Por marina.rocha

Niterói - Local de peregrinação de milhares de católicos de todo o Brasil entre as décadas de 1960 e 1990, Porto das Caixas, distrito de Itaboraí, pode voltar a receber um grande número de fiéis. Está prevista para terminar em novembro a obra de restauração do antigo Santuário de Jesus Crucificado, que fica na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, que pertence a Arquidiocese de Niterói. O trabalho custou R$ 1 milhão. Além disso, o responsável pelo lugar, padre Norberto Donizetti Brocardo, está fazendo uma campanha junto às igrejas para estimular as pessoas a frequentar o local.

Essas são algumas das ações para levar de volta os peregrinos a Porto das Caixas enquanto o novo santuário (foto acima) não fica pronto. A construção já dura 20 anos e não tem previsão para ficar pronta. “Falta dinheiro e mão de obra”, revela padre Norberto. A obra está orçada em R$ 12 milhões. O lugar, com capacidade para 15 mil pessoas — cinco mil no interior e 10 mil no pátio — vai abrigar a imagem de Cristo Crucificado, que fez de Porto das Caixas o maior santuário do Rio.

De acordo com fiéis%2C jorrou sangue pelas chagas da imagem do Cristo Crucificado%2C que fica dentro do santuário. Mistério fez a região ficar conhecida e atAlexandre Vieira / Agência O Dia

Segundo relatos de fiéis que assistiam à missa em 26 de janeiro de 1968, jorrou sangue pelas chagas da imagem de Cristo. O fenômeno durou 24 horas. O mistério foi comprovado em um exame do material feito em um laboratório da cidade. A história, imediatamente, se espalhou e Porto das Caixas nunca mais foi a mesma.

O auge da visitação ao santuário aconteceu nas décadas de 1980 e 1990, quando cerca de 10 mil pessoas visitavam o templo por ano. Elas ficavam até três horas na fila para passar, por alguns segundos, diante da imagem de Jesus. Hoje, o turismo religioso está limitado aos sábados e domingos. Nem mesmo as barracas que vendem objetos religiosos em frente à igreja abrem durante a semana.

“Era muita gente todos os dias e de muitos lugares do Brasil. A fila de ônibus era imensa. Era uma alegria”, lembra o motorista Josimar da Silva, de 49 anos, morador de Porto das Caixas. No último dia 12, ele foi ao santuário e, diante da imagem de Jesus Crucificado, rezou com a mãe, Mariza de Souza.

Perguntado por que estava ali, ele chorou. A resposta veio alguns segundos depois. “Há quatro meses sofri um acidente e vim agradecer a minha recuperação. Venho sempre, desde pequeno. Não tenho nada para pedir, apenas para agradecer”, contou ele com voz embargada e os olhos marejados de lágrimas.

Porto das Caixas fica a cinco quilômetros de Itaboraí e tem apenas 3.782 habitantes, segundo o censo de 2010 do IBGE. A passos lentos, a obra do novo santuário vai seguindo. “Contamos com a contribuição dos fiéis, por isso não temos data para terminar essa obra. E, com a vinda do Comperj para cá, os profissionais das construção civil foram trabalhar lá, que paga melhor. Não dá para competir com o Comperj”, lamenta o religioso. A próxima etapa da construção é colocar os vitrôs e vitrais, que ainda serão confeccionados.

“Tem ainda que fazer terraplenagem e os estacionamentos. Vamos redesenhar a área externa do santuário”, explica padre Norberto.

Peregrinos agradecem por milagres

O fenômeno ocorrido em Porto das Caixas se tornou objeto de estudiosos, e são muitos os casos de milagres e graças alcançadas atribuídas a Jesus Crucificado. O da camareira Elza Soares, de 50 anos, (foto ao lado) é um deles. Ela contou que, há dois anos, conseguiu comprar uma casa.

“Sempre pedi a Ele que me ajudasse a comprar minha casa. Morei com minha mãe, depois com minha irmã e agora tenho o meu lugar. Desde então, sempre que tenho uma folga, venho a Porto das Caixas assistir à missa e agradecer”, contou a moradora de Itaboraí, que estava com a filha Aline Soares, de 22 anos, e o neto Davi Lucas.

Assim como Elza, muitas pessoas que conseguem a casa própria voltam ao santuário e deixam na sala dos ex-votos, como forma de agradecimento pela graça alcançada, a miniatura do bem adquirido. O lugar tem ainda uma armário repleto de vestidos de noiva deixados pelas mulheres que conseguiram se casar, fotos de pessoas que teriam sido curadas de alguma doença, entre outros objetos.

São muitos os casos de milagres e graças alcançadas atribuídas a Jesus CrucificadoAlexandre Vieira / Agência O Dia

Estrada ruim prejudica turismo religioso

O turismo religioso em Porto das Caixas entrou em decadência no final dos anos 90 e, a tranquilidade que vive hoje o lugar nem de longe lembra a época dos peregrinos. Para padre Norberto, o acesso precário ao local — são cinco quilômetros de estrada de chão — e a falta de estrutura para receber os fiéis desestimularam as visitas ao santuário.

“Têm que fazer melhorias na infraestrutura do lugar. Abrigávamos as pessoas nas casas dos moradores e das irmãs de caridade. Itaboraí está crescendo e já temos hotéis, mas ainda há muito o que fazer”, alerta ele.

Mas a prefeitura já iniciou as primeiras obras em Porto das Caixas. Em janeiro desse ano, moradores que invadiram uma área ao lado do antigo santuário onde havia um túnel — ele foi soterrado pelo tempo — foram removidos. Era por ele que, no século 19, chegavam as mercadorias de todo o Brasil para serem distribuídas. O distrito funcionava como um entreposto, daí o nome Porto das Caixas.

“Quando o lugar deixou de ser rota de escoamento da produção, entrou em decadência, mas tem uma importância muito grande na história do país. Vamos escavar uma parte do túnel e transforma-lo num ponto turístico. Queremos agregar a história do local ao turismo religioso, que tornou Porto das Caixas conhecido do Brasil”, disse o secretário de cultura de Itaboraí, Cláudio Rogério da Silva Dutra. Estão ainda nos planos da prefeitura outras melhorias, entre elas, os acessos ao lugar.

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