Por bruno.dutra

Foi o coração aberto dos brasileiros e a vontade de ser feliz e de conviver bem dos estrangeiros. O resto foi o de sempre. Os serviços não estavam muito melhores. Os empresários que treinaram seus funcionários, garçons, faxineiras, atendentes, mostraram um serviço melhor. E os taxistas acabaram se valendo dos tradutores dos celulares. Mas os cursos profissionalizantes de hotelaria, de inglês, entre outros, que foram prometidos pelos governantes quando a Copa foi anunciada, há sete anos, não aconteceram. Mais uma vez, a educação e o treinamento das pessoas não foram prioridade. Foi a força de vontade de cada um que fez a diferença e cobriu as falhas do governo.

O foco do governo ficou nas obras e nem assim as coisas funcionaram. As obras inauguradas sem que estivessem concluídas foram o maior exemplo da falta de planejamento, de comprometimento e de transparência nos gastos e na gestão das verbas. Aliás, as obras nunca ficarão prontas no tempo previsto, porque é no contrato aditivo que todos ganham mais. Estes modelos de corrupção precisam acabar. Ainda temos muito pela frente com as Olimpíadas.

E por falar em Olimpíadas, espero que o governo tenha entendido agora que precisa levar em consideração que os nossos hermanos latino-americanos gostam de acampar e viajam de qualquer forma. São todos do interior, descendentes de índios, viajam com as casas nas costas, mesmo em vans. As associações de campismo já tinham alertando tanto as autoridades que estavam avaliando acomodações para a Copa quanto a Autoridade Pública Olímpica da necessidade de o governo providenciar um camping municipal, com áreas para barracas, trailers e motorhomes, em um espaço bem localizado e com fácil acesso a transportes públicos.

Não nos deram ouvidos e foi um vexame ter que improvisar uma área para colocar todo mundo. Se tivesse sido feito um camping municipal caprichado, poderiam ter cobrado R$ 10 por pessoa, por dia. Com a quantidade de turistas que ficaram acampadas, no mínimo o governo teria recuperado o investimento. Esperamos que para as Olimpíadas possamos oferecer uma estrutura mais organizada para os campistas.

Os resultados práticos exibidos na Copa mostram que é necessário mudar a forma de fazer as coisas no Brasil. Todos os comentaristas ressaltaram que a vitória da Alemanha foi fruto de um trabalho de equipe, onde todos podiam ocupar várias posições. Foi o efeito de planejamento, persistência na metodologia adotada e treinamento de longo prazo, além de um trabalho de educação de base para se buscar novos talentos e investir na evolução deles.

Ou seja, a primeira lição é que até gênio tem que treinar. A nossa sociedade está refletida na nossa seleção. Temos valores individuais muito bons, mas tem que treinar, tem que investir no longo prazo para evoluir. Tem que começar com o investimento na educação de base. Não dá para contar só com o improviso, com a genialidade, com a raça.

A segunda lição foi dada pelos times do Brasil e da Argentina. Não é possível garantir a vitória quando a equipe depende de uma pessoa para vencer. Trabalho de equipe tem que ser de equipe, ou seja, todos são importantes e devem fazer muito bem o seu trabalho. E todos têm que trabalhar para todos. Não foi isso que vimos. Faltou o Neymar, nossa seleção se desestabilizou e fomos para o brejo. Na Argentina, faltou o Di María e o Messi não acertou tudo.

Foram para o brejo também. Se as empresas olharem para seus umbigos vão ver que nos seus quadros existem muito mais equipes a la Brasil e Argentina, do que no modelo alemão. Infelizmente. Porque o “culto” a um líder, que nem sempre é o melhor tecnicamente, atrasa a coletividade. É preciso sempre pensar que todos têm qualidades que precisam ser incentivadas e treinadas.

Uma terceira lição desta Copa foi dada pelos torcedores do Japão, que mostraram a eficiência de se trabalhar em grupo e a consciência de que a coletividade é mais importante do que a individualidade. Ao final dos jogos, eles recolheram todo o lixo das suas arquibancadas, e separaram o lixo para reciclagem. Deixaram o estádio limpo para os próximos torcedores. Os japoneses nos ensinam que a educação está na persistência das ações. No Japão, há cartazes nas ruas, nas estações de Metrô, mostrando como as pessoas devem se comportar. E todos seguem, para que as coisas funcionem da melhor maneira para todos.

Um bom exemplo do que deu certo na Copa, pelo pouco que li, foi que a segurança funcionou muito bem. Mais uma prova da importância do treinamento. Lembro-me de ler várias reportagens falando que os policiais estavam sendo treinados para conter atos terroristas, para lidar com multidões, para segurança de autoridades. E o treinamento deu certo. A polícia trabalhou tão bem que desbaratou uma quadrilha de venda de ingressos. Por essa eficiência, nem a Fifa esperava.

Sugiro que os empresários pensem nestas lições da Copa, na importância de investir na satisfação das pessoas e acreditar que receberão de volta os dividendos destes investimentos. Acreditar, de verdade, que é possível ter lucro atendendo bem, utilizando a política de estar ao lado do consumidor, e que investir em educação, no treinamento e no reconhecimento do avanço do funcionário trará o efeito de lucros consistentes, no longo prazo.

É difícil mudar a cultura do se dar bem, do meu pirão primeiro. Mas tenho a impressão de que o brasileiro quer sair disso, quer melhor qualidade de vida para todos, quer mais eficiência, quer menos improviso, quer mais transparência nas relações. E são desejos de todas as classes para todas as classes. Estamos numa boa hora para mudar.

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