São Paulo - Novas escutas telefônicas entre bandidos que fazem parte da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que age dentro e fora dos presídios, foram interceptadas pelo Ministério Público de São Paulo e revelam ameaças de mortes contra policiais, agentes penitenciários e ex-integrantes da facção. Em uma das interceptações, a ameaça de extermínio total da família de um delator considerado como traidor pelo grupo é revelada. As ameaças também se estendem à facções aliadas do Rio, com o objetivo de impedir a realização da Copa de 2014 no país.

Durante três anos o Ministério Público realizou uma investigação minuciosa sobre o planejamento das facções e denunciou cerca de 175 suspeitos. No entanto, a Justiça negou a prisão imediata. Os processos serão reavaliados por um colegiado de desembargadores.
O Tribunal de Justiça de São Paulo deverá decidir se 35 presos apontados como líderes do PCC devem ser transferidos para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), presídio de segurança máxima situado em Presidente Bernardes.
Em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, neste domingo, o procurador-geral de Justiça de SP, Márcio Elias Rosa, disse que "o Estado e a sociedade não estão reféns do crime organizado". Ele afirma que as investigações que estão em andamento demonstram a capacidade que o estado tem de reagir e desarticular de maneira sistemática toda a quadrilha.
Sobre as ameaças de ataque contra a Copa de 2014, o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, informou que "não há motivo para alarmismo" Segundo ele, "até agora não há nenhum elemento concreto que indique a existência de um plano real", afirmou.
Criação de estatuto do crime organizado
Segundo o Ministério Público, os criminosos tem um estatuto de conduta, elaborado em 2011, que deve ser seguido por todos os integrantes. Caso um deles não cumpra as leis, terá sua vida exterminada.
"Aquele que vier a mexer com a nossa família terá sua família exterminada. Vida se paga com vida e sangue se paga com sangue." As regras são repassadas por celular e segundo o estatuto: "O preço da traição é a morte e que toda missão destinada deve ser concluída.”
De acordo com o Ministério Público, o documento foi criado por Roberto Soriano, de 36 anos, mais conhecido como Tiriça. O criminoso foi transferido para o presídio federal de Porto Velho, em Rondônia, mas ainda é visto como um dos líderes das facções.
Tiriça afirma durante um telefonema com outro traficante que tem planos para impedir a Copa de 2014 e acrescenta que se for necessário, quadrilhas do Rio fortalecerão o crime. Segundo o estatuto este tipo de parceria é necessário para não enfraquecer o PCC: "O crime fortalecer o crime. Esta é a ideologia", diz parte do documento.
Ameaça de morte ao governador de SP
Entre as denúncias que vieram a público desde a última semana, inclusive as ameaças de morte ao governador Paulista Geraldo Alckmin e de infiltração de membros do PCC em manifestações para matar PMs, Alckmin disse que uma “força-tarefa” formada por policiais civis e militares, além de promotores irão atuar “24 horas por dia” no Cisp (Centro Integrado de Inteligência em Segurança Pública). O objetivo é rastrear as ligações telefônicas de presos e denúncias de envolvimento de policiais com a facção. A infiltração em manifestações seria uma represália da facção à medida do governo de isolar os principais líderes do bando no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).
Alckmin acrescentou ainda que está acelerando o processo licitatório para instalações de bloqueadores de celular nos presídios. "Já está aberto o pregão para bloqueadores de celular em 23 penitenciárias. Esperamos concluir o processo licitatório agora em novembro e em dezembro começar as instalações", disse.