Niterói: Marcos Sabino, curador do Festival Mar Azul, concedeu o título de Cidadão Niteroiense a Lô Borges, em 2022Divulgação

Niterói - A relação entre o já saudoso cantor e compositor mineiro Lô Borges e a cidade de Niterói transcende o simples fato de o músico ter morado na cidade: ela está profundamente entrelaçada com a criação de um dos álbuns mais icônicos da música brasileira, o Clube da Esquina. Foi na tranquilidade da Praia de Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, que Lô, ao lado de Milton Nascimento e outros parceiros, deu forma a uma obra que redefiniu os rumos da MPB. A parceria entre Lô Borges e Milton Nascimento, iniciada ainda na juventude em Belo Horizonte, encontrou em Niterói um novo capítulo. A confiança e cumplicidade entre os dois se refletiram nas composições que marcaram gerações.
Em 1971, Lô Borges se instalou em Piratininga para trabalhar na gravação do álbum Clube da Esquina, lançado em março de 1972. A escolha do local não foi por acaso: a paisagem serena e inspiradora da praia oferecia o ambiente ideal para a experimentação musical que o grupo buscava. Ali, entre violões, letras poéticas e arranjos ousados, nasceu uma sonoridade que mesclava MPB, rock, jazz, psicodelia e música mineira. A cidade de Niterói, com sua atmosfera artística e acolhedora, tornou-se um refúgio criativo para Lô.
O cantor, compositor, amigo e fã de Lô Borges, Marcos Sabino, também é gestor público da cultura no município e falou com exclusividade ao O DIA Niterói sobre a morte de Lô -- que foi o primeiro artista a subir no palco da primeira edição do Festival Mar Azul, com curadoria de Sabino, em 2022.
"Quando ele veio para se apresentar no festival, a primeira coisa que fez foi ir para o local e procurar a casa onde moraram, em 72. Ele me ligou e eu fui lhe mostrar a casa, depois fomos almoçar no seu Antônio e ele estava muito emocionado em voltar a Niterói, além da homenagem que estávamos fazendo ao Clube da Esquina e sua história com a cidade. O show foi lindo e lhe entreguei o título de cidadão niteroiense, concedido na minha gestão de como vereador", disse Sabino. "Tenho certeza que o show do Beto Guedes, na 4a edição do Festival Mar Azul, será muito emocionante por tudo que viveram na cidade. A homenagem a Lô vai acontecer em vários momentos do festival. A Simone também tem uma profunda ligação com a musica do Clube da Esquina", contou o curador do festival.
A Prefeitura reconheceu essa ligação ao prestar homenagem ao artista após sua morte, destacando sua passagem por Piratininga como um marco na história cultural da cidade. E Milton, ao homenagear Lô após sua partida, afirmou que ele foi “uma das pessoas mais importantes da vida e obra” do cantor.
Lô Borges faleceu em 2 de novembro de 2025, aos 73 anos, em Belo Horizonte, após complicações de saúde. Sua morte gerou comoção nacional, e em Niterói, a lembrança de sua estadia e contribuição artística permanece viva. A cidade se despediu de Lô com carinho, reconhecendo-o como um dos “grandes gênios da música brasileira”. Mais do que uma residência temporária, Niterói foi palco de um momento decisivo na carreira de Lô Borges. A cidade guarda, em suas memórias e paisagens, o eco das melodias que ajudaram a moldar o Clube da Esquina — um álbum que continua a influenciar músicos e ouvintes até hoje.