Niterói - Diferente das turmas de ginástica rítmica em geral, as aulas do técnico Paulo Martins têm presença especial: a dos meninos. Dos 30 alunos da GR, como é conhecida pelos atletas, na Academia Magger, em São Gonçalo, dez são meninos. Segundo o professor, eles são bem dedicados e, muitas vezes, realizam saltos que as meninas não conseguem. Ele acredita que os jovens e adolescentes têm capacidade de ir longe, mas a modalidade masculina não é reconhecida pela Federação Internacional de Ginástica. Além disso, não há nenhum luxo no local de treinamento da turma.

Ainda assim, Paulo não desanima. “Eu abri mão da mensalidade deles e eu mesmo que dou o uniforme. Não existe uma competição no Rio de ginástica para meninos. Gostaria muito de organizar um campeonato masculino de GR em Niterói, mas preciso de parcerias”, disse Paulo.
Para os meninos, a ginástica é puro prazer, parece até fácil realizar os passos ao vê-los na aula entre saltos e espacates (abertura lateral das pernas em ângulo de 180 graus, paralela ao solo). O estudante Júnior Moraes, de 19 anos, entrou para a turma há apenas dois meses e já se destaca. “É melhor que futebol. Os treinos são mais pesados, tem algumas coisas bem difíceis. A gente ajuda muito um ao outro e tem também alguns passos em par que a gente faz com as meninas”, contou.
Os meninos dizem que não se incomodam com algumas piadinhas maldosas que ouvem no dia a dia. O problema é quando o preconceito está dentro de casa. O professor Paulo revela que seu primeiro e melhor aluno foi impedido pelos pais de continuar a ginástica. “Ele tem 16 anos e a mãe não deixa mais ele fazer. Mas a maioria não tem problemas”, garantiu.
As companheiras de turma adoram a companhia. Maria Luíza Borges, 10, diz que a dança fica até mais bonita. “Eu acho muito legal, eles animam a aula. A gente ajuda quando eles não sabem fazer os passos. Eles só estão um pouco abaixo da gente”, se divertiu.
E tem gente nova no pedaço. Renan Lima, 15, chegou na academia na última semana. O garoto tem talento: já faz parte da equipe de dança Comrua, de Niterói. “Entrei para a ginástica porque quero seguir carreira na dança. Então, é importante conhecer áreas diferentes. Acho que vai ser difícil, já vi que tem que ter muito controle de corpo”, revelou ele, já arriscando alguns passos ao lado dos novos amigos.
Reportagem de Marina Rocha