Brasília e La Paz - No mesmo dia em que a presidenta Dilma Rousseff deu posse ao novo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, o presidente da Bolívia, Evo Morales, pediu, de La Paz, que o Brasil “devolva” o senador boliviano Roger Pinto Molina. Acusado de corrupção, o parlamentar foi condenado a um ano de prisão em seu país, diz que é vítima de perseguição política, e sua fuga no fim de semana foi a causa da substituição do chanceler Antonio Patriota.
“É importante devolver Roger Pinto à Justiça boliviana, e que ele seja julgado como qualquer outra autoridade que esteja envolvida em casos de corrupção. É importante que o governo do Brasil explique o motivo dessa operação, e estamos esperando uma resposta oficial à nota diplomática mandada pela chancelaria boliviana. Eu poria esse corrupto na fronteira”, disse Morales ontem.
O presidente se referiu à retirada da Bolívia do senador de oposição por Eduardo Saboia, diplomata que era o encarregado de negócios do Brasil na embaixada da Bolívia. A viagem, em carro diplomático brasileiro, de La Paz a Corumbá (MS) levou 22 horas, e Saboia agora é acusado de ter agido sem consultar seus superiores.
Pinto Molina ficou mais de 450 dias asilado na embaixada do Brasil na capital da Bolívia enquanto a diplomacia brasileira negociava com a boliviana a concessão de salvo-conduto, o que não aconteceu. De Corumbá, o boliviano foi para Brasília, onde está, de avião particular.
Mas Morales, que chama o senador de “foragido da Justiça”, atribuiu o imbróglio a “grupos conservadores” do Brasil que “querem criar enfrentamento entre a Bolívia e o governo brasileiro”.
Sobre o destino de Pinto Molina, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, explicou ontem que a permanência ou não no Brasil será avaliada pelo Comitê Nacional para Refugiados (Conare), presidido pelo Ministério da Justiça, e que a decisão será “técnica” — ele terá que provar que é perseguido pelo governo boliviano.