Por monica.lima

Madri, Espanha - O Banco Santander reforça no Brasil a estratégia de segmentação que já adota na Espanha, lançando nos próximos meses um pacote de serviços e produtos específico para pequenas e médias empresas, batizado como “Advance”. A iniciativa é uma das diretrizes da gestão o novo presidente mundial do Santander, Javier Marín, que assumiu a liderança da instituição financeira no ano passado. “Nossa meta é nos aproximar cada vez mais dos clientes e aumentar seus vínculos com o banco”, disse ontem em Madri, na abertura do XIII Encuentro Santander — América Latina. O banco espanhol vai lançar na sexta-feira no evento o seu primeiro produto global, em segredo até ontem — outra preocupação da gestão de Marín é estender aos clientes as vantagens de ser um banco que atua em 15 países, entre os quais o Brasil.

O executivo afirma que as perspectivas de crescimento do banco para os próximos anos são melhores do que nos anos anteriores e do que em 2014, devido a sua expectativa de melhoria dos cenários. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o crescimento do Brasil, por exemplo, ficará em 1,8% neste ano. “Estamos encantados com o desempenho do nosso banco no Brasil”, disse Marín, acrescentando, porém, que o Brasil precisa acelerar reformas para voltar a crescer.

Apesar de demonstrar grande otimismo, inclusive com a recuperação europeia, Marín não conhece os negócios na região em detalhes — perguntado sobre questões especificas de países como Argentina, Chile, Colômbia e Brasil, ele pedia ajuda aos respectivos presidentes do banco, todos presentes na apresentação a jornalistas de todos os países latino-americanos onde opera. “Nossa presença na América Latina é muito mais que o lucro que podemos ter em cada pais”, diz.

O presidente do Santander também ressaltou aspectos positivos da gestão do banco — segundo ele, um dos únicos três europeus que não apresentou nenhum prejuízo trimestral em decorrência das dificuldades impostas pela crise financeira internacional. “Nem precisamos de ajuda do governo”, lembrou. Marín disse que o Santander também é o segundo mais eficiente da Europa, considerando os principais concorrentes (BBVA, BNP Paribas, Bradesco, Citigroup, Deutsche, HSBC, Intesa Sanpaolo, Itaú, JPMorgan Chase, Lloyds, Nordea, Scotiabank, Sociéte Générale, UBS, UniCredit): índice de 48%.

“Além disso, estamos nos posicionando de acordo com as macrotendências globais”, afirma. Como exemplos, Marín diz que o banco está melhorando os canais de distribuição para aproveitar o crescimento das classes médias nos mercados emergentes; focando em soluções de previdência para atender ao envelhecimento da população, cada vez mais longeva; e investindo no atendimento em multicanais — que incluem os digitais, como mobile banking.

Com capitalização de mercado de 92 bilhões de euros (somente no Brasil, tem o equivalente a 19 bilhões de euros), o banco fechou 2013 com 1,17 trilhões de euros em ativos, 3,3 milhões de acionistas e 107 milhões de clientes. A maior parte do lucro, 84%, vem do banco comercial. “Somos o banco global com maior número de agências”, afirma. No Brasil, segundo Marín, o Santander tem 12% de participação de mercado e 3.489 agências.

“Nossa carteira de negócios é diversificada. Nosso foco é acompanhar os mercados emergentes em crescimento, nos adaptar às mudanças e aumentar nossa capilaridade”. O banco tem 695 bilhões de euros em empréstimos, dos quais 41% são hipotecas — os maiores mercados são Espanha e Reino Unido, mas no Brasil esses empréstimos vem crescendo muito, no ritmo de 30% ao ano; 18% é crédito para consumo; 14% está com empresas e 12% global bank.

Outro ponto que Marín destaca como vantagem para o Santander é seu nível de capitalização: considerando as regras do acordo de Basiléia III, o índice é de 12,1%. “O cálculo já inclui a exigência adicional por conta de sermos um banco sistemicamente importante”, diz. Uma instituição sistemicamente importante é a que tem potencial de contagio elevado, ou seja, se apresentar problema de solvência pode contaminar rapidamente todo o sistema. “No Brasil e no Reino Unido, somos o banco mais solvente de todos”, afirma. “E o mais capitalizado da America Latina”. O revés dessa moeda é que, quanto mais capital imobilizado, menos o capital rende, ou seja, a rentabilidade fica menor do que a dos concorrentes no Brasil.

Sobre a oferta voluntária de recompra de ações no Brasil, o presidente disse que não significará o fechamento do capital do banco. “Foi uma oportunidade imperdível que identificamos para gerar valor aos acionistas, principalmente aos minoritários”, afirmou, acrescentando que as filiais do banco atuam de forma independente da matriz, em termos de capital e liquidez, em todos os países onde está: “Ficamos expostos a leis dos reguladores da Espanha e dos reguladores locais, mas a vantagem é que, se acontece algo ruim em um país, o efeito não contamina as outras operações”. A estratégia também tem como objetivo fazer o Santander ser percebido como um banco local, e não espanhol, diz Marín.

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