Por diana.dantas

Sou de um tempo em que ver o Oscar era brega. Afinal, quem iria colocar lenha na fogueira da festa de consagração imperialista norte-americana? A afirmação do potencial de conquistar corações e mentes mundo afora não fazia a cabeça de estudantes, intelectuais e jornalistas, que acompanhavam resultados sempre com desconfiança e muita má vontade. No máximo, um comentário cínico.

Mas o mundo mudou, os muros caíram e hoje é possível dizer que o Oscar passou a ser assunto de interesse maior, sobretudo quando se analisa a repercussão do evento nas redes sociais. Até sites de clubes de futebol interrompem as aguerridas discussões de torcida para que os visitantes façam seus comentários, emitam palpites e, claro, de forma apaixonada defendam seus favoritos. O que teria mudado?

Bom, de início o Oscar já não tem toda essa força de afirmação mundial. Os cinemas nacionais se desenvolveram, criaram seus próprios nichos e até versões locais da cerimônia ganharam espaço, como é o caso do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Basta olhar as bilheterias do fim de semana, para constatar que o grande vencedor, “Birdman”, não conseguiu, mesmo com todo buchicho, arrecadar maiores bilheterias. “50 Tons de Cinza”, ainda que sem sequer disputar o badalado prêmio, vendeu muito mais ingressos. O marketing já encontrou outras técnicas além do Oscar.

O Oscar continua evidentemente sendo a grande festa da indústria, porém a interpretação da festa já não cabe em clichês arrumados, o que exige mais dos comentaristas de plantão. O que as redes sociais estão mostrando é que o cinema comercial convencional permanece sustentando um fascínio, mas com um alcance de crítica cada vez maior. Quem manifesta suas opiniões e até desconfianças contra as decisões do Oscar no fundo manifesta também o seu desejo de entender mais o cinema e não apenas afirmar a paixão.

Além do mais, resultados recentes mostram que é cada vez mais difícil enquadrar a máxima “esse é um filme típico do Oscar”. Este ano, por exemplo, a disputa foi entre dois filmes de características muito particulares: “Birdman” e “Boyhood”. Ambos abordando a questão do tempo cinematográfico, sendo na simulação de um plano-sequência ou num esforço inédito de manter a coesão de uma história filmada ao longo de 12 anos. Nenhum dos dois exemplos típicos da supremacia imperialista norte-americana. E ganhou o filme dirigido por um mexicano! O suficiente para sacudir as convicções dos internautas.No fim, o que o Oscar promoveu foram dois filmes de autor, em que as personalidades dos diretores se impuseram às exigências do mercado. Ou seja, Oscar hoje é cult. Resta saber até quando.

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