Por marina.rocha

Niterói - Em tempos de crise, a greve da UFF completa 81 dias hoje e parece que uma solução ainda está distante. A paralisação foi causada por conta do corte nacional de R$ 9,4 bilhões na verba da Educação. E os grevistas também questionam a falta de planejamento no crescimento da universidade. Nos últimos oito anos, o número de alunos aumentou em 100% - de 25 mil para 50 mil - e de 62 cursos passou a ter 125.

A questão é que mais pessoas têm acesso ao ensino superior gratuito, mas por outro lado faltam laboratórios, bibliotecas e às vezes até professores. “O curso de Serviço Social, por exemplo, foi impedido pelo Ministério da Educação de abrir novas vagas”, sinalizou a presidente da Associação dos Docentes da UFF, Renata Vereza.

A paralisação foi causada por conta do corte de R%24 9%2C4 bilhões na verba da EducaçãoEstefan Radovicz / Agência O Dia

No primeiro semestre deste ano, a UFF recebeu R$ 92,1 milhões, R$ 30 milhões a menos que no mesmo período de 2014, segundo dados do MEC. Os grevistas são contra o corte federal e querem melhorias na infraestrutura da universidade, além de aumento salarial. Eles queriam 27%, o governo ofereceu 21% gradativos nos próximos quatro anos, mas a proposta não foi aceita. Agora os professores propõem 19% em parcela única.

A assessoria do Ministério da Educação informou que mesmo com as baixas na verba, a pasta preserva os programas e ações essenciais. “O Ministério da Educação está atuando no sentido de garantir os recursos de custeio necessários para o funcionamento das universidades e dos institutos federais. Não há previsão de liberação de verba extra”, disse em nota.

O Superintendente de Comunicação Social da UFF, Afonso de Albuquerque, reconhece que o cenário é preocupante. De acordo com ele, a verba destinada à UFF se divide em três partes: salários de concursados, capital e custeio. A fatia dos ordenados corresponde a 80% do dinheiro, e não foi abalada pelos cortes. Houve queda de 10% no custeio, que é voltado para o pagamento de água, energia e terceirizados e de 47% na verba de capital, que é a parte voltada para obras.

No entanto, ele destaca que muitas queixas dos grevistas em relação à administração da universidade são exageradas. “Para ter uma universidade ideal, a verba está longe de ser ideal. Mas não falta dinheiro só na universidade, falta para tudo. A infraestrutura física da UFF melhorou extraordinariamente nos últimos anos, e melhorará ainda mais com o fim das obras. Um exemplo: a UFF não tinha moradia estudantil e agora tem”, disse.

Coordenador do Sindicato de técnicos administrativos da UFF (Sintuff), Pedro Rosa diz que 80% da categoria aderiram à greve. E a maioria dos alunos também apoia a paralisação. Aluna do curso de Serviço Social, Beatriz Nunes, de 24 anos, está entre eles. 

Grevistas protestaram também com caminhadas e passeios de bicicleta Luiz Fernando Nabuco / Divulgação

“A greve é importante para lutarmos por nossos direitos. E, nós estudantes, podemos aproveitar para mostrar nossas demandas. São muitas obras inacabadas, o bandejão, apesar de ser barato, não consegue atender todo mundo, às vezes falta até água”, apontou a jovem.

No próximo dia 20 os docentes da UFF se reúnem em mais uma Assembleia para discutir os rumos da greve. Eles garantem que o objetivo não é quebrar o recorde de 2012, quando ficaram parados por quatro meses, mas que vão lutar firme por seus objetivos.

Centro de Artes está aberto

Para alegria geral da cidade, após dois meses parado por conta da greve, o Centro de Artes UFF retomou suas atividades na última semana.

Mas o coordenador do local, Leonardo Guelman, explica que o Centro não é contra greve, mas já estava gerando prejuízos. “Precisamos reabrir em função dos compromissos que já tínhamos. Estávamos prejudicando a população e os produtores. Reabrimos também na intenção de dar espaço para o comando de greve mostrar para a sociedade as razões dos protestos”, disse.

Tem cinema, teatro e exposições na galeria. Na próxima terça-feira, às 19h, vai rolar o UFF Debate Brasil com o tema ‘Novas tecnologias, velhas práticas?: o poder do jornalismo sobre a opinião pública’, com entrada gratuita.

O Centro de Artes fica na Rua Miguel de Frias 9, Icaraí.

Espaço já tinha programação definida e estava dando prejuízoLuiz Fernando Nabuco / Divulgação

Comércio amarga a falta de clientes

Com a suspensão das aulas da UFF, o comércio também sai perdendo. A prefeitura de Niterói destaca que são pelo menos 40 mil pessoas a menos circulando pelas ruas da cidade. Centro e Icaraí são os bairros mais prejudicados.
No Albergue Praia das Flexas, no Ingá, o movimento caiu quase 100%. Gerente do estabelecimento, Thaís Martins diz que o público vem praticamente todo da UFF. Sem greve, eles mantêm uma média de 15 hóspedes, hoje estão com três.

“Essa nessa época a gente normalmente começa a receber os estudantes que passaram para o segundo semestre, mas até agora nada”, lamentou.

E alguns alunos também se sentem lesados pelo atraso no calendário. Estudante de Matemática Andreza da Costa Gonçalves, de 21 anos, é uma delas. “O nosso curso concluiu o período, mas o próximo só vai começar quando todos os outros acabarem. Com a greve de 2012 tivemos que estudar em dezembro e em janeiro para repor as aulas”, disse.

Presidente da Aduff, Renata Vereza explica que historicamente as greves se mostram bem eficazes em conquista de benefícios em universidades públicas. “A gente começa com paralisações rápidas, atos de rua. Quando decidimos entrar em greve é que já esgotamos os outros recursos”, afirmou.

Reportagem de Marina Rocha

Você pode gostar