Por marina.rocha

Niterói - Tá fazendo papel de maluco? No senso comum a expressão pode ter significado pejorativo, mas não para os atores do Pirei na Cenna. No grupo de teatro, formado por pacientes de saúde mental e alguns familiares, encenar a loucura é uma forma de combater o preconceito. Este ano eles completam a maioridade e a comemoração prevista não poderia ser melhor: estão se organizando para embarcar para Barcelona em junho próximo. É que foram convidados para participar do Festival de Arte e Saúde Mental da cidade espanhola.

Já até providenciaram os passaportes, mas ainda estão correndo atrás de apoio para comprar as passagens. Antes disso, em maio eles vão apresentar a peça Doidinho pra Trabalhar em todas as Bibliotecas Parque do Rio.

Os ensaios acontecem toda terça-feira no Hospital Psiquiátrico de JurujubaDivulgação

O grupo também está ensaiando a esquete Loucura Dividida, que vai levar para o festival em Barcelona. As peças são elaboradas pelos próprios atores, que toda semana se reúnem no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba para ensaiar. Atual coordenador do grupo, Alessandro Conceição, explica a essência do projeto. “A gente discute a realidade destes pacientes, baseando-se muitas vezes nas experiências deles”, disse, destacando ainda que há uma redução nas internações por crises no histórico de quem participa do teatro.

Diretor do hospital, Raldo Bonifácio, afirma que o teatro é uma forma de ressocialização. “Toda atividade artística é a via mais expressiva que a gente tem. E o teatro tem um lugar especial”, falou o médico.

O grupo é parte do Teatro dos Oprimidos, que defende a produção artística pelas camadas que considera marginalizadas da sociedade. E vem gente de fora conhecer o trabalho. O psicólogo Raul Palencia, por exemplo, veio de El Salvador. Ele se interessou tanto pelo Pirei na Cenna que entrou para o elenco.
“Estou aqui já há oito meses. Conhecer de perto esta arte tem sido uma experiência muito rica”, relatou.

Eles já se apresentaram em 13 estados brasileiros e foram até para a Argentina. Motivos de sobra para o mais antigo do grupo, Sérgio Lima, de 40 anos, comemorar. “Meu maior sonho era viajar. Agora posso ir até para Barcelona”, falou.

Mônica Soares, que está no Pirei na Cenna desde 2002, define o teatro como um ponto de equilíbrio.“Gosto de entrar nos personagens. Me sinto bem melhor, saio daqui bem”, destacou.
Já Eloanah Gentil entrou no grupo há 12 anos para acompanhar o tio Wanderson Pacheco e não saiu mais. “Eu pude perceber de perto a evolução dele”, contou.

Também fazem parte da turma Venâncio Fernandes e Lúcia Santana.

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