Niterói - A máxima ‘mãe é tudo igual’ nunca foi tão verdadeira, pelo menos nos últimos dez anos, período em que o ator niteroioense Paulo Gustavo está em cartaz com ‘Minha mãe é uma peça’, onde faz Dona Hermínia, inspirado em Dona Déa, de 67 anos, sua mãe.
É que, mesmo a mãe não sendo famosa, como a de Paulo Gustavo, na pele de Dona Hermínia muitos filhos vêem as suas, de alguma forma, no palco e no cinema. O sucesso é tanto que foi parar na telona e o filme terá continuação.
O trabalho já levou quase um milhão de pessoas ao teatro. “Muitas me dizem que têm uma mãe igual a Dona Hermínia. Graças a Deus, né, porque acho que isso que faz o sucesso da peça. Os filhos levam as mães ao teatro e as identificam na peça”, conta o ator.
Apesar da fama e de ter um filho artista, Dona Déa se diz uma mãe como outra qualquer. “Lido com isso com muita naturalidade. Fico feliz de ver tantos jovens prestando atenção ao que falo e faço e isso aumenta a minha responsabilidade como mãe. Eles imaginam uma mãe que talvez eu nem seja. Mas de uma coisa tenho certeza: sou muita amiga e parceira dos meus filhos.” A fama, garante, é só da porta de casa para a rua. “Adoro o trabalho dele, sou muito grata ao público pelo carinho, mas antes de qualquer coisa eu sou mãe e isso não muda.” O filho faz coro: “A gente se enxerga da mesma forma. As pessoas pensam: virou artista parece que virou outra coisa. Não. A fama é um reconhecimento do trabalho. A relação em casa é a mesma.”
E foi no cotidiano comum às famílias que o ator percebeu que sua mãe era uma ‘peça’. “Fui vendo isso em festas em casa como Natal, Rèveillon, Páscoa, Dia das Mães... Eu sempre imitava minha mãe, minha tia e minha avó porque as mulheres da minha família são muito doidas”, conta ele.
Dona Hermínia completa: “Eu pertenço a um clã das Hermínias e a precursora é a minha avó Tidinha. Todas as mulheres da minha família são Hermínias. Adoro.” Ela garante que não se importa com a exposição do seu jeito escrachado e sincero, embora haja exageros na peça e no filme, o que é comum em personagens inspirados em pessoas. “No íntimo, sou assim mesmo”, diz .
“Quando viu a peça a primeira vez ela falou que queria 10% da bilheteria porque tudo que falo foi ela que disse”, diverte-se o ator, que estará hoje em São Paulo com o espetáculo ‘220 Volts’ e, por isso, não tem certeza se passará o Dia das Mães com Dona Dea, embora quase sempre ela o acompanhe nas viagens. Mas, de uma coisa ele tem certeza: “Faço mãe há tanto tempo que recebo, inclusive, ‘feliz Dia das Mães’. Acho que já posso ter essa licença para receber o cumprimento”. “Para mim esse dia é mega especial porque a Dona Hermínia me lançou em outros trabalhos. Sou o que sou hoje graças à ela”, orgulha-se.
Mãe e filha brilham em espetáculo
Elas não são de Niterói, mas estarão hoje na cidade para uma sessão de ‘Perdas e Ganhos’, no Teatro Abel, em Icaraí, que promete ser especial por ser Dia das Mães. É que a atriz Nicette Bruno sobe ao palco dirigida pela filha, a também atriz Beth Goulart. As duas já trabalharam juntas outras vezes, mas essa é a primeira vez que Beth dirige a mãe.
“Vai ser muito agradável, embora eu não possa estar fisicamente com os outros (filhos Bárbara Bruno e Paulo Goulart Filho). O teatro é o complemento da minha vida”, diz Nicette. “Vai ser maravilhoso e um privilégio”, completa Beth.
E a mais nova parceria entre mãe e filha foi sugerida há cinco anos por Guilherme Amaral, que agencia toda a obra de Lya Luft na qual a peça é baseada. “Ele disse que queria que eu fizesse esse espetáculo com minha mãe. Foi um presente”, lembra Beth.
‘Perdas e Ganhos’ fala de temas do cotidiano que vão desde o nascimento até a morte, passando pelos valores familiares, relações afetivas, amadurecimento, velhice, solidão, autoestima e transformação. E, enquanto montavam o espetáculo, mãe e filha passaram por uma situação retratada na peça: a doença e a morte do ator Paulo Goulart, marido de Nicette e pai de Beth.
“Em alguns momentos da peça sou eu falando porque são situações pelas quais passei. Foi muito difícil retomar o trabalho após a morte do Paulo. Mas ser dirigida pela minha filha facilitou muito essa volta. Beth tem muita sensibilidade. Temos uma boa sintonia”, elogia a atriz. “Retratamos acontecimentos inevitáveis em nossas vidas. Foi muito especial. Transformamos a dor em arte”, finaliza Beth.
Em cartaz neste domingo, às 20h. Informações: teatroabel.com.br.
Uma vida inteira dedicada às artes, desde a gestação
Adaptar o figurino da peça à medida que a barriga ia crescendo. Era 1980 e Bia Bedran, de 59 anos, estava grávida de Julieta e em cartaz no teatro. Desde sempre as filhas dessa niteroiense, t mãe também de Elisa, convivem com a fama da mãe pedagoga, escritora, cantora e que já teve um programa infantil na TV.
Bia revela que a escolha por ter filhos foi fácil, mesmo tendo uma rotina ‘diferente’ das outras mães. “O pai das meninas era também músico. Sabíamos que nossa família seria construída dentro daquele processo”, conta ela.
As filhas confessam que nunca quiseram que a mãe fosse ‘igual’ às dos outros amigos. “A gente sempre encarou isso com naturalidade”, diz Elisa Bedran, 30 anos, produtora e editora de TV e cinema. “É uma alegria ser filha de uma grande artista”, completa a pedagoga Julieta Bedran, 34.
Bia Bedran dá nome à Unidade de Reinserção Social para bebês em situação de violência ou abandono familiar, inaugurada quinta-feira, em Botafogo, zona sul carioca, pela Secretaria de Desenvolvimento Social.