Niterói - Não resisto a qualquer cão que passe por mim na rua passeando com o dono. Grande, médio ou pequeno, vou logo me aproximando. Mas, se ele atacar, afinal não o conheço? Confesso que não penso nisso. Fico mais preocupada com a reação do dono. É que muitos não gostam que mexam com seus peludos, e podem até ‘rosnar’ pra gente. Pronto falei! Acho isso uma bobagem. Que pai ou mãe não ficam bobos quando seus filhos recebem elogios e chamam atenção? Sou dessas!
Mas a reação nada amigável de um cão à aproximação de um estranho nem sempre significa que ele é bravo. A veterinária e consultora de negócios pet na INvet Care, Letícia Cazes, explica que são muitos os motivos para esse tipo de comportamento. O cachorro pode estar sendo adestrado e não está socializado com humanos ou outros cães, tem medo de estranhos ou traumas por maus-tratos, estão doentes. Até mesmo os idosos, pelo simples fato de serem velhos, podem se aborrecer com uma aproximação.
Mas, como saber sobre o animal se alguns desses sinais não são visíveis? Foi pensando nisso que surgiu na Austrália o movimento The Yellow Dog Project, já difundido em vários países e que está chegando ao Brasil, mas ainda de forma muito tímida. A ideia é muito simples: amarrar um lenço, fita ou bandana amarela na guia ou na coleira do animal para sinalizar que humanos e animais devem manter a distância dele.
Preciso de espaço extra é o lema do projeto. Mais que proteger as pessoas, a ideia é resguardar o cão, que naquele momento de sua vida, está passando por alguma situação que requer cuidados. O programa está bombando nas redes sociais, mas é preciso que ele vá para as ruas. Por aqui é difícil vermos guias com fitas amarelas. Eu mesma nunca vi.
Mas, é claro, que a novidade também ajuda a proteger as pessoas e outros cães em casos em que o cachorro esteja com alguma doença transmissível. Ela explica ainda que tutores com cachorros no cio ou que tenham um animal cego devem adotar o novo método, já que a aproximação de um outro animal nesses casos pode trazer problemas.
Segundo Letícia, nos Estados Unidos, são registrados, por ano, cinco milhões de casos de mordidas de cães. Aqui no Brasil não temos essa estatística, mas a veterinária conta que ela atende muitos na clínica. Para ela, o The Yellow Dog Project é muito importante e pode evitar esse tipo de situação, por exemplo.
Mas Letícia faz um alerta: o uso do sinal amarelo na guia ou na coleira do animal não isenta o tutor do cachorro de qualquer problema que ele possa causar a uma pessoa ou a outro cachorro. Ela lembra que a focinheira em animais ferozes é obrigatória por lei, e que andar com o animal preso à coleira é o recomendado, seja o cachorro do porte que for.
Para Letícia, a sinalização amarela nos cães pode parecer constrangedora para muitos tutores, afinal quem quer expor uma fragilidade de seu filho peludo, não é? Mas a veterinária garante que isso não é mau visto pelas pessoas, pelo contrário. Para ela, o tutor tem o dever de socializar e cuidar bem do animal para que ele conviva harmoniosamente com os humanos e com outros animais e, acima de tudo, seja feliz, já que eles fazem parte da família de milhões pessoas.