Por diana.dantas

Mais importante grupo de cinema alternativo do Rio de Janeiro, o Estação Botafogo, hoje Estação NET, correu sério risco de fechar suas portas. Diante de uma crise milionária, que gerou uma dívida de R$ 43 milhões, o grupo escapou da falência graças ao empenho de um dos seus sócios, do carinho de seus frequentadores e sobretudo da sensibilidade empresarial, muito rara na área de cultura. Em conjunto, estes agentes perceberam o prejuízo afetivo e intelectual daquela que seria uma perda irrecuperável. E puseram mãos à obra.

As razões que levaram à crise foram muitas e já bastante difundidas pela mídia. Agora, o que importa é ressaltar, e tornar exemplares, as ações que impediram a clausura do grupo. A começar pelo empenho visceral do mais atuante dos sócios remanescentes, Marcelo Mendes. Foi ele que superando as limitações de quem nunca cursou uma cadeira sequer de Direito preparou os termos da recuperação judicial do Estação e negociou, na raça, a dívida com os acionistas.

O primeiro passo foi reduzi-la de R$ 43 para R$ 8 milhões. O grupo também devia R$12 milhões em impostos que foram parcelados e estão sendo pagos pelo Programa de Recuperação Fiscal, o Refis. Além dos termos jurídicos, Marcelo comandou uma ação nas redes sociais tornando pública a agonia do grupo. Conseguiu em pouco tempo mobilizar mais de 10 mil seguidores no Facebook que repartiram memórias e contribuíram para enfatizar a importância do Estação no cenário cultural carioca. O desfecho feliz viria com o interesse da Net em se tornar parceira atrelando seu nome à marca e criando uma linha de ação de negócios inédita, visionária e promissora.

Há que se destacar a sensibilidade do vice-presidente de Estratégia e Gestão Operacional da Net, Rodrigo Marques, que tomou conhecimento do caos financeiro do grupo pelos jornais. Rodrigo, poucos sabem, fora estagiário do Estação há muitos anos, o que dá um colorido especial a esta trama de nítidos contornos cinematográficos. A parceria causou espécie a princípio no setor audiovisual. Afinal, o que interessaria a uma empresa de TV por assinatura e Video on Demand (Vod) a associação com uma rede de cinemas, a princípio concorrente?

O conflito, segundo os novos parceiros não existe. Os planos incluem a exibição de filmes exclusivos do Estação no Net Now, o VoD da Net. Também serão realizadas ações construtivas, como convites a roteiristas de séries internacionais para participarem de palestras sobre a relação cada vez mais próxima entre cinema e tevê no espaço do Estação. As palestras farão parte do programa NetLab TV, cujo intuito é estimular roteiristas e profissionais do mercado audiovisual. Além disso, caberá ao Estação criar uma curadoria para selecionar filmes para o Net Now, o que com certeza melhorará em muito a qualidade dos produtos oferecidos pela TV a cabo.

Às vésperas de comemorar 29 anos de existência, o Grupo Estação dá um verdadeiro presente ao seu público com esta parceria. Mais do que garantir a sua sobrevivência, o grupo, de fôlego renovado, garante que a comunhão irá permitir a ampliação de novas salas e a compra, fundamental para o futuro, de equipamentos digitais condizentes com as novas necessidades da tecnologia de projeção. Fica assim preservado o futuro de um patrimônio cultural dos amantes da sétima arte, que sempre enxergaram no Estação a janela de acesso para cinematografias alternativas ao já consagrado mainstream. Agora é mãos à obra. E que viva o Estação!

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