Niterói - Não tá fácil ter o documento do carro em dia para quem mora em Niterói. Após pagar o IPVA, muitos motoristas da cidade estão passando um sufoco para marcar a vistoria no posto do Detran do Fonseca. A matemática explica o problema. De acordo com o Detran, a unidade oferece 500 vagas para vistoria por dia. Nesse ritmo, seria preciso 562 dias úteis por ano para atender a frota, com cerca de 281.239 veículos.
O resultado é que o posto tem sido um dos mais disputados e para realizar o agendamento — que só pode ser feito pela internet ou pelo telefone — tem que contar com a sorte. O representante comercial Rogério Innecco há dois meses vem ligando e acessando regularmente o portal do órgão, mas só aparecem postos totalmente fora do caminho como Valença e Rezende.
“Já chequei em vários horários, mas nunca tem vaga em Niterói e São Gonçalo. Devia ter uma preferência para os carros com placas que estão perto do vencimento. O meu venceu dia 30 de junho e eu não consegui marcar, estou preocupado porque trabalho diariamente com o meu carro”, relatou.
O operador de pedágio Felipe Aguiar fez a vistoria na última quarta-feira, mas não foi fácil conseguir um horário. Ficou dias para marcar e, na data, ainda teve que dedicar duas horas de sua manhã para tirar o documento.
Segundo o Detran, o posto de Niterói teve o horário estendido até às 22h e as vagas são disponibilizadas a qualquer hora do dia, e de acordo com a demanda de veículos com o IPVA quitado. Hoje 180 mil ainda não pagaram o IPVA 2015 na cidade.
Dados do Denatran dão conta de que a Terra de Araribóia supera a marca de carros por habitantes em 20% quando comparada ao Rio de Janeiro. Somente em 2015, uma média de 1,1 mil carros foram emplacados por mês no Detran de Niterói.
Especialista em mobilidade urbana da UFF, Aurélio Murta é taxativo quanto à solução. “É preciso diminuir o número de carros na rua. O problema é que falta transporte público de qualidade que estimule a deixar o carro em casa. Os modais devem atender toda a cidade, ter conforto, pontualidade e terminais satisfatórios”, avaliou.
A Alameda São Boaventura, no Fonseca, o canal de São Francisco e a Avenida Roberto Silveira, em Icaraí, por exemplo, são pontos frequentes de engarrafamentos. No entanto, o subsecretário de Urbanismo e Mobilidade, Renato Barandier, afirma que obras urbanas não são o alvo. “O alargamento de vias, sobretudo em bairros centrais, além de extremamente caras, são soluções que saturam em muito pouco tempo. Isso porque acabam por induzir que mais automóveis circulem. O planejamento da prefeitura tem foco na promoção da mobilidade sustentável, ou seja, investir em transporte coletivo e não motorizados”, explicou.
Para Barandier, o maior desafio é acabar com a dependência de carro nas regiões de Pendotiba e Oceânica. “São regiões com taxa de geração de viagens de automóvel por domicílio três vezes maior que o de bairros das regiões das Praias da Baía e Norte e seis vezes maior que o Centro”, apontou.
Ainda na visão da prefeitura, isso explica a necessidade de projetos como o BHLS TransPendotiba e a TransOceânica, que custará R$ 310 milhões e será iniciada na próxima terça-feira.
Lugar de carro é na garagem
O subsecretário de Urbanismo e Mobilidade, Renato Barandier, afirma que a redução do pedágio da Ponte Rio-Niterói é mais um obstáculo a ser superado, pois é um atrativo para trabalhadores optarem por atravessar a via de carro particular. “Recentemente vimos a prefeitura do Rio acabar com todas as linhas de ônibus que faziam integração com as barcas. Desde então 20 mil passageiros deixaram de circular pela travessia por dia. Além disso, a mesma prefeitura está construindo uma via expressa para automóveis na porta da estação Praça XV. A mensagem é clara: venha de carro”, disparou.
De acordo com a Secretaria, com a execução da Operação Urbana Consorciada (OUC), no Centro e do PUR de Pendotiba, em 15 anos 83% da população estará a menos de 5 minutos a pé do transporte público.
Olha a multa
O Estado do Rio é um dos poucos do Brasil que ainda exigem vistorias anuais. Já existe uma corrente que defende a extinção desta obrigatoriedade, mas enquanto a coisa não se define... É melhor correr para estar em dia!
A multa para quem for pego com o documento atrasado é de R$ 191, 54, o veículo é apreendido, e o condutor ainda perde sete pontos na carteira de motorista. Isso sem contar o valor de reboque e diária do depósito para qual o carro será levado.
Até o dia 31 deste mês apenas os veículos com finais de placa 4,5,6 e 7, cujo prazo de vistoria já está vencido, são obrigados a circular com o documento de 2015. Carros com placas de final 2 e 3 têm até o fim de julho. Os que terminam com zero e 1 podem andar com o documento de 2014 até 31 de agosto. E o prazo para os finais 8 e 9 é dia 30 de setembro. Para agendar a vistoria acesse o site www.detran.rj.gov.br ou ligue para 3460-4040.
Reportagem de Marina Rocha