é de que a produção encolha 18,4% este ano. “É uma situação que não vai mudar no curto nem no médio prazo”, sustenta Rezende. A falta de competitividade do alumínio brasileiro ajuda a explicar porque os fabricantes não adotaram uma estratégia similar à das siderúrgicas, que vêm reduzindo produção mas sem desmontar fábricas.
Embora a produção local de alumínio primário esteja em declínio, o consumo do metal no país deve aumentar a uma taxa composta de crescimento anual de 7% a 9% entre 2012 e 2020, de acordo com estudo da consultoria Bain & Company. “A demanda nem está tão ruim assim, salvo a situação conjuntural que estamos vivendo este ano. Não é um fator determinante para o desempenho do setor”, afirma o analista da Tendências. Para atender a demanda, o país ampliou as importações de alumínio. No primeiro trimestre deste ano, as compras externas do metal somaram 161,2 mil toneladas — um incremento de 10,9% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). Desse total, 62% das importações nos primeiros três meses de 2015 foram de alumínio primário e ligas.