Por monica.lima

Estou irritada com toda esta conversa de “vai ser ou não vai ser necessário fazer racionamento de energia”. É inadmissível que um país como o Brasil, com a possibilidade de utilizar diversas matrizes energéticas, fique sempre neste perrengue de torcer para chover. Todo mundo sabe que sempre existe a possibilidade de não chover. E há muito tempo que o plano B do Brasil, que são as termelétricas, já estão no limite também. Não conheço bem o setor, mas não é preciso ser um conhecedor para entender que se a produção de energia está menor, porque não chove, e todo mundo continua comprando igual, pela velha lei de oferta e demanda, este produto vai ter aumento de preço. E não é pouco, pode chegar a 15%. E aí é que eu fico mais irritada ainda. Novamente vamos pagar a conta pela ineficiência e pela falta de gestão do governo.

Desde sempre ouço discussões sobre a escolha de um modelo entre as várias matrizes de energia no Brasil. O país tem vento e áreas suficientes para implantar vários parques eólicos, como o de Osório (RS), de pequeno e médio portes. Países como a Holanda e a Alemanha, que adotaram esta matriz energética, não se arrependeram. O país também tem sol suficiente para valer a pena utilizar a energia solar. Somos um país tropical. A China já está investindo firme na utilização de placas solares em tudo quanto é lugar. Lá, eles também usam as hidrelétricas e, mais ainda do que nós, as termelétricas, energia bem mais cara e mais poluente.

O Brasil também tem uma farta hidrografia, e poderia optar por pequenas hidrelétricas, com menor impacto ambiental. Mas, ao que parece, o país optou por grandes hidrelétricas, grandes obras, grandes intervenções no ambiente e na economia. Investimento de muito dinheiro e de muito tempo até o resultado aparecer.

No meu motor home tenho três placas solares e três baterias que acumulam a energia. Com o tempo claro e embaixo do sol, consigo sobreviver, somente com a energia produzida pelas das placas, por dois dias, gastando com geladeira (o que mais gasta), iluminação, bomba d’água, carregando eletrônicos (celulares, notebook, etc), TV, som e DVD. Depois de dois dias é preciso completar, ou andar com o carro para o motor carregar as baterias, ou dar uma carga de energia elétrica, porque o que está entrando de energia é menos do que está se gastando. E só é possível utilizar ar condicionado e microondas se o motor home estiver ligado na energia elétrica, pois as baterias do carro não aguentam. Se a energia começa a diminuir, vou limitando o uso de equipamentos e tento não abrir a geladeira.

Sei muito bem como gerir meu sistema elétrico. E sei que, se der bobeira e ficar confiando que a chuva vai passar e o sol vai carregar as baterias, quando isso não acontece, posso ficar sem nenhuma energia. Por isso, tenho que ter o cuidado de desligar a bateria do carro do sistema elétrico da casa. Do contrário, posso não conseguir nem dar a partida no automóvel.

O meu prédio tem uma laje que pega sol o dia inteiro, em diversos ângulos. Fico pensando que, se colocássemos placas solares, teríamos energia para toda a iluminação do edifício e talvez desse até para fazer os elevadores funcionarem. Seria uma boa economia no que pagamos pela energia. Só que é um sistema caro para a implantação, pouco divulgado, sem nenhum incentivo, e com poucos fornecedores. Interessante, que o governo reduz o IPI dos carros para aumentar a venda de veículos que são poluentes, mas não incentiva a indústria de placas e sistemas de energia solar, que não são poluentes e desafogam a utilização de energia elétrica, cujo potencial está, sim, no limite.

Imagino que quem está no comando da gestão energética do Brasil, e nesse caso, são as mesmas pessoas há quase uma década, já saiba como gerir o sistema elétrico do país. Até porque são as mesmas pessoas que aderiram a um modelo de aumento de consumo de eletrônicos e eletrodomésticos, implementando políticas públicas para incentivar a compra destes equipamentos. O modelo de crescimento pelo consumo tem esse problema: uma hora não dá mais para consumir porque não há infraestrutura para aguentar mais consumo. E o Brasil já chegou no limite em vários setores. E no da energia elétrica, convenhamos, todo mundo está sabendo que estamos perto do limite há muito tempo. Passamos até por racionamento em 2001. E o que foi efetivamente feito de lá para cá?

Na questão da energia elétrica, a única coisa que é possível fazer, agora, é rezar para chover. E, todos nós brasileiros, vamos, novamente, pagar do nosso bolso pela falta de eficiência na gestão de um verdadeiro programa energético, que, vamos combinar, o Brasil não tem. Além do fato de que a energia elétrica é um forte insumo para a indústria, que, obviamente, vai repassar o aumento deste custo no preço ao consumidor.

Mas não é só com a energia elétrica. No Brasil, tudo está no limite. Vamos para esta Copa com o coração na mão, na fé de que nada fora do normal vai acontecer, porque, se acontecer, destrambelha tudo. Imagina se a natureza resolve se revoltar. A estiagem de julho resolve se antecipar e não chove até a Copa, os reservatórios vão à bancarrota e o racionamento seria inevitável. E depois de muita estiagem, cai um toró daqueles, em julho, em plena Copa. Imaginou o trânsito? Não, melhor contar que Deus é brasileiro e que o Brasil vai passar raspando na prova de anfitrião.

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