Rio - Nem a venda de smartphones resistiu ao atual momento da economia brasileira. Pela primeira vez no país, os chamados celulares inteligentes registraram queda expressiva, conforme aponta o estudo “Mobile Phone Monthly Tracker”, realizado pela consultoria IDC.
Em abril de 2015, foram comercializados 4,86 milhões de aparelhos, o que representa 1% a menos que no mesmo mês de 2014. Já em maio, o tombo foi ainda maior (16%), com 3,89 milhões de smartphones vendidos. Com isso, a previsão é que as vendas caiam 12% no segundo trimestre. Antes, a indicação era de alta de pelo menos 5%.
A expectativa também é ruim para as vendas totais em 2015. O mercado deve fechar o ano com cerca de 54 milhões de unidades vendidas, uma redução de quase 15% em relação à previsão inicial, de 63,5 milhões.
“O resultado surpreendeu. No final do ano passado, nossa projeção era de crescimento de 15% nas vendas de smartphones em 2015. No primeiro trimestre, já vimos as primeiras travas e baixamos a previsão para 10% ou 11%”, disse o analista de pesquisas da IDC Brasil, Leonardo Munin.
“Os resultados de abril e maio, que costumam ter alto crescimento, já que concentram datas como o Dia das Mães, foram uma surpresa. Esperávamos um crescimento de 5% a 7% nesses meses”, completou. Em 2014, o segundo trimestre registrou um aumento de 56% nas vendas de smartphones, frente o mesmo período do ano anterior.
A alta do dólar gerou repasses de preços ao consumidor com os aparelhos intermediários custando de R$ 30 a R$ 60 mais, e os tops de linha marcando aumento de R$ 100 a R$ 200, afetando diretamente o volume de celulares comercializados, apontou a pesquisa da IDC.
Ainda de acordo com o estudo, o poder de consumo e a confiança do brasileiro também colaboraram para o desempenho do mercado de smartphones. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 1,4% em junho e chegou a 83,9 pontos, segundo menor nível desde sua criação, em setembro de 2005. Já o Índice de Confiança da Indústria (ICI) recuou 4,9% no mês passado, com 68,1 pontos, o menor da série iniciada em outubro de 2005.
Segundo Munin, os canais de varejo e de distribuição estão com os estoques de produtos lotados, as operadoras já reduzem o volume de compras de aparelhos e a maioria das fabricantes está reajustando os negócios e as projeções de vendas frente à nova realidade do mercado brasileiro.
Uma boa alternativa para as fabricantes, ponderou Munin, é apostar nas pessoas que querem trocar de aparelho. “Convencer quem tem um celular tradicional a comprar um smartphone e quem já tem um celular inteligente de entrada ou intermediário a optar por um modelo mais robusto é a solução para que o mercado continue girando um bom volume de dispositivos”. Hoje, o Brasil ainda tem uma base instalada muito grande dos chamados feature phones — mais de 48% da população ainda tinha esse tipo de celular até o fim de 2014.
A expectativa é que as vendas retomem um pouco do fôlego no segundo semestre, por conta principalmente do Black Friday. “Os canais devem voltar a se abastecer entre setembro e outubro. Entretanto, se as vendas não atingirem o esperado, o resultado do ano pode ser ainda pior”, ponderou o analista da IDC.
Segundo ele, para 2016, a previsão é de crescimento entre 8% e 9% nas vendas de smartphones, por conta justamente da troca de aparelhos usados por novos. “Boa parte da transição que acreditávamos que seria esse ano, com a recessão, deve ficar para o ano que vem. Com os valores dos aparelhos começando em R$ 350, e com o varejo parcelando, ainda há oportunidades de compra”, finalizou.