Brasília - A demissão do ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, foi entendida pela presidente Dilma Rousseff como uma maneira de amenizar o “constrangimento” provocado pela operação de fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina. A decisão pela saída do chanceler do governo foi tomada na última segunda-feira, dia 26, após a presidente passar o dia em conversas com auxiliares para avaliar o tamanho do impacto do episódio na imagem do governo.
Dilma, segundo um ministro, passou o dia tranquila. Mas mostrou-se particularmente incomodada com o fato de Patriota alegar desconhecimento da operação, implantada com ajuda do diplomata Eduardo Saboia. Patriota estava com viagem marcada para a Finlândia, onde cumpriria agenda oficial, e cancelou a agenda externa após a notícia sobre a fuga vir à tona, neste fim de semana.
Nas conversas que teve ao longo do dia, a presidente comentou que o resultado diplomático do episódio só não foi mais grave porque não houve nenhum imprevisto. Auxiliares apontam, por exemplo, que o caso poderia ter tido desdobramentos muito mais graves se as autoridades bolivianas tivessem interceptado o carro que transportou o senador da Bolívia para o Brasil.
O entendimento no governo foi o de que o caso deixou Patriota numa situação extremamente desconfortável, além de abrir uma nova frente de críticas ao governo federal. Nas discussões, apareceu a avaliação de que a presidente Dilma mal começou a recuperar a popularidade após os protestos ocorridos em junho e agora se vê em meio a um incidente diplomático.
Dilma chamou Patriota ao Palácio do Planalto somente no início da noite. O anúncio foi feito por meio de nota oficial, na qual a presidente disse ter aceitado o pedido de demissão do chanceler. A relação da presidente com o chanceler já dava sinais de desgaste, o que teria contribuído para tornar a permanência de Patriota insustentável. Dilma agradeceu a "dedicação" e o "empenho" do auxiliar pelos dois anos em que permaneceu no cargo.
Molina viveu por mais de um ano na embaixada brasileira na Bolívia e a operação de fuga, segundo fontes do Itamaraty, foi inteiramente implantada por Saboia. A fuga contou também com a participação direta do senador Ricardo Ferraço, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Ainda segundo interlocutores no ministério, Patriota mantinha uma relação de confiança com Saboia.
Seguindo um roteiro parecido com o aplicado em outros casos de demissão no primeiro escalão, Dilma só anunciou a demissão após ter definido quem seria o substituto. O novo chanceler será Luiz Roberto Figueiredo, que hoje é representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU). Patriota assumirá o posto que hoje é de Figueiredo.
O novo chanceler foi escolhido em grande parte pelo trabalho que realizou durante a Rio+20. Com fama de ser linha dura, o novo ministro deve chegar ao Brasil amanhã e deve tomar posse já no fim desta semana.
As informações são de Clarissa Oliveira e Wilson Lima