Rio - O limite era a Avenida Roberto Silveira. De um lado, Icaraí, com prédios luxuosos, moradores de alto poder aquisitivo, comércio sofisticado — destaque para a Rua Coronel Moreira César, com suas lojas de grifes —, e a praia, claro, com uma vista de tirar o fôlego. Do outro, Santa Rosa: região mais residencial, modesta, comércio popular, lugar de gente mais simples e próximo a comunidades como o Viradouro e Souza Soares.
Mas foi-se o tempo em que os bairros eram vizinhos. Agora, no meio do caminho, tem o Jardim Icaraí, que começa na Roberto Silveira e vai até a Rua Geraldo Martins. O lugar já nasceu com o nariz em pé e se tornou uma das regiões mais procuradas e valorizadas da cidade. São inúmeros prédios novos e modernos já erguidos, além de tantos outros em construção. O comércio esta à altura da exigência dos novos moradores, em sua maioria jovens bem-sucedidos e donos de seus imóveis.
O Jardim Icaraí não só empurrou Santa Rosa mais para longe de Icaraí como também roubou a cena quando o assunto é a vida noturna da cidade. Repleto de bares, o local se tornou o queridinho da juventude niteroiense, que adora um chope gelado e azaração. A Rua Nóbrega é um dos points preferidos dessa galera.
Porém, embora o nome Jardim Icaraí já tenha caído na boca do povo, a prefeitura não reconhece a região por esta ‘graça’ e afirma que, oficialmente, o bairro permanece como Santa Rosa.
“Não foi criado um bairro denominado Jardim Icaraí. A região pode ser conhecida por esse nome devido ao impulso dado pelo mercado imobiliário. Fato é que, administrativamente, não houve alteração na denominação e esta não está prevista para acontecer”, explicou a secretária de Urbanismo e Mobilidade, Verena Andreatta.
De acordo com o Censo 2010, o bairro de Santa Rosa tinha naquela ocasião 30.701 habitantes distribuídos por 2.509.513 metros quadrados. Eram 14.724 imóveis, dos quais 824 comerciais, industriais e ou de serviços. Porém, a realidade de hoje é bem diferente.
Novas gerações
Uma das mais novas frequentadoras do Jardim Icaraí é a empresária Tânia Apolinário, de 60 anos. Apesar de morar em Icaraí, ela conta que não ia a Santa Rosa. “Na minha juventude, o bairro era chamado de Santa Rosa e eu nem atravessava a (Avenida) Roberto Silveira para o lado dele. O lugar não tinha nada. Hoje está muito diferente”, conta ela.
Tania trabalha com o filho Henrique Apolinário, dono da Barber Shop, um sofisticado estabelecimento que mistura barbearia e bar na Rua Ministro Otávio Kelly. A loja funciona no térreo de um moderno prédio comercial construído recentemente onde era uma vila de casas.
“Abrimos a loja há três meses e já conseguimos igualar o faturamento com a de Icaraí, que é mais antiga”, comemora. “Eles casaram e compraram o apartamento aqui. É um bairro jovem e animado. Icaraí ficou para os velhos”, brinca ela, reclamando da falta de estacionamento.
Sobem os preços dos imóveis e do IPTU
Para a prefeitura, o autônomo Leo Mattos, de 48 anos, mora em Santa Rosa, endereço que consta no carnê do IPTU. Para os Correios, é Icaraí, nome escrito nas correspondências. Mas, como seu apartamento é localizado na área chamada de Jardim Icaraí, ele adotou o bairro como endereço quando perguntado onde mora.
Na região há 12 anos, Leo diz não saber o motivo do lugar ter mudado de nome e nem quando isso aconteceu, mas se sente satisfeito com as mudanças pelas quais a área vem passando. Para ele, a principal delas foi a valorização do seu imóvel. “Hoje, não compro um apartamento aqui nem do tamanho e muito menos do preço que comprei o meu na época em que me mudei. Em pouco mais de dez anos, tudo subiu muito de preço”, diz ele.
O imóvel tem três quartos e vista privilegiada para o estádio Caio Martins, do Botafogo. “Vejo jogo na área VIP”, brinca ele, que mora com a mulher e o filho.
Apesar de ter se beneficiado com a mudança do nome do bairro, o que elevou, e muito, o valor do seu imóvel, ele reclama do IPTU.
“Pago mais que meu pai que mora na Praia de Icaraí. Todo ano é um aumento absurdo”, conta ele, apontando também os moradores de rua como outro problema.
“Eles ficam na pracinha ao lado do meu prédio. De manhã, quando chegamos com as crianças para brincar, estão dormindo e tem sujeira para todos os lados, sem contar os cachorros que podem atacar nossos filhos”, denuncia.