Por paola.lucas

Niterói - É proibido proibir! O verso eternizado na voz de Caetano Veloso deu o tom da revolta de parte da sociedade contra a ditadura militar no final dos anos 1960. Aproximadamente 50 anos depois, a Atlética de Comunicação Social e Artes da UFF usa o mesmo lema. Nada de ‘proibidão’. Em tempos de repressão policial aos bailes, dia 28 de janeiro acontece a UFFanfarraOrgia, uma festa onde (quase) tudo está liberado, que leva para o palco de uma boate da Zona Sul a polêmica Mc Carol Bandida e o DJ Yago Gomes.

Estudantes da UFF promovem a festa UFFanfarrOrgia com a MC Carol no dia 28 e prometem liberar geralMárcio Mercante / Agência O Dia

A festa traz à tona a discussão sobre as barreiras invisíveis da nossa sociedade. Afinal, será mesmo que os ‘anos de chumbo’ estão tão distantes? Por que na comunidade é proibido fazer baile e na Zona Sul, com ticket médio de R$ 50 por pessoa, tá liberado? “A gente quer garantir diversão à todos, mas também quer fazer a comunidade acadêmica pensar em paradigmas sociais. Tudo na festa foi pensado com um propósito crítico para não sermos só mais uma no calendário”, explica Laryssa Monteiro, estudante de publicidade e uma das responsáveis pela UFFanfarraOrgia, que oferece cerveja, vodka e vinho em seu open bar.

Laryssa esclarece que a ideia é dialogar bem com o público das comunidades e do asfalto, além de divertir, é claro. “É como bem diz o hit: é som de preto, de favelado mas quando toca, ninguém fica parado! A gente não quer desafiar a polícia. Estamos de acordo com todas as exigências legais. Por isso, não temos nenhuma preocupação com repressão. Não é o Estado que vai determinar nossa forma de diversão. O próprio nome já é um convite à libertação”, sugere.

No baile do CUCA da UNE%2C na Lapa%2C Carol provou que no morro ou no asfalto a galera se entrega.Divulgação / Vitor Vogel

No mesmo tom polêmico, o Coronel Fernando Salema, do 12º Batalhão da Polícia Militar (BPM), não pode ouvir falar em baile de favela que já quer chegar junto, mas para acabar com a festa. “Costumo dizer que o baile não é da comunidade, mas na comunidade. Tem gente ali dentro que não é a favor dessas festas, gente que precisa acordar cedo no dia seguinte para trabalhar”, justifica.

Mas, acima, de tudo o coronel acredita que os bailes ‘proibidões’ são os grandes financiadores do tráfico, “além de fazer apologia com suas letras maliciosas”. 

“Não tenho nada contra, minhas filhas ouvem isso. Se for um baile de rua com liberação da prefeitura, bombeiros e polícia, tudo bem. Mas os que são feitos na ilegalidade, que fecham ruas e vendem drogas, a gente coíbe sim”, garante.

Na contramão dessas ações, a pesquisadora e professora de mestrado em Cultura e Territorialidade da UFF, Rôssi Alves, acredita que o tráfico já está cristalizado no olhar das pessoas quando miram nas comunidades. “Tenho um trabalho com rodas de rimas que já foi reprimido por ações da polícia”, reclama a pesquisadora. 
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Cultura que desce do morro

O Coronel Salema entende que os bailes funk organizados dentro de boates são diferentes dos que reprime em suas ações. E mostra que, de certa forma, conhece um pouco da cultura do funk. “Ali não tocam os proibidões, tocam o funk sensual, sarcástico. Tem uma galera boa nesse sentido, o Mc Koringa, a Anitta, o Nego do Borel, por exemplo. Eles não fazem nenhum tipo de apologia nas apresentações”, diz. 

A Mc Carol, no entanto, quer mesmo é ver a festa acontecer! Ela reconhece que diminuiu bastante a frequência de bailes funk nas comunidades. “A galera está sentindo muita falta. Eles sempre perguntam quando é que vai ter show. Depois da chegada das UPPs deu uma boa diminuída”, comenta. Mas discussão boa mesmo promete acontecer é no palco da UffanfarraOrgia. E a Mc Carol já lançou o desafio: “Quero ver o Yago representar o funk melhor que eu!”.

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Reportagem de Paola Lucas
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