Janeiro é o mês em quem mais se gasta no ano. Ganha disparado de dezembro, época de presentes e festas de fim de ano. Assim que começa o mês disparam a chegar os pagamentos. E é só facada. No meu caso, juntando os IPVAs de dois veículos e o IPTU, com a opção pela cota única, chega a R$ 6 mil. Eu sei que, para muitos representantes da classe AA gargalhada, esse valor não é o do IPVA de um de seus veículos, mas para a classe média, é difícil de arcar. E para quem ainda tem filhos em idade escolar, somam-se a estas despesas, a compra de uniformes, livros, e muitos etc.
Duas coisas me vêm à mente quando penso nestas despesas. A primeira é o desânimo de ser certinha, de pagar tudo em dia, sabendo que receberei muito pouco em troca de tanto que estou pagando. Eu dirijo em estradas e sei que meu IPVA não se reveste em boas estradas, com boa sinalização, pistas duplas, pista auxiliar nas subidas. Só terei isso se pagar pedágio. E são altos, principalmente no Rio de Janeiro. Em São Paulo, os valores são bem menos salgados. No Paraná, são muitos pedágios, mas os valores não são altos. No Rio, é indecente, um dos valores mais altos por quilômetro do mundo. E nem vamos comparar com as estradas estrangeiras.
O IPTU a gente paga e nem sabe direito para o quê se reverte. Para políticas públicas de urbanismo? Bem, nisso a aplicação não está muito eficiente. Não temos visto muito cuidado com novas construções em encostas, aumento no número de prédios em comunidades já entupidas, construções ilegais em matas. Leio na internet que a função do IPTU é tipicamente fiscal, porém também possui função social. Sua principal finalidade é a obtenção de recursos financeiros para os municípios, embora possa ser utilizado como instrumento urbanístico de controle do preço da terra. Entendi. Deveria ser aplicado no saneamento básico, na coleta de lixo, na iluminação das ruas, na limpeza e manutenção dos monumentos e praças, na melhoria de escolas e na área da saúde. Mas, na realidade, pouco chega ao povo.
A segunda coisa que mais me incomoda nesta época de janeiro, ocasião em que qualquer deslize nos gastos das férias pode degringolar o orçamento do cidadão, é o marketing agressivo para vender crédito para quem já está fragilizado. Na minha opinião deveria ser proibido oferecer linhas de crédito, que, sabemos, tem os maiores juros de mercado, para o incauto pagar tudo de uma vez — IPTU, IPVA, gastos com o cartão de crédito nas férias, início de ano escolar — com um empréstimo, que ele vai passar mais de um ano para pagar. Quem, com o mínimo de boa fé, ofereceria isto como se fosse vantagem? Afinal, os impostos, material escolar e uniforme podem ser pagos parceladamente. Um empréstimo desse é para terminar de atolar o indivíduo, que, imagino, já deve estar negativado. Mas eles emprestam também para negativado. É a ética do mercado.
Não bastasse todas estas despesas, se avizinha o Carnaval. Outra época na qual é impossível não gastar mais. Mesmo que você se tranque em casa, vai pagar mais pela cerveja, que já está sumida dos supermercados e deve voltar às prateleiras na semana que vem, com preços mais altos. E vai pagar, muito mais, pelo ar-condicionado ligado direto. A conta da energia elétrica de janeiro vai ser outra facada. De cara, 26% mais alta, mas ainda terá a despesa da banda tarifária, agravada do aumento do uso por causa do excesso de calor.
Bem, se a opção for sair às ruas, o cidadão terá que enfrentar os engarrafamentos espalhados pela cidade, metrôs cheios e muitas ruas interditadas, que se somarão as atuais já interditadas, e teremos praticamente uma cidade sitiada. Ou seja, só dá para ir no bloco de rua do lado da sua casa, onde você possa ir e voltar a pé. Alguns taxistas me disseram que tem um grupo muito insatisfeito com o aumento de quarenta centavos e o uso da tabela, já que gastam mais de R$ 300 para aferir o taxímetro, e estão se organizando num grupo do WhatsApp para não trabalharem no Carnaval, assim como fizeram no Ano Novo. Bem, eu penei para achar táxi para voltar para casa no Ano Novo e não vou ficar me arriscando de novo longe de casa.
A outra opção é viajar. O combustível aumentou. A passagem de ônibus intermunicipal também. De carro, na ida, o engarrafamento é menor, cada um sai em uma hora diferente. O problema é voltar, com enormes engarrafamentos, gente mal educada pelos acostamentos, falta total de patrulhamento para isso, e, no final, quase chegando em casa, ainda se pega a Lei Seca. Bem, este quadro desanima. Mas são vários dias, dá para aproveitar bastante, porém tem que ir com a carteira cheia, pois os preços das refeições em restaurantes, principalmente em áreas turísticas, estão surreais mesmo!
Depois de pensar tudo isso, já quero ver começar março para tentar que as despesas entrem um pouco nos eixos. É comum nesta época ficarmos pensando em como vamos dar conta de tantas despesas, como vamos reorganizar as finanças. A primeira coisa é não se desesperar. Há muita gente querendo ganhar dinheiro com o seu desespero. Anote tudo que tem que pagar, faça planilhas, pense na melhor forma de parcelar. E, aperte o cinto desde agora. Não pense que “já que entrei fevereiro atolado de dívida, vou enfiar o pé na jaca no Carnaval e depois eu vejo”. Pensando assim, você vai ficar fazendo contas, desesperado, o resto do ano. Anote, planeje, corte supérfluos. Viva com o que tem. E, de preferência, guarde uma poupança para não ficar tão transtornado nesta época. É sempre melhor pensarmos como vamos restaurar a poupança depois de tantas facadas em janeiro e fevereiro, do que se esvair em sangue nos empréstimos pelo resto do ano. E assim, sobreviveremos todos a este janeiro desorganizador.