Por marina.rocha

Niterói - Na cidade que tem como ícone o cacique Araribóia, a cultura indígena sofreu um baque. Duas ocas construídas por alunos da Universidade Federal Fluminense em conjunto com cinco índios do Alto Xingu foram retiradas do campus da Praia Vermelha, na Boa Viagem.

Professora Dinah em ritual com o pajé Tobi ItaunaUanderson Fernandes / Agência O Dia

À frente do projeto, a professora Dinah Guimaraens tinha o objetivo de ensinar aos estudantes de Arquitetura como incorporar elementos indígenas em projetos modernos e conseguiu. Grandes instituições internacionais como a Unesco e a Universidade de Paris 8 apoiaram a iniciativa. Mas a intenção de tornar as ocas permanentes e fazer um Museu Vivo, com apresentações indígenas, não vingou.

Entre os motivos, moradores da Boa Viagem temiam uma ocupação indígena. A reitoria da UFF nega que esta tenha sido a razão. Por meio da assessoria, afirmou somente que a iniciativa sempre teve um prazo de duração.

Estudante de Ciência Ambiental Vitor Ribeiro, de 22 anos, foi um dos que acompanharam a construção e a desconstrução das ocas e lamenta o ocorrido. “Conheci bem os índios, vivi alguns rituais e aprendi a construir uma oca inteira”, falou.

A professora Dinah disse que o projeto do Museu Vivo vai migrar para um terreno da Unirio no Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio. As obras começam em junho e as visitações estão previstas para novembro.

A índia Carolina Potiguara e o pajé Tobi Itauna, da Aldeia Maracanã, estão acompanhando tudo de perto e lamentam a retirada das ocas da terra de Araribóia. “Niterói é uma cidade originalmente indígena, mas hoje, depois da expulsão da última aldeia de Camboinhas, estamos com medo de nos manifestar por aqui, só mesmo à convite, como é o caso da UFF e de alguns eventos nos equipamentos culturais”, alertou.

Para o pajé o trabalho da professora é de grande importância, pois permite uma interação. “A gente pode ensinar nossa cultura de construção, cantos e lendas”, completou.

A igreja abre aos domingos. Outras visitas devem ser agendadasPaulo Araújo / Agência O Dia

Onde o cacique Araribóia fundou Niterói

No alto do Morro São Lourenço, entre o Centro e o Fonseca, bem onde Araribóia fundou a cidade, está a Igreja São Lourenço dos Índios, um dos símbolos da história indígena de Niterói . Pouco conhecida pelos niteroienses, de acordo com o guia do local, Egídio Perpétuo, ela é considerada a primeira igreja da cidade. O modelo atual é datado de 1627, mas antes disso já existia uma pequena construção.

“Esse é o primeiro núcleo de colonização da cidade. Os índios foram catequizados aqui pelos jesuítas e quando a aldeia era atacada a igreja também servia como esconderijo. Niterói começa aqui, é uma pena que seja tão pouco explorada”, lamenta Perpétuo.

Embaixo da igreja já foram encontrados corpos de índios enterrados e aos pés do altar estão pisos de cerâmica feitos pelos indígenas. Eles têm marcas que serviam como uma assinatura para saber quem fez o quê. A igreja abre aos domingos para as missas das 9h. Visitas têm que ser marcadas pelo 98174-4384.

Reportagem de Marina Rocha

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