Por monica.lima

São Paulo - Foi-se o tempo em que os segredos guardados a sete chaves eram armas poderosas para o sucesso de uma empresa. Em uma época em que conceitos como comunidade e colaboração ganham força, companhias dos mais variados setores e portes começam perceber que é preciso olhar além dos seus limites. Alimentar essas relações entre diferentes elos da cadeia é a motivação do “100 Open Startups”. O movimento brasileiro está promovendo a segunda edição de seu evento homônimo, que tem como norte a união das ideias de grandes empresas e startups, sob os princípios da coinovação.

Na iniciativa, startups de todo país podem se inscrever até 31 de agosto para participar de uma rede de 40 grandes empresas e 10 fundos de investimento. Até dezembro, essa comunidade formada por nomes como 3M, IBM, Kroton e Whirlpool irá selecionar 100 empresas novatas para participar de um encontro final, em fevereiro de 2016, com a presença de representantes de toda essa cadeia. “Nós só conectamos esses dois mundos. A ideia é que, a partir desse contato, cada grande empresa crie seus próprios programas de inovação e seus modelos de relacionamento com as startups”, diz Bruno Rondani, organizador do 100 Open Startups.

Rondani destaca que, ao propor um diálogo efetivo entre essas duas pontas, o plano é consolidar um modelo diferenciado para o fomento das startups no país, distante às famosas apresentações de poucos minutos dos empreendedores para a avaliação de investidores, também conhecidas como pitchs. “Além de ser um processo muito restritivo, o empreendedor acaba sendo avaliado de forma muito superficial e dura, sem ter acesso a elementos concretos que contribuam para o desenvolvimento do seu projeto. Já o executivo de uma grande empresa consegue fornecer essa visão diferenciada”, afirma. “Ao mesmo tempo, como já ouvi de grandes executivos, desenvolver essa cadeia é de interesse de suas próprias empresas, pois elas dependem diretamente dessa evolução”, observa.

Sob essa visão, a “competição” parte de doze desafios propostos por essa rede de executivos, em áreas como saúde, educação e agronegócios. As startups submetem suas propostas para os desafios de seu interesse. A seleção passa por três validações, nenhuma delas eliminatória. A primeira é a avaliação da própria comunidade de empreendedores. Na etapa seguinte, as grandes empresas escolhem com quais novatas querem interagir. O último funil é o contato com os fundos de investimento. “Nós usamos toda essa rede para validar a própria rede. Ao fim desse processo, um comitê escolhe as 100 startups que participarão do evento”.

Em três dias, são feitas diversas aproximações e os frutos dessas interações não têm limites. “Há benefícios intangíveis e resultados mais práticos. Na primeira edição, além de R$ 3 milhões em prêmios como acesso a programas no exterior, tivemos o anúncio de um edital do Sesi-Senai com recursos de subvenção para inovação e duas startups receberam investimentos-anjo”.

Participante da primeira edição, a Lean Survey foi uma das novatas que recebeu um investimento-anjo de R$ 300 mil. Criada há um ano, a startup atua com pesquisas de mercado. A companhia seleciona e treina uma base de pesquisadores à distância e todas são realizadas e monitoradas por meio de um aplicativo, com recursos de geolocalização, o que reduz fraudes e custos de 20% a 40%, na comparação com empresas tradicionais do setor.

Mais que o aporte, a novata enxerga outros benefícios. “Geralmente, o executivo de um fundo não entende de pesquisa de mercado para falar do meu produto. Ele entende de investimento. No evento, não eram juízes que estavam nos avaliando, mas executivos que nos deram dicas para moldar e refinar o nosso produto, até porque tinham interesse em comprá-lo mais à frente”, diz Fernando Salaroli, sócio-fundador da Lean Survey.

Como reflexo da participação, a Lean Survey está desenvolvendo quatro pilotos com grandes empresas. O aporte está sendo usado para subsidiar esses projetos e também para sustentar, remunerar e expandir a base atual de 900 pesquisadores, presentes em três estados. “Com esses pilotos, vamos adicionar outros oito estados à essa base. Nossa ideia é usar esses projetos para testar, dar visibilidade e validar nosso modelo até o fim do ano”, afirma.

Validar seu projeto é também a estratégia da Bliive, mais uma participante da primeira edição do evento. A startup é uma rede colaborativa de troca de tempo. Na prática, um usuário oferece, por exemplo, uma aula de guitarra a outro usuário. Como “pagamento”, ele recebe uma moeda virtual para trocar por qualquer outro serviço na comunidade. “O evento nos deu oportunidade de ter contato com grandes empresas que acreditam na colaboração. É essencial ter acesso a companhias que estão dispostas a coinovar e que têm verba para testar e desenvolver um produto”, diz Breno Valentini, sócio da Bliive.

Ele diz que o encontro — juntamente com outras iniciativas — deu visibilidade e contribuiu para a empresa ser aprovada em um programa de financiamento do governo britânico e desenvolver sua operação no Reino Unido.Esse cenário ajudou a companhia a definir seu modelo de geração de receitas, baseado na oferta de comunidades para empresas, órgãos e organizações não-governamentais. “Nosso plano até o fim de 2015 é testar nosso produto no Reino Unido e no Brasil, para começar a ganhar tração efetivamente em 2016”, afirma. Como parte desse processo, a Bliive acaba de fechar seu primeiro contrato corporativo no Brasil. Com um piloto inicial envolvendo três mil funcionários de uma grande empresa de call center, o projeto total incluirá 35 mil colaboradores.

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