Por julia.sorella
"Não somos uma prisão. A família visita quando quiser" diz o médico Fernando BoiguesEstefan Radovicz / Agência O Dia

Niterói - Seu Osvaldinho era hipertenso e diabético, não tinha mais forças para caminhar e nem mesmo para sentar na cama. Levado para um pequeno hospital de Santa Rosa, em Niterói, semanas depois dispensou o andador e dançou valsa com a fisioterapeuta. Acabou morrendo num asilo, depois de uma queda. Osvaldinho foi o primeiro paciente do Hospital Placi, que atende pacientes terminais.

O médico Fernando Boigues administra o Placi há um ano, desde a instalação. “Somos um guarda-chuva de cuidados extensivos não só para pacientes terminais, mas também para quem precisa de reabilitação ou sofre de doenças crônico-degenerativas. Não existe nenhum hospital igual no Brasil.”

A escolha de Niterói, que detém bons índices no ranking de desenvolvimento humano, “foi uma feliz coincidência”, diz Boigues. “Achamos aqui o terreno ideal. Até o fim do ano, a expansão vai começar. Teremos hospitais no Rio, São Paulo e Brasília.”

É um hospital diferente, sem dia, hora de visita ou de levar o doente para tomar banho de sol. O tempo médio de internação é de 60 dias para pacientes que precisam de reabilitação ou de sete dias para os que necessitam de cuidados oncológicos paliativos. Médicos, psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos e assistentes sociais trabalham em conjunto. Reúnem-se um dia na semana para discutir o estado dos pacientes. Cada um sabe o que os demais estão fazendo.

Além dos cuidados extensivos, critério criado pela direção do Placi, outro conceito trabalhado pela equipe é o da ortotanásia. A psicóloga Paula Camargo explica: “Evitamos medidas fúteis. Se um paciente terminal é levado para um grande hospital, sem equipe especializada, ele vai ser entubado, acoplado a um respirador para prolongar a vida numa UTI. Trabalhamos para assegurar uma passagem tranquila, mantendo o paciente em nível de consciência rebaixado. E preparamos a família dele também, abrindo espaço para falar da dor”, conta Paula, que conversa muito com parentes próximos no banquinho da área de lazer do Placi.

A reação das famílias é sempre tranquila, afirma a geriatra Regina Novais, que chama a atenção para o fato de que todos os pacientes são, conforme determina a Anvisa, monitorados por câmeras em todos os 30 leitos.

Seu Osvaldinho dançaria novamente uma valsa.

O Cuidador

Geraldo Corrêa, 79 anos, não fica longe da mulher por nada. Casou-se com Marline quando tinham 25 anos. Namoravam desde os 20. Depois de distúrbios neurológicos, ela está há dois meses internada. Ambos são servidores públicos aposentados. Marline dirigiu uma prisão semiaberta e bastava o juiz ler a assinatura nos relatórios detalhados para aceitar a opinião dela, diz o marido.

Na área de lazer do hospital%2C Geraldo Corrêa conversa com a psicóloga Paula Camargo sobre o estado da mulher%2C MarlineEstefan Radovicz / Agência O Dia

Desde a juventude (“Ela foi meu primeiro amor, e eu o dela”), a cumplicidade é grande. Adoravam viajar de carro, às vezes fazendo o roteiro na hora. Até Buenos Aires gastaram 5 mil litros de gasolina. Geraldo mantém acesa a esperança de que voltem para casa. “Enquanto isso, venho todos os dias com meus livros e palavras cruzadas.”

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