Está marcado para esta quarta-feira o depoimento dos 25 policiais acusados de participar do massacre do Carandiru. O julgamenbto dos militares entra em seu terceiro dia nesta quarta-feira, no Fórum da Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo.
Os réus apresentarão a versão deles sobre o que aconteceu no segundo andar do Pavilhão Nove, em outubro de 1992. É possível que aconteça o ocorreu no primeiro julgamento em abril deste ano, quando apenas parte dos réus se manifestou.
Na terça-feira, os depoimentos de duas testemunhas ouvidas pela defesa e mantidas sob sigilo por pedido da advogada de defesa Ieda Ribeiro, não puderam ser acompanhados pelos réus e por jornalistas, alegando que facilitaria a identificação dos depoentes.
Fleury: 'Daria ordem da PM entrar'
A terceira testemunha de defesa ouvida nesta terça-feira, na segunda etapa do julgamento do Massacre do Carandiru, foi o governador na época, Luiz Antônio Fleury. O ex-governador reiterou as declarações fornecidas durante o primeiro julgamento ocorrido em abril. Ele informou que não estava na capital paulista no dia do massacre, mas, se precisasse, teria dado a ordem de ingresso da Polícia Militar no Pavilhão 9 do presídio.
“A responsabilidade política da decisão era minha. No meu governo não tinha preso jogando futebol com cabeça (de preso morto) e com polícia assistindo”, disse ele.
Fleury lembra que os fatos ocorreram na véspera das eleições municipais, e ele estava na cidade de Sorocaba, interior do estado. Ele contou que percorria a cidade com um candidato do município. Fleury disse ter recebido informações sobre a ocorrência de uma rebelião em São Paulo, mas que “as coisas estariam sob controle”, disse. Como não existia celular naquela época, havia dificuldade de comunicação.
Depois do almoço, o ex-governador relatou que decidiu retornar a São Paulo de helicóptero. Porém, naquela tarde chuvosa, a viagem que era para durar apenas 20 minutos, durou 1 hora. “Cheguei no Palácio dos Bandeirantes e já haviam ocorrido os fatos, a entrada da PM”, disse ele.
Em contato por telefone com o secretário de Segurança Pública na época, Pedro Franco de Campos, recebeu a informação de que havia três juízes de Direito presentes no presídio. As circunstâncias descritas pelo ex-secretário, segundo Fleury, indicavam que a entrada da PM era necessária. “A polícia tinha obrigação legal de agir”, declarou.
Massacre de 111 mortos
No dia da rebelião, havia 1,2 mil presos no Pavilhão Nove. Fleury disse que os números sobre mortos que chegavam, naquele momento, eram desencontrados. “No final, o secretário foi me informando do número de mortes e eu fui dormir com a ideia de 60 mortos. No dia seguinte, quando fui votar, a imprensa me indagou se eram mais de 100. Disse ao secretário para dizer [a quantidade de mortos] só quando tivesse certeza”, disse.
A quantidade real de mortes, 111, só foi divulgada após o fechamento das urnas eleitorais. Fleury destacou, porém, que não houve intenção de abafar esses dados. “Simplesmente houve dificuldade em saber o número de mortos, por isso só foi divulgado no dia posterior”, disse ele.
Toda a ação para reprimir a rebelião resultou em 111 detentos mortos e 87 feridos e ficou conhecida como o maior massacre do sistema penitenciário brasileiro.
Após o intervalo para o almoço, o Tribunal do Júri continua com a oitiva de uma testemunha protegida e a exibição de dois vídeos com depoimentos gravados durante a primeira parte do julgamento, em abril deste ano.