Dá até medo de pensar no futuro, com estas projeções. No Rio de Janeiro, a falta de vagas para estacionamento aumentou consideravelmente com as construções das novas estações de metrô, e com o aumento da rede de ciclovias. Duas razões inquestionavelmente importantes. Mas o fato é que as vagas diminuíram muito. Por outro lado, as obras da Perimetral e da revitalização da região portuária parece que pararam. Viajo toda a semana para Teresópolis. Não importa a hora que eu volte ou o dia da semana, enfrento um enorme engarrafamento na Avenida Brasil, já que os ônibus não podem mais pegar a Linha Vermelha, pois há obras na saída em São Cristóvão. E quando digo aos taxistas a minha preferência de trajeto, eles se recusam e não querem me levar. Dizem que só podem ir por Benfica e, nesse caso, a corrida fica R$ 15 mais cara.
Quando olhamos para os exemplos no exterior, verificamos que a maioria dos países europeus e asiáticos optou por ampliar, melhorar e interligar o sistema público de transporte (metrôs, trens, barcas) para que as pessoas optem por estes meios e deixem seus carros em casa para o lazer. Todos podem ter carro, a questão é não usá-los todos ao mesmo tempo, nos mesmos horários. Por outro lado, utilizam todos os modais possíveis para transporte de carga (trens, barcaças fluviais, caminhões) interligados ou não. No Brasil, o transporte público de massa, em todo o país, está concentrado nos ônibus. E o transporte de cargas praticamente só é feito por caminhões.
As secas deste ano estão fazendo com que a gente pense que precisamos de planos B e C para contornar as dificuldades que, inevitavelmente, vamos ter. As secas encarecem a água e a energia, custos que se refletem por toda a cadeia. As chuvas fortes derrubam o que já está construído. E construções, no Brasil, como se lê nos jornais, são demoradas e superfaturadas.
Por que não mudamos o modelo? Porque, dizem os economistas, se diminuirmos a venda de carros (e este ano está prevista uma queda de vendas de 9% no setor), vamos desempregar milhares de trabalhadores e desestabilizar uma enorme cadeia de fornecedores. Bem, a indústria quando robotizou grande parte da montagem dos automóveis colocou muitos funcionários na rua e o governo nunca cobrou estes empregos. Deixa quieto. Mas, se é preciso mudar, vamos dar condições desses trabalhadores migrarem para outras áreas necessárias. Poderíamos, por exemplo, criar a indústria da energia solar. Estes trabalhadores poderiam ser treinados para fabricar placas de energia solar, criando uma outra rede de fornecedores e de assistência técnica. E o subsídio dado à indústria automobilística poderia ir para a construção de fábricas de placas solares, uma em cada estado. Isso é muito pouco, muitos vão dizer. Sim, mas precisamos sair das grandes obras e começar a ter intervenções menores, e mais específicas, para cada parte deste país, que tem muitas caras e necessidades diversas.