Unidos do Viradouro: a grande campeã é de NiteróiReprodução/Internet
Durante a apuração, o carnavalesco Tarcísio Zanon agradecia cada nota dez, enquanto mexia em suas guias de candomblé. Foi dele a ideia do tema – que veio da força que se manifestou desde épicas batalhas na Costa ocidental da África, e que influenciou as lutas das guerreiras Mino, do reino de Daomé, iniciadas espiritualmente pelas sacerdotisas voduns, dinastia de mulheres escolhidas por Dangbé.
O ex-prefeito de Niterói e atual secretário Executivo, Rodrigo Neves, também foi à Sapucaí. "A Viradouro é minha escola do coração e foi uma honra participar desse desfile deslumbrante, com muito samba e organização. O título foi muito merecido! Cada componente desfilou com garra, mostrando a alegria e a força de ser niteroiense. O Carnaval é cultura, tradição, desenvolvimento econômico e turismo. Muito orgulho da nossa escola e desse título!", destaca Rodrigo Neves.
Babalorixá comenta sobre o vibrante desfile da Viradouro
Bàbá Vitor Friary, que é Sacerdote de Culto Jeje Vòdún e Bàbáláwo no Culto a Orúnmìlà Ifá e Doutorando no Centro de Estudos Africanos no IUL, analisou o desfile da escola de Niterói.
“Em uma noite inesquecível, sob o céu estrelado do Rio de Janeiro, a Unidos do Viradouro presenteou o público com uma performance arrebatadora no Carnaval de 2024, em uma homenagem vibrante ao candomblé jeje e a figura emblemática de Ludovina Pessoa. A escola, conhecida por sua criatividade e inovação, transcendeu expectativas ao dar vida à rica tradição do candomblé Jeje, um pilar fundamental na formação do candomblé brasileiro, com raízes profundas que remetem ao poderoso reino do Daomé.Desde o início do desfile, as alegorias e fantasias vislumbraram todos os presentes, transformando a avenida em um espetáculo de luzes, cores e emoções profundas. A atenção meticulosa aos detalhes foi evidente em cada elemento, desde os vibrantes e intrincados figurinos até as monumentais e artisticamente concebidas alegorias que narravam visualmente a história e a cultura do candomblé jeje.Entre os destaques do desfile, estavam os famosos Zambetos, gigantes guardiões noturnos, que dançavam e encantavam, evocando a proteção espiritual e a força ancestral. Suas presenças imponentes, com fantasias que capturaram a essência de sua origem mitológica, trouxeram um ar de mistério e reverência, iluminando a avenida com sua magia e esplendor”, disse ele.
Para o estudioso do tema, A serpente sagrada do Daomé, o Vodun Dan, foi outra manifestação espetacular na avenida, representada através de uma alegoria monumental que serpenteava entre os foliões com uma graça divina. “Essa representação vibrante e simbólica capturou a essência da renovação, fertilidade e proteção, elementos centrais no candomblé jeje, e deixou a multidão em absoluto fascínio. A Viradouro, com seu desfile, não apenas celebrou a beleza e profundidade do candomblé jeje mas também prestou uma homenagem digna à Ludovina Pessoa, cujo legado na fundação e propagação desta tradição religiosa no Brasil foi enfatizado com reverência e admiração. A escola conseguiu, com maestria, entrelaçar os fios da história, da fé e da cultura, em uma tapeçaria visual que falou diretamente aos corações de todos que testemunharam este espetáculo”, explicou ele. “A performance da Unidos do Viradouro no Carnaval de 2024 será, sem dúvida, lembrada como um dos momentos mais emocionantes e significativos na história dos desfiles do Rio de Janeiro. Ela não apenas homenageou uma tradição espiritual rica e complexa, mas também celebrou a diversidade cultural brasileira, mostrando ao mundo a força e a beleza da nossa herança africana”, concluiu.
Quatro escolas de samba apresentaram recurso contra a Unidos do Viradouro. Elas alegaram que a agremiação de Niterói excedeu o limite de 15 componentes que podem se apresentar na comissão de frente. A medida descumpre o artigo 26, inciso 9, das obrigatoriedades, o que pode implicar na perda de meio ponto. Entre as que recorreram estão Beija-Flor, Imperatriz e Salgueiro.
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