São Paulo - A presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Espionagem , senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), criticou a postura oficial do governo dos EUA de considerar natural a "coleta de inteligência estrangeira”. A expressão faz parte da resposta que o Departamento de Estado americano enviou ao iG sobre as denúncias de espionagem que teriam atingido até a presidente Dilma Rousseff .
“Vejo essa postura como muito grave porque, em nome do combate ao terrorismo, eles admitem tudo e a gente pode perceber que nem tudo é feito em nome do combate ao terror. Nós não temos nenhuma tradição de envolvimento com o terrorismo ou mesmo de apoio a qualquer nação que promova atos de terror. Não havia e não há qualquer justificativa dessa intervenção e dessa espionagem que o Brasil vem sendo vítima”, considerou.
Na mensagem enviada ao iG , o Departamento de Estado declarou que responderá por meio de canal diplomático as cobranças de explicações sem, no entanto, detalhar as “atividades de inteligência específicas”.
"O governo dos EUA vai responder por vias diplomáticas aos nossos parceiros e aliados. Embora não estejamos dispostos a comentar publicamente todas as supostas atividades de inteligência específicas, como política deixamos claro que os EUA coletam inteligência estrangeira do tipo coletado por todas as nações", diz a mensagem do Departamento de Estado.
O breve comunicado é encerrado com a afirmação de que o governo dos EUA "valoriza" a cooperação com aliados. "Valorizamos a nossa cooperação com todos os países em questões de interesse mútuo", diz a mensagem.
Para a senadora, a postura fere a autonomia do país. “Isso é muito grave. Nós partimos da premissa da autonomia, da independência de cada país e do convívio equilibrado, democrático e harmônico entre as nações”, criticou.
A senadora citou também que até os organismos internacionais são obrigados a respeitar as legislações de cada país, por isso, a espionagem não se justifica. “Nenhum desses organismos internacionais multilaterais passa por cima das legislações de cada país. Para que um país, por exemplo, adote uma das resoluções das Nações Unidas (ONU), é preciso que, internamente, aprove uma lei dizendo que pode aderir”, exemplificou.
Nesta terça-feira, outros parlamentares reforçaram o coro contra o governo americano. "É inaceitável qualquer tipo de interferência externa no Brasil, principalmente de um país como os EUA, que se proclama defensor da democracia", disse o líder do PT no Senado, Wellington Dias (PT-PI).
Relator da CPI, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) disse considerar "intolerável" o grau de violação das instituições brasileiras. "Sem qualquer toque de ingenuidade, estamos chegando a um nível de espionagem intolerável. Na prática, o que está acontecendo é que sob o manto do combate ao terrorismo, espiona-se o governo brasileiro a fim de obter informações privilegiadas", disse.
Apesar da reação de parlamentares, o governo evitou comentar as afirmações. O Itamaraty e o Ministério da Justiça afirmam que pretendem aguardar o posicionamento do governo americano por "vias diplomáticas". Na segunda-feira, o governo fixou um prazo de uma semana para que o governo de Barack Obama dê esclarecimentos .
As informações são da repórter Luciana Lima