Niterói - Em tempos de crise econômica e de corte de orçamento, a Prefeitura de Niterói vai na contramão de todas as outras administrações públicas e terá pelo menos mais 18 funcionários em sua folha de pagamento. O pessoal será lotado na recém-criada Secretaria do Idoso, que terá um custo mensal de, aproximadamente, R$ 50 mil só em salários. Na justificativa para nova pasta, a preocupação com a qualidade de vida dos cerca de 83 mil moradores da cidade que estão na terceira idade, cerca de 17% da população. Porém, na visão do deputado estadual Flávio Serafini (Psol), “a decisão esconde um cabide de empregos, gente que será usada em campanha política”.

Presidente da Comissão de Saúde do município, o vereador Paulo Eduardo Gomes (Psol) vai na mesma linha do colega de partido. Para ele, as indicações para as vagas serão distribuídas pelos partidos da base aliada do prefeito Rodrigo Neves. Em sua opinião, se as secretarias já existentes seguissem as diretrizes do Estatuto do Idoso não haveria nenhuma necessidade de criar uma nova pasta.
“É um absurdo. É descarado. E ainda é covarde, porque eles usam os idosos como justificativa para fazer campanha. Precisa ficar claro que quem paga esta conta é o morador de Niterói. Na defesa da nova secretaria, disseram que ela não teria custo algum. É mentira! Claro que é mentira! Eu aposto que o indicado vai ser do Solidariedade”, disparou.
A prefeitura foi procurada para falar sobre o assunto. E informou que os cargos já pertenciam à outras secretarias.
Discussão política de lado, fato é que o município tem a maior população idosa do estado. E ainda está 6% acima da média nacional, que é de 11%. Além disso, em termo de expectativa de vida, por aqui ela supera os 76 anos, enquanto a média do país não chega aos 74 anos. O alto índice caminha ao lado de bons resultados. Niterói é o sétimo município com melhor índice de desenvolvimento humano (IDHM) do Brasil. “E a nova pasta vai poder captar recursos e incrementar projetos voltados para a terceira idade. Poderá conversar com diversos segmentos da cidade como saúde e transporte, para buscar sempre melhorias para a população idosa. Não será um cabide de empregos, vem para somar. E vamos fiscalizar”, afirmou o vereador Betinho (Solidariedade), um dos oito que aprovaram o projeto em votação na Câmara.
Geriatra e presidente da comissão do direito do idoso da OAB de Niterói, Waldenir Bragança acredita que é preciso criar um fundo de assistência. Para ele, a prefeitura deveria usar o dinheiro para criar instituições públicas de longa permanência (abrigos) para idosos e um trabalho que conscientize a sociedade em geral sobre os direitos da pessoa idosa.

A expectativa, além da criação de novos projetos, é que a prefeitura expanda os já existentes como a academia da terceira idade e as ginásticas do Projeto Gugu. Eles acontecem em praças espalhadas por diversos bairros da cidade, incentivando o exercício.
Carioca da Tijuca, Bárbara Carvalho, de 71 anos, veio passear em Niterói e aproveitou o dia de sol para praticar exercício na praça da praia de Piratininga, onde ficou hospedada por alguns dias. “Eu achei esses equipamentos ótimos, estão bem conservados. Não é todo mundo que pode pagar por uma academia, né?”, destacou.
Turma do 'ferro velho'
É em Icaraí que se concentra a maior parte dos idosos papagoiabas. Por lá, o índice de moradores com mais de 60 anos passa os 25%. A Rua Moreira César, o coração do bairro, é um point para eles. Tem tudo ali por perto. A padaria Beira-Mar, na esquina com a Rua Presidente Backer, é um clássico ponto de visita de vários senhores. A aposentada Carmem Muniz, 79, está sempre ‘zanzando’ pela via. “Visito as lojas, vou ao salão, e sempre almoço, tomo café da tarde ou janto na Beira-Mar”, disse.
Logo ali em frente, fica a turma do ‘Ferro Velho’. Todos os dias, a partir das 16h. cerca de 10 aposentados se juntam para bater papo e contar piadas no banquinho da rua. “É ótimo, uma motivação para sair de casa e ver o movimento. Mas se chuviscar a gente já não vem, porque sabe como é, ferro velho em chuva apodrece”, se divertiu o aposentado Alberto Correia, 76.
Serviços voltados para os idosos ganham destaque
O aumento da população idosa vem se refletindo nas casas de repouso particulares. Na Ararate, em Camboinhas, a mensalidade custa de R$ 5 mil a R$ 7 mil, de acordo com o quarto. Além dos 15 leitos ocupados, já tem até fila de espera. “São umas 10 pessoas esperando. Recebemos muita procura, muita gente não tem tempo de cuidar do idoso e sabe que aqui ele será bem assistido”, destacou a diretora de qualidade da casa, Emanuela Santana.

E agora eles oferecem o serviço de ‘day use’, que é quando o idoso passa o dia e volta para dormir em casa. Sai por cerca de R$ 3 mil.
Sônia Peralta, 62, afirma que a casa fez bem para sua mãe, Aracy Peralta, 88. “Minha mãe tem Alzheimer e já não estava bem em casa. Foi dolorido dar o primeiro passo, mas depois que ela veio teve uma melhora muito grande. E eu estou sempre aqui”, disse.
O curso de cuidador de idosos do Vital Brazil é outro que está bombando. A coordenadora, Rosangela Gomes, diz que a procura aumenta a cada edição do curso, que existe há seis anos. A profissão ainda não foi regulamentada, mas tem salário médio de R$ 1,2 mil. A turma atual tem 47 alunos e deve concluir em outubro para, em novembro, começar uma nova. O curso é gratuito.
E para os idosos que querem se movimentar, uma boa opção é a Universidade Aberta da Terceira Idade (Univerti). Tem oficinas de memória, idiomas, biodança, yoga, alongamento, coral, e por aí vai. As aulas acontecem na Faculdade de Direito da UFF, na Rua Presidente Pedreira 62, Ingá. O segundo semestre começa em 10 de agosto. A inscrição pode ser feita no local, de segunda a quinta, de 14 às 17. A mensalidade custa R$ 45.
Reportagem de Marina Rocha