Prefeitura de São Paulo começa a desmontar favela da Cracolândia
'Não temos pressa de acabar essa ação, isso está indo no ritmo deles, sem violência', disse assistente social
Por clarissa.sardenberg
São Paulo - Usuários de crack que vivem na favela montada na região da Cracolândia, na capital paulista, começaram a ser removidos nesta quarta-feira pela prefeitura. Os dependentes estão sendo encaminhados para hotéis próximos, onde vão receber alimentação, e terão duas horas diárias para tratamento médico, além do trabalho de quatro horas por dia em operações de limpeza da prefeitura.
A favela da Cracolândia, localizada na Alameda Dino Bueno, região central da capital, tem 147 barracos com 300 moradores. “As pessoas todas foram se acumulando aqui nesses barraquinhos, que se transformaram na favelinha da Cracolândia, porque elas estavam alojadas em prédios que foram demolidos”, explicou o secretário municipal de Saúde, José de Filippi Junior.
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De acordo com o secretário, a prefeitura disponibilizou 400 vagas no programa. Nesta terça, aproximadamente 100 pessoas se anteciparam e já deixaram os barracos. A expectativa é que mais 100 se mudem hoje para os hotéis. “Não estamos com pressa, estamos fazendo de forma organizada, respeitando o ritmo das pessoas”, explicou.
Cada usuário vai receber bolsa de um salário mínimo e meio, o que inclui os gastos com alimentação, hospedagem, além do pagamento de R$ 15 por dia de trabalho. Os dependentes não são obrigados a fazer tratamento, mas passarão por uma avaliação médica.
A secretária municipal de Assistência Social, Luciana Temer, informou que o pagamento aos hotéis será renovado mensalmente e que não existe prazo determinado para que cada usuário permaneça nos locais. A assistência social, explicou ela, tem conversado com as famílias e, só depois da concordância, os barracos são desmontados. “Não temos pressa de acabar essa ação, isso está indo no ritmo deles, sem violência”, disse ela.
Patrícia Almeida Cardoso, de 42 anos, conta que mora na Cracolândia há um ano. Usuária de crack há mais de cinco anos, ela aprovou a medida e disse que está disposta a começar a trabalhar. “Queria trabalhar, não consigo trabalho porque tenho passagem [ela é ex-presidiária]. Eu não roubo, só cato latinha”, disse.
Outro usuário que não quis se identificar disse que usou crack durante oito anos, mas parou em 2008. “Quem quer parar, para”, disse. Apesar de não usar mais a droga, ele conta que continuou na Cracolândia com a mulher e um filho de um ano e quatro meses por falta de opção de moradia. Ele, que também é ex-presidiário, cumpriu pena por tráfico de drogas e conta que está otimista com o programa. “Vai ser melhor do que ficar na rua, porque lá ninguém te rouba”, acrescentou.