Niterói - Principal produtor e exportador de laranja do país entre 1960 e 1980, Itaboraí perdeu o posto para São Paulo, mas não a vocação para o cultivo de produtos da terra. A cidade, que hoje vive da construção civil, impulsionada pela chegada do Comperj, ainda tem produtores que sobrevivem da agricultura familiar e que apostaram num novo conceito de plantio: os orgânicos.
Os produtos são consumidos, principalmente, pelos alunos das 87 escolas públicas municipais da cidade e comercializados em mercados e feiras de orgânicos da Zona Sul e Barra, no Rio. “Essa foi a maneira de garantir a venda desse agricultores. Pagamos preço de mercado, vamos buscar e entregamos nas escolas, sem atravessador. Podemos comprar deles até R$ 20 mil por ano”, explica o secretário de Agricultura, Abastecimento e Pesca de Itaboraí, José Carlos de Oliveira Rodrigues.

Os produtores começaram a ser cadastrados no ano passado. Sem muitas informações sobre eles, os funcionários tiveram que bater, literalmente, de porteira em porteira para identifica-los. “Até agora achamos cinco, mas acreditamos que esse número seja bem maior. Plantar orgânico requer uma técnica especial, é mais complicado e dispendioso”, diz a assessora técnica da secretaria, a engenheira agrônoma Ana Paula Guimarães. O programa da prefeitura tem apoio da Emater-Rio.
Produtora de orgânicos, a agricultora Maria da Silva Gomes, de 50 anos, foi uma das primeiras a serem cadastradas. Ela cultiva vários produtos, mas seu forte é a abóbora. Maria deixou de usar produtos químicos na plantação há três anos, após receber um alerta do filho, Douglas da Silva Gomes, de 32 anos. “Ele me disse: ‘mãe, sabia que você está estragando a natureza?’. É muito bom ter esse apoio e, principalmente, não usar agrotóxico”, conta ela.
Mas, para fazer parte dessa lista, é necessário ter a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e ser inscrito na Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro.
Os orgânicos começaram a chegar às escolas de Itaboraí em agosto do ano passado. Antes, apenas o mel produzido no município e servido na sobremesa, era usado. Um caminhão da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Pesca pega os alimentos nas propriedades e os deixa nas escolas.
“Isso nos permite agir na prevenção de problemas de saúde”, analisa Inaiá Figueiredo, da Secretaria de Educação e Cultura de Itaboraí.
Município já foi a ‘capital da laranja’
Ainda há aqueles que insistem no cultivo da laranja como José Nazareno, de 59 anos. Ele tem 16 mil pés da fruta em 500 mil metros quadrados do sítio. “Com o fim das plantações, a mão de obra ficou escassa. Ninguém mais quer trabalhar na colheita”, reclama. Atualmente, Itaboraí tem 44 agricultores e produz mais de 300 toneladas de laranja por ano.
O secretário de Agricultura, José Carlos, conta que três fatores contribuíram para a diminuição da produção de laranja: uma praga, que destruiu os pés; a emancipação de Tanguá, em 1995 — que ficou com a maioria dos terrenos onde havia laranjas —, e o Comperj, responsável por parte das terras.