A intimação levou a Sony a cancelar o lançamento do filme, o que irritou profundamente Barack Obama, que rejeitou a imposição dos terroristas e pressionou a Sony a lançar “A Entrevista”, o que ocorreu semana passada. A opção pelo lançamento, ainda que em circuito tímido, foi a decisão mais correta. Afinal, seria um precedente perigoso permitir que uma ameaça terrorista interferisse na cadeia de produção ou na própria veiculação de produtos de uma empresa.
Outros títulos da Sony foram hackeados, como “Annie”, “Mr. Turner” e “Os Mercenários 3”. Nenhum no entanto com a repercussão diplomática tão forte quanto “A Entrevista”. A rede de intrigas não envolve apenas Estados Unidos e Coreia do Norte, mas também a China, onde está sediada a precária base de telecomunicações norte-coreana. Vale lembrar que o filme é apenas o lado mais midiático de um ataque que revelou também informações sigilosas da Sony sobre salários, previdência dos funcionários, filmes inéditos e roteiros em andamento.
Os ciberataques recentes apresentam um novo desafio para a preservação da autonomia criativa. Impõem uma outra lógica de ação terrorista. Não visam de forma específica a questões pontuais de um determinado país ou mesmo conflitos internacionais entre duas nações. Eles alertam para a realidade de uma guerrilha pulverizada, que se conecta dos pontos mais distantes para organizar ações virtuais que em questão de tempo podem se tornar reais. Quase como num videogame em que bastam alguns comandos para que a terra seja reduzida a pó. Parece exagerado? Pode ser. Mas há muito tempo as estruturas não andavam tão desprotegidas.