Em pleno verão, praias de Niterói sofrem com diversas irregularidades
Flanelinhas, animais na areia, lixo e até churrasco são problemas na orla da cidade
Por marina.rocha
Niterói - A estação mais quente do ano já chegou há 15 dias e com força total — a sensação térmica tem atingido 50 graus. E a combinação do calor com as férias escolares tem atraído uma verdadeira multidão de banhistas para as praias da cidade. A demanda é tão grande que o ‘Choque de Ordem’ prometido em novembro pela Operação Verão da Secretaria de Ordem Pública (Seop) de Niterói parece ainda não dar conta do recado.
Moradora de Itacoatiara costuma levar seu cão da raça Pug à praia%2C o que é proibidoMaíra Coelho / Agência O Dia
Para ver de perto como está a situação nas praias do município, a equipe do DIA NITERÓI percorreu, na última terça-feira, Camboinhas, Charitas, Icaraí, Itacoatiara, Itaipu, Piratininga e São Francisco e constatou várias irregularidades e a ausência de guardas municipais e PMs para coibi-las. Sem fiscalização, até os banhistas fazem o que querem ignorando os avisos do que é proibido na orla da cidade.
Em Itaipu, o problema já começa no asfalto com flanelinhas disputando os inúmeros carros. Eles são tantos que dá até briga. Já na areia, os banhistas têm que dividir o espaço com o lixo e as oferendas à Iemanjá, muito comuns nessa época do ano. “Acho um absurdo essa sujeira. Não tenho nada contra as religiões, mas quero praia limpa”, reclama a promotora de vendas Jocilene de Souza Duarte, de 40 anos.
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Além das flores, charutos, bebidas e velas, a areia também foi ocupada pelas seis pranchas de stand up paddle de Gerson Martins, de 23 anos, que cobra R$ 50 a hora para os banhistas curtirem o esporte sensação do verão. “Trabalho aqui há dois anos e não pago nada à prefeitura”, revelou ele que, apesar de oferecer colete salva vidas, não se responsabiliza pela segurança dos clientes . “Se a mãe quiser colocar o filho na prancha e leva-lo mar adentro é problema dela”, avisa ele.
Em São Francisco e Charitas%2C sem serem advertidos pela fiscalização%2C amigos fazem churrasco à beira marMaíra Coelho / Agência O Dia
Em Itaipu também não havia, pelo menos visível aos frequentadores, posto com salva vidas e nem sinalização indicando onde procucura-los em caso de emergência. “Fico sentada na areia sempre de olho nas meninas. Não vi salva vidas”, disse Aline Felizardo, de 22 anos, com a irmã Cinthia Felizardo, de 27 anos. Para garantir a segurança das filhas, elas compraram uma boia para Emily Vitória, de 7, e Shayane Coutinho, de 11.
Já em Itacoatiara, paraíso dos surfistas e praia que abriga até campeonatos internacionais de surf e bodyboarding, o estacionamento irregular é o primeiro sinal da falta de fiscalização. Há carros estacionados em vagas para deficientes e para motos. No mar, os cachorros dividem a área com os banhistas, entre eles, crianças. Moradora de Itacoatiara turismóloga Laura Nedel, de 33 anos, reclama da desordem urbana.
“Os carros param em ambos os lados causando engarrafamento, por isso costumo levar 20 minutos da minha casa até a saída do bairro, o que faria em segundos. E não adianta ligar para os órgãos públicos porque eles nem aparecem”, denunciou Laura, que faz outra reclamação: “Faltam banheiros públicos aqui. Meu muro sempre fica com cheiro de xixi quando a praia está cheia”, conta a moradora, que costuma levar Mané, um cão da raça Pug, de 2 anos e 10 meses, à praia, o que é proibido. “As pessoas não se incomodam, não”, justifica ela.
Em São Francisco e Charitas, sem serem advertidos pela fiscalização, amigos fazem churrasco à beira mar.
Em Icaraí, esculturas de areia fazem a alegria da criançada
Apesar dos problemas da orla de Niterói, as praias da cidade ainda têm muitos encantos. E a Praia de Icaraí é uma delas. Um dos principais cartões postais da cidade, emoldurada pelo Pão de Açúcar e a Pedra da Itapuca, ela agora também ganhou um belo castelo de areia, que chama a atenção de quem passa pelo calçadão.
O ajudante de pedreiro Waldemir Pereira da Silva leva um dia para fazer grandes esculturas na Praia de IcaraíMaíra Coelho / Agência O Dia
O responsável por ele é o ajudante de pedreiro Waldemir Pereira da Silva, de 34 anos. Todo fim de ano, ele troca a pá, a colher de pedreiro, o cimento e as pedras, em Itaboraí, por uma faca de refeição, único instrumento que usa para esculpir as esculturas.
“Levo um dia para fazer uma escultura como essa porque o sol está muito quente e costumo parar de vez em quando para refrescar. Aprendi com um escultor em Ipanema, no Rio, mas ainda estou me aprimorando”, conta ele que conta com a ajuda do amigo André Macharetti, de 27 anos. Ele é o responsável por levar a água do mar até Waldemir.
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A diversão virou também um ganha pão. Quem passa pela calçadão de Icaraí costuma deixar uma contribuição em dinheiro na caixinha. “Tiro uns R$ 300 no fim de ano, dinheiro que ajudo nas despesas da casa”, revela o escultor.
Ações da Seop intensificadas
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Com as praias do Rio lotadas, muitos banhistas têm preferido atravessar a ponte para curtir as ondas de Niterói. As mais procuradas são Camboinhas, Itacoatiara, Itaipu, na Região Oceânica. E, com a chegada das férias, o número de frequentadores aumenta. E para garantir o lazer dos turistas e moradores da cidade a Seop promete intensificar a Operação Verão. “Vamos estender as ações para os dias de semana”, promete o secretário da Seop, coronel Marcus Jardim, que vai publicar essa semana a lista dos vendedores ambulantes autorizados a trabalhar nas areias.
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Com as praias cheias, os salva-vidas têm que ter atenção redobrada. Mas em algumas delas, como Camboinhas, onde o mar é agitado, e São Francisco não há postos nas praias e nem placas indicando a presença deles. Em Piratininga, havia uma barraca vazia um e um contêiner, que serve de base para os bombeiros, fechado.
Itacoatiara foi a única praia com salva-vidas. Mas as condições de trabalho dos bombeiros é precária. Eles ficam em barracas pequenas cobertas por lona, sem banheiro, nem local para armazenar os alimentos e guardar os pertences. Ano passado, após um falso chamado de afogamento, um dos bombeiros teve a mochila furtada.
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A assessoria de imprensa da corporação afirmou que há 80 militares atuando nas praias da região, um reforço de 50% no efetivo, e que a distribuição desse contingente obedece a critérios como tipo de praia e quantidade de banhistas. Em novembro, a prefeitura anunciou um convênio com o Corpo de Bombeiros para a construção dos postos de salvamento, o que deve acontecer esse ano.